Nas últimas semanas, a vida na Europa, no Mundo e em Portugal tem vindo a decorrer a ritmos muito diferentes.
Por cá, estamos na que promete ser a menos interessante campanha eleitoral de que há memória. Tanto nos debates entre os líderes dos diversos partidos políticos, como no que se vai dizendo na comunicação social (porque não me parece saudável fazer análises do que se lê nas redes sociais).
O que sobressai não são ideias e projectos de futuro que beneficiem o país (que é, ou devia ser, para que servem as campanhas eleitorais), mas sim imputações de irregularidades, acusações pessoais ou pessoalizadas, o uso de estatísticas descontextualizadas e parciais, sondagens interpretadas consoante as preferências de cada um, e o agitar, em termos primários, de frases feitas e imagens negativas sobre os adversários.
É mais uma campanha pela negativa, centrada nas pessoas dos candidatos a primeiro-ministro. E o problema das campanhas negativas e pessoalizadas é que, para além de serem desinteressantes, acabam por conduzir à eleição não do melhor candidato, mas sim daquele que mais portugueses consideram o menos mau. Não é interessante, e é lamentável.
Na Europa, a guerra e a alteração da orientação da estratégia americana levou ao crescente reconhecimento de que é necessário construir soluções que lhe permitam sobreviver e afirmar-se num mundo multipolar, entre várias grandes potências regionais, que coexistirão num quadro de competição mais ou menos hostil, com atritos e fricções localizados e realinhamentos periódicos para promover a recomposição do equilíbrio instável que existirá. E a anterior única superpotência, que assegurava à Europa e a outros Continentes, a paz e a estabilidade porque isso coincidia com os seus interesses geoestratégicos, é agora uma dessas potências.
A Europa vai ter de ultrapassar a actual configuração de Estados-Nação, que nos trouxe até esta situação. Não será tarefa fácil, dadas as diferenças culturais e de desenvolvimento económico e social entre os vários Estados. E levará tempo. Mas é necessário, porque a alternativa é a submissão a (ou a absorção por) outros, seja a Rússia, sejam os próprios EUA. E está a ganhar força a ideia de que Orbán não é o exemplo da divisão existente na União Europeia, mas sim um caso isolado que deverá escolher entre ser arrastado ou deixado para trás.
Pessoalmente, aos cenários de submissão ou absorção por uma potência que ou é de outro continente ou tem uma outra matriz cultural e civilizacional, prefiro a alternativa de participar na criação de uma nova entidade multicultural, que respeite os princípios fundamentais da liberdade, dos direitos humanos, da democracia e da separação de poderes. Este é certamente um tema mais interessante do que a campanha eleitoral portuguesa.
Entretanto, e a ritmo alucinante, desenrola-se a guerra comercial que os EUA lançaram contra o Mundo. É um episódio do regresso da noção de “America First” e de que os únicos interesses atendíveis para os EUA são os dos EUA, e de que as alianças militares ou económicas são instrumentos para serem utilizados se e quando forem úteis, e mediante compensação.
É isso que justifica as ambições relativas à Gronelândia e às terras raras da Ucrânia – e agora aos pipelines que transportam óleo e gás da Rússia para a Europa, que servirá para recriar a situação de dependência energética da Europa – agora de interesses americanos. É interessante, mas nem por isso deixa de ser trágico, e perigoso.