O PIB do 1º trimestre de 2025 (com queda trimestral de 0,5%) foi muito pior do que o esperado, devendo levar a fortes revisões em baixa para o conjunto do ano, abaixo de 2%, inferiores às estimativas da AD (2,4%), do PS (2,3%) e do FMI (2,0%). No entanto, é importante recordar que os valores do 4º trimestre de 2024 (subida trimestral de 1,5%, revisto posteriormente para 1,4%) também foram muito superiores ao antecipado, sendo grandes responsáveis pelo optimismo dos valores para este ano.

Na verdade, se olharmos para as previsões para 2025 em Outubro do ano passado, 2,1% no caso do governo e 2,3% do FMI, as diferenças são menos significativas.

É certo que, entretanto, tivemos a eleição de Trump e as suas medidas desastrosas, que muito prejudicaram a economia mundial, quer pelas novas tarifas, quer pela incerteza. Em suma, a conjuntura internacional deteriorou-se muito nos últimos meses, pelo que é expectável que a economia portuguesa sofra com isso.

É natural que a conjuntura domine o debate público e mediático, mas temos que exigir que as questões estruturais tomem a dianteira na arena política. Não vou entrar directamente nos temas sectoriais, como a saúde, a habitação, a educação, as pensões, etc., mas acabarei por os considerar indirectamente ao escolher o tema do crescimento económico. Se crescermos 2% ao ano na próxima década, como nos últimos anos, teremos um futuro difícil, mas se conseguirmos passar a crescer 3%, teremos mais recursos para a generalidade dos sectores, aliviando as nossas dificuldades.

Não basta olhar para o valor do PIB, mas temos que ver a sua composição, que é um motivo adicional de preocupação. Entre 2015 e 2024, o PIB cresceu em média 2,1%, mas quase só pelo emprego (1,6%) e pouquíssimo pela produtividade (0,6%), ou seja, sobretudo pela quantidade e muito pouco pela qualidade. No início, havia a necessidade de baixar o desemprego, mas posteriormente andámos a criar empregos pouco qualificados e com salários baixos, sobretudo para imigrantes.

Se o PIB só cresce porque temos mais pessoas, então a estagnação dos salários e do nível de vida é inevitável. Estamos a falhar em termos estruturais. Precisamos não só de aumentar o crescimento estrutural, mas sobretudo de mudar a sua composição.

Há um aspecto que quase não tenho visto referido. Temos falta de investimento e grande crescimento do emprego, o que se traduziu numa queda do capital por trabalhador de 10% desde 2015, quando deveria ter subido. Precisamos de resolver ambos estes problemas. Por um lado, investir mais e, por outro, ser muito mais selectivo na atracção de imigrantes. Se continuarmos a atrair sobretudo imigrantes pouco qualificados, iremos ter expansão de actividades pouco produtivas, com salários baixos, e não teremos melhorias nítidas do nível de vida.

Em relação ao aumento do investimento, temos que nos focar no investimento directo estrangeiro de elevada produtividade; diminuir os obstáculos ao aumento de dimensão das empresas, já que quanto maiores, mais produtivas e maiores os salários aí auferidos; e reduzir os custos de contexto (burocracia, licenciamentos, energia, justiça, etc.).

Finalmente, se queremos mudar a agulha e passar o foco para recuperar os emigrantes qualificados que perdemos nos últimos anos, em vez de receber imigrantes com baixa formação, temos que olhar a sério para o problema da habitação, o que ainda não foi feito. Alguém acredita que as autoridades já acordaram – mesmo – para o problema, quando os fogos licenciados aumentaram apenas uns ridículos 6% em 2024 e a construção uns ainda mais baixos 4%?