A união faz a força. Vindos de uma região do mundo que está em tensão há várias décadas, quatro amigos dão o exemplo de que a amizade consegue superar barreiras e criar projetos ambiciosos.
Os amigos são dois israelitas e dois palestinianos que compraram terras no Alentejo e em 2020 juntaram-se para apostar na construção sustentável.
Este verão vão abrir a maior fábrica mundial de blocos de cânhamo em Portugal em Ourique, distrito de Beja, num investimento de 800 mil euros pela sua empresa, a Cânhamor.
Pela equipa de Israel alinham Elad Kaspin (na foto) e Omer Ben Zvi; pela equipa da Palestina, Khalid Mansour e Azmi Afifi. O projeto arrancou com um investimento inicial de um milhão de euros, e vai ganhar escala este ano com a nova fábrica.
“A nova unidade vai revolucionar o setor da construção em Portugal e no Mundo, dado que os ECOblocos de cânhamo reduzem, significativamente, a pegada carbónica na edificação de infraestruturas modernas, uma vez que são feitos a partir de materiais 100% naturais”, segundo comunicado da dte, empresa do dstgroup, especializada em instalações especiais e que está envolvida neste projeto.
Esta unidade vai fazer o tratamento do cânhamo, a divisão da planta em diversas matérias-primas, e depois produzir os blocos para construção. Enfrenta a concorrência do cimento, que é mais barato e mais conhecido pelos construtores, mas o caminho faz-se andando.
Entre as vantagens apontadas, destaca a maior eficiência energética dos edifícios, devido ao elevado desempenho térmico, reduzindo o consumo energético em climatização e melhorando o conforto térmico. E há outra vantagem, aponta a empresa: é que o cânhamo captura grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) durante a fase de crescimento.
“Os ECOblocos irão permitir uma construção mais sustentável, dado que o cânhamo absorve grandes quantidades de CO₂ durante o seu cultivo, e os blocos resultantes têm propriedades que contribuem para a eficiência energética dos edifícios. Para além disso, devido aos seus componentes, os ECOblocos são um material de construção que não gera desperdício em obra, recorrendo a um material altamente eficiente em termos energéticos, que vem juntar alvenaria e isolamento num só produto”, segundo a dte que fica responsável pelo fornecimento, transporte e montagem de materiais e equipamentos referentes a instalações elétricas e de AVAC.
Num terreno com mais de 57 mil m2, cedido pela câmara Municipal de Ourique, a empresa espera criar 30 postos de trabalho.
Atualmente, a companhia produz entre 4 mil a 10 mil blocos por mês, o suficiente para construir três casas, mas a fábrica vai aumentar a produção para 120 mil blocos/mensais.
A ideia é usar cânhamo produzido localmente, sendo que agora é comprado no exterior. “Não existia fábrica porque não havia cultivo e não existia cultivo porque não havia fábrica. Temos a oportunidade e o privilégio de quebrar este ciclo”, disse Elad Kaspin à “BBC” em 2023 que esperava atingir 500 hectares produzidos por agricultores locais dos mil hectares de cânhamo necessários para alimentar a fábrica.
Por sua vez, Ricardo Carvalho, CEO da dte, disse: “Este projeto é mais um exemplo do nosso compromisso com a excelência na engenharia e infraestrutura industrial. A Unidade Industrial de Cânhamor irá contribuir para o desenvolvimento económico e tecnológico da região, e a dte está empenhada em garantir que a sua construção decorra com os mais elevados padrões de qualidade e eficiência. Com esta obra, reafirmamos a nossa posição como um parceiro de referência em projetos de grande escala, apostando na inovação e na sustentabilidade para impulsionar a indústria do futuro”.
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