Um apagão geral deixou Portugal às escuras às 11h33 nesta segunda-feira e levou o Governo a declarar a situação de crise energética. Embora o impacto económico não seja totalmente conhecido até que a poeira assente, o apagão, que começou em Espanha, encerrou as economias dos países ibéricos durante o dia, depois de um grande corte de energia ter afetado as linhas telefónicas, o acesso à Internet, os pagamentos com cartão e deixado os cidadãos sem luz. Expôs as populações ao caos com o corte de eletricidade a afetar milhões de pessoas em Espanha e Portugal (e outros países) que dependem fortemente da eletricidade para a maioria das operações do dia a dia.
A rede de comunicações móveis foi uma das primeiras a sucumbir, retirando aos portugueses a capacidade de fazer chamadas ou enviar mensagens. O isolamento foi total, reavivando a consciência de que o nosso modo de vida é, afinal, muito frágil.
Quando a energia elétrica falha em larga escala, pode colocar à prova a nossa preparação para lidar com situações de emergência e fazer os cidadãos sentir uma distopia, num mundo dependente de eletricidade e comunicações.
Inédito na sua dimensão e grave nos seus efeitos com a falha elétrica a provocar constrangimentos nos transportes e no funcionamento dos semáforos, a cancelar voos nos aeroportos e gerar horas de atrasos, e obrigar a ativar planos de contingência nos hospitais, com recurso a geradores.
Mas o apagão terá sido inesperado? Especialistas alertam há anos para o risco, políticos não os quiseram ouvir.
Em 2022, o então diretor-geral da energia avisou o Governo para o risco de apagão: “Estamos em cima de um problema grave”, tendo João Bernardo deixado claro que o sistema elétrico português vive “em cima das cinzas” e em risco de um apagão.
O encerramento das centrais termoelétricas de Sines e do Pego, decorrente das políticas dos últimos governos de taxação às importações de gás natural e combustíveis fósseis, acabou por tornar Portugal dependente das importações de Espanha e França. Basta ver que, em 2022, o sistema elétrico português importou 1.659 milhões de euros em eletricidade, após ter sido um exportador líquido de eletricidade.
No rescaldo do dia de apagão, ficou evidente que enquanto Espanha conta com a ajuda das redes francesa e marroquina, a única interligação internacional portuguesa é com Espanha — que só ficou disponível para ajudar os portugueses ao final da tarde.
Como se viu esta semana, a protagonista foi a central a gás natural da Tapada do Outeiro. Quando a luz se apaga, foi essencial, juntamente com a central de Castelo de Bode, no backup para a segurança do sistema elétrico nacional.
O choque elétrico não deve passar sem apuramento de responsabilidades. Numa altura em que respostas concretas ainda são escassas, urge uma auditoria europeia, como reclama Montenegro, para esclarecer as causas do apagão que deixou o país sem luz durante mais de 10 horas.
Este não é apenas um problema técnico; é um teste à resiliência do continente europeu. É necessário tirar várias lições deste blackout que expôs a dependência crescente da energia elétrica e das redes digitais, revelando que sem elas estamos fragilizados, à beira de um colapso. A rede SIRESP não pode continuar a falhar em situação de emergência e falta melhorar a comunicação com o público neste tipo de episódios disruptivo.
Mais do que um incidente, foi um alerta. E se o apagão tivesse durado mais tempo? A resposta é muito assustadora.