A Igreja Católica existe há milénios e, não obstante a missão divina, nas coisas do mundo pouco lhe será estranho. Os bastidores da Santa Sé sempre foram palco de lutas palacianas, intrigas e até de violência. Rodeados de inimigos reais ou imaginários, os papas da Idade Média adotaram o costume de elevar à púrpura um sobrinho. Este “cardeal sobrinho” (“nipote”, em italiano) era o homem de confiança a quem o papa entregava os assuntos de estado, dando origem ao “nepotismo”.

Felizmente, o nosso Governo não é a Cúria Romana de 1400, mas é difícil não pensar em nepotismo quando vemos dezenas de casos de nomeações de familiares e amigos. E há três conclusões a retirar.

A primeira é que, em ano de eleições, o núcleo duro que controla o Governo e o PS é cada vez mais fechado. Faz sentido: o que fazemos quando não nos sentimos tão seguros como gostaríamos? Cerramos fileiras.

A segunda é que o PS é controlado por pessoas que fazem do serviço público – transitório, por definição – uma carreira como qualquer outra. Não por acaso, o último secretário-geral do PS que teve profissão foi Jorge Sampaio, talvez porque já a tinha antes do 25 de Abril. Porém, ser político não é profissão e não faz sentido falar em alguém ser prejudicado na “carreira profissional”, por ser familiar de governante, como disse Pedro Nuno Santos. Servir a comunidade em funções políticas não é – ou não deveria ser – uma “carreira profissional”. É uma missão de serviço público que nem todas as pessoas têm condições de assumir, por não terem competências ou por as suas circunstâncias pessoais e familiares não o permitirem.

A terceira é que esta situação potencia riscos de vária ordem. Antes de mais, o óbvio, de favorecimento pessoal, de familiares e amigos. Mas sobretudo existe o risco de conflitos de interesse na hora de tomar decisões. O que faria o leitor se tivesse de escolher entre o que é melhor para o país ou para a sua família?