A descarbonização da economia para combater as alterações climáticas deverá ser um desígnio global, pois só assim se conseguirão atingir os objetivos sem criar distorções entre cidadãos, empresas, países ou mesmo regiões. Não é uma matéria fácil, face às muitas diferenças existentes nas várias economias, nomeadamente em relação ao seu estado de desenvolvimento e consequentes níveis de consumo e eficiência energética.
Por isso eu elegeria esta dimensão global como um dos pilares da descarbonização. Sem ele, os contributos isolados de países, ou mesmo blocos económicos, poderão ser totalmente anulados por atuações menos comprometidas de outros.
Para além disso há os aspetos tecnológicos, sociais e económicos. A ideia de que uma solução satisfaz todas as necessidades não poderá conduzir a bons resultados face à diversidade de situações que enfrentamos. Isto significa que outro pilar da descarbonização é a inclusão de todas as tecnologias e soluções disponíveis, dando-lhes iguais condições para desenvolverem as suas soluções e apoiando, de forma neutra, os esforços de investigação e desenvolvimento necessários.
Num mundo em acelerada mudança, a probabilidade de antevermos com pequena margem de erro o futuro a médio e longo prazo é reduzida. Basta recordar muitas das previsões e planos feitos no passado, nos mais variados setores de atividade e compará-los com a realidade atual. Uma boa percentagem apresenta desvios significativos, havendo mesmo casos de falhanços estrondosos ou, em oposição, afirmações inesperadas. Daí considerarmos que a flexibilidade o terceiro pilar da descarbonização. A capacidade de irmos aprendendo com a realidade e sermos capazes de redefinir prioridades e linhas de ação, ao longo do percurso temporal, é essencial ao êxito desta batalha que deve ser de todos e para todos, e não só de alguns para uns poucos.
Nem todos os cidadãos, empresas, países ou blocos económicos terão a mesma capacidade e meios para investir nesta jornada. Daí ser necessário que os mais ricos e desenvolvidos apoiem os que têm menos recursos, mas que precisam igualmente de participar. A solidariedade será pois mais um dos pilares essenciais.
Poderão estranhar esta abordagem, mas considero que a criação do “clima” de entendimento sobre estas matérias é uma condição indispensável para salvarmos o clima e o planeta. Num próximo artigo voltarei às questões mais concretas em termos de pilares tecnológicos. Se calhar hoje deveria ter-lhes chamado alicerces…