A Barrick Gold lançou esta semana uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) hostil com vista a criar a maior empresa produtora de ouro no mundo. A informação foi divulgada pela CNBC, que indica o valor de 17,8 mil milhões de dólares (15,6 mil milhões de euros) oferecidos pela multinacional mineira do Canadá, à sua congénere dos Estados Unidos, a Newmont Mining. A Newmont já está sob uma oferta de compra, no valor de dez mil milhões de dólares. Esta última oferta foi feita pela Goldcorp há cerca de um mês. Um negócio que, a concretizar-se, colocaria um ponto final nas negociações para a fusão entre a Barrick Gold e a Newmont Mining.
É uma tentativa desesperada e bizarra de atrapalhar o nosso acordo”, afirmou o CEO da Newmont Mining, Gary Goldberg, antes do anúncio da OPA por parte da Barrick Gold, acrescentando que “este não é o tipo de comportamento que irá atrair investidores que queiram investir em empresas sérias e bem administradas”.
Por sua vez, John Thornton, presidente da Barrick Gold, assume que “não há outra transação na nossa indústria que possa criar um valor melhor para os acionistas e outras partes interessadas do que uma combinação de negócios entre a Newmont e a Barrick” – assim escreveu numa carta enviada ao conselho de administração da Newmont.
A procura mundial por ouro aumentou 4% durante o ano de 2018, para 4.345 toneladas, face ao ano anterior e manteve-se em linha com a média alcançada durante os últimos cinco anos, revelou o relatório do World Gold Council.
Já os bancos centrais adicionaram 651,5 toneladas às reservas oficiais de ouro em 2018. As compras líquidas subiram para o nível mais alto desde o fim da conversibilidade do dólar em ouro, em 1971, à medida que um maior grupo de bancos centrais adotou o ouro como um diversificador.
A procura anual de joias ficou praticamente inalterada: caiu apenas uma tonelada em relação ao ano anterior. Os ganhos na China, nos EUA e na Rússia compensaram amplamente as perdas acentuadas verificadas no Médio Oriente.
Os ETF (produto de investimento criado em 1993 e que pode traduzir-se como fundos negociados no mercado acionista) e outros produtos similares registaram uma acentuada diminuição. A volatilidade do mercado acionista e os sinais de instabilidade económica em alguns dos principais mercados impulsionaram a recuperação global no quarto trimestre, mas a Europa foi a única região a apresentar crescimento líquido ao longo do ano. O investimento em barras de ouro e moedas registou um crescimento anual de 4%. A procura de moedas subiu para atingir as 236,4 toneladas. Em relação às barras de ouro, o valor permaneceu estável em 781,6 toneladas.
Ainda de acordo com o relatório do World Gold Council, no quarto trimestre do ano passado verificou-se uma queda de 5% pela procura deste metal precioso, devido à desaceleração nas vendas de smartphones, à guerra comercial entre a China e os Estados Unidos e à crescente incerteza sobre o crescimento económico global.
Em debate na África do Sul
Segundo a agência noticiosa norte-americana Bloomberg, as produtoras de ouro tornaram-se no assunto mais falado da Cidade do Cabo, na África do Sul. Durante anos, as empresas de exploração de ouro ficaram estagnadas e foram evitadas pelos investidores após uma sequência de passos em falso. No entanto, depois do negócio da Barrick Gold o setor ganhou um novo impulso. Reacendeu-se o interesse pelo metal precioso e a especulação sobre qual poderia ser a próxima transação tomou conta do setor.
“Este é um momento empolgante para as produtoras de ouro”, disse Martin Horgan, CEO da Toro Gold, em declarações à Bloomberg. Horgan explicou que, embora os fundos especializados continuem a apoiar as empresas rentáveis, estima que o novo aumento de preço do ouro venha a atrair mais players para o setor.
O ouro sul-africano foi outro dos pontos em destaque da reunião. A produção do metal precioso no país caiu pelo 14° mês consecutivo em novembro, porque o setor enfrenta pressões, desafios geológicos e disputas entre trabalhadores. A maior produtora com sede em Joanesburgo, a AngloGold Ashanti, pondera abrir o capital em Londres e abandonar os seus últimos projetos na África do Sul. Além disso, vários analistas identificaram empresas, como a Kinross Gold, a Iamgold e a australiana Newcrest Mining, como nomes a ter em conta nesta onda de transações.
Por seu lado, a empresa sul-africana Sibanye-Stillwater, uma das maiores produtoras mundiais de ouro, tem preparado um plano para eliminar 6.700 empregos por motivos financeiros e operacionais, segundo fontes da empresa, que foram citadas pela agência Lusa.
O corte afetaria as minas de ouro de Beatrix e Driefontein, no sul do país, e a notícia foi mal recebida pelos sindicatos, que nos últimos meses promoveram greves e protestos para exigir aumentos salariais. Em causa está o despedimento de 5.870 funcionários e a dispensa de 800 contratados independentes.
A Sibanye-Stillwater emprega cerca de 60 mil pessoas neste país africano, sendo uma das mais importantes do setor mineiro. “Se não fizermos isto, as perdas que estamos a registar nestas operações poderiam reduzir a vida de outras operações rentáveis”, disse o porta-voz da empresa, James Wellsted, citado pelo portal noticioso Eyewitness News.
As organizações sindicais exigem melhores salários e criticam as más condições de trabalho, que resultam todos os anos em várias mortes, bem como na ocorrência de acidentes como o que há um ano deixou cerca de mil trabalhadores presos ao longo de quase um dia na mina Beatrix.
Recorde-se que em 2012 várias minas sul-africanas foram cenário de protestos, que começam geralmente com uma greve convocada por um pequeno sindicato considerado ilegal e de posições mais radicais, sendo depois despedidos os mineiros que participam na greve para, por vezes, voltarem a ser readmitidos algum tempo depois.
No caso da Modder East foram despedidos 1.044 trabalhadores após uma greve considerada ilegal, e na mina de platina de Impala, no norte do país, a paralisação iniciada no início do ano durou várias semanas, foram despedidos 17.200 mineiros e houve confrontos de que resultaram três mortos e vários feridos.
Artigo publicado na edição nº1978 de 1 de março do Jornal Económico
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