A recente eleição de Friedrich Merz como Chanceler da Alemanha trouxe à Europa uma onda de expectativas e surpresas positivas. Merz, líder da União Democrata Cristã (CDU), venceu as eleições com uma margem significativa, mas sem maioria absoluta. Porém, após a sua tomada de posse, tem assumido um conjunto de posições públicas muito sensatas, o que no atual contexto global – e sobretudo europeu – é motivo de larga esperança.

Merz, de 69 anos, tem um percurso político e profissional muito interessante. Formado em Direito pela Universidade de Bonn, iniciou sua carreira como juiz e advogado corporativo antes de ingressar na política a tempo inteiro, em 1989, quando foi eleito para o Parlamento Europeu. Após cumprir um mandato, foi eleito para o Bundestag, em 1994, onde se destacou como especialista em política financeira. Em 2000, perdeu a liderança do partido para Angela Merkel, o que o levou a afastar-se da política por vários anos. Durante esse período, Merz fez fortuna como advogado e consultor, tendo passado pela BlackRock Germany, pelo banco HSBC e pelo board da reputada consultora EY Germany. Retornou à política em 2021 e, três anos depois, tornou-se líder da CDU.

Merz é conhecido pelas suas políticas conservadoras. A sua posição sobre uma imigração mais rigorosa é uma das propostas políticas que tem gerado mais controvérsia, assim como a sua posição sobre a necessidade de investimento e reforço da política de defesa europeia. Outra proposta que tem gerado hesitações, internas e externas, é a sua disponibilidade para discutir a segurança nuclear com o Reino Unido e a França.

Estou certo de que o novo governo de Merz gostaria de aumentar significativamente os gastos com a Defesa e também de relançar a economia alemã através de uma expansão orçamental, mas tal pode estar comprometido com os potenciais parceiros de coligação (SPD e Verdes).

A estagnação do crescimento, a incerteza orçamental, os riscos geopolíticos, os elevados custos energéticos e a crise do setor automóvel são alguns dos principais obstáculos para o novo Governo. As projeções de crescimento para 2025 são sombrias, com o PIB real previsto para expandir apenas 0,3%, de acordo com a Goldman Sachs. O Bundesbank projeta um aumento ainda mais modesto, de 0,2%, enquanto o Instituto de Kiel prevê uma estagnação total.

Mesmo neste contexto de baixo crescimento, Merz promete revitalizar a economia alemã através de reformas estruturais e de incentivos à inovação. Também apresentou planos ambiciosos para a política energética, incluindo um possível retorno ao uso de energia nuclear, o que seria uma mudança importante em relação às políticas anteriores. Só esta medida poderia reduzir as emissões de carbono da Alemanha em cerca de 15% até 2030.

Apesar das promessas, Merz enfrenta desafios consideráveis. O primeiro desafio é a formação de uma coligação governamental que viabilize a execução das suas políticas. Além disso, a sua postura firme sobre questões de imigração inclui controlos mais rigorosos nas fronteiras e o aumento das deportações. Aparentemente, e segundo pesquisas recentes, esta política de imigração é apoiada por cerca de 60% dos eleitores alemães.

No atual contexto internacional, penso que é muito positivo termos uma liderança forte na Alemanha, dado o preocupante défice de lideranças europeias. E, no espaço da direita moderada, é justo e compreensível reconhecer que Friedrich Merz representa uma nova era para a Alemanha, com potencial para grandes mudanças e melhorias. Ademais, a Alemanha – o designado “motor da Europa” – pode beneficiar da visão de Friedrich Merz, que alia a experiência política a uma expressiva experiência profissional.

Em síntese, a capacidade de Merz em formar alianças e em executar as suas políticas será determinante para o sucesso do seu governo, para o crescimento económico da Alemanha, e para o futuro da Europa.

Nota: Enquanto escrevia este artigo de opinião, dei por mim a pensar no percurso político e profissional de Friedrich Merz e na recente discussão que tivemos em Portugal sobre o nosso primeiro-ministro, Luís Montenegro. E, a dada altura, coloquei a seguinte questão – muito legítima nos dias que correm – se alguém com o percurso político e profissional de Merz tinha condições para ser primeiro-ministro em Portugal? Será que parte do País não se colocava aos berros a discutir os eventuais conflitos de interesse do primeiro-ministro com uma das maiores gestoras de ativos do mundo, com um poderoso escritório de advogados, com um banco internacional ou com uma reconhecida consultora internacional? Ao que chegámos em Portugal. Tudo é motivo de perseguição e suspeição. Provavelmente, na cabeça de muitos, o ideal é termos políticos sem passado ou sem qualquer experiência profissional.