Esta nova geração — marcada pela incerteza económica e por uma atenção redobrada sobre a saúde mental — entra no mundo profissional com exigências distintas. E, sem dúvida, com escassa tolerância para ambientes que não acompanham esta evolução.
Além disso, a emergência de tecnologias disruptivas, como a inteligência artificial generativa (genAI), está a transformar por completo a estrutura das profissões — desde o tipo de competências exigidas até às dinâmicas das relações laborais.
Muitas empresas, alheias a estas mudanças, mantêm práticas de gestão desajustadas à nova realidade. O resultado espelha-se, pois, num crescente desalinhamento entre aquilo que as organizações oferecem e o que os profissionais valorizam. Importa responder a este quadro desafiante.
A geração que não aceita o “sempre foi assim”
Desde logo, é necessário ter em conta que a geração Z cresceu num contexto marcado pela instabilidade económica, pela proliferação de movimentos sociais e por uma nova consciência em torno da saúde mental.
Este enquadramento moldou, inegavelmente, as expectativas da geração Z no mercado de trabalho, que passam por fatores como:
Acima de tudo, criou uma geração que não aceita a manutenção de práticas desajustadas com base no argumento de que “sempre foi assim”.
E quando estes valores não estão presentes? Além de gerar a desmotivação dos jovens no trabalho, leva-os, também, a abandonar o emprego. A lealdade não se garante, hoje, por tradição ou estabilidade, mas por coerência entre discurso e prática. De acordo com dados recentes, 37% dos trabalhadores da geração Z valorizam mais a satisfação no trabalho do que a segurança ou a remuneração.
De facto, a rotatividade da geração Z no mercado de trabalho evidencia um problema mais profundo: uma cultura organizacional que resiste à mudança. Num contexto em incessante transformação, muitas organizações continuam a nortear-se por lógicas desajustadas, sobretudo no que respeita à gestão de talento jovem.
GenAI: catalisador de mudança ou amplificador do problema?
A integração da inteligência artificial generativa no mundo do trabalho é, certamente, outro dado relevante a equacionar. Por um lado, promete ganhos de produtividade e novas oportunidades. Por outro, esta transformação empurra a geração Z no mercado de trabalho para um território ambíguo.
Esta é, em teoria, uma geração mais preparada para interagir com sistemas tecnológicos inteligentes. A sua capacidade de adaptação e aprendizagem coloca-a, aliás, numa posição privilegiada.
Contudo, a automatização de determinadas tarefas — incluindo as mais qualificadas — poderá tornar certas competências rapidamente obsoletas.
O Fundo Monetário Internacional estima que cerca de 40% dos empregos globais poderão ser afetados pela IA. A percentagem sobe para 60% nas economias avançadas.
Aliás, é precisamente a evolução praticamente diária destas novas tecnologias que dificulta a realização de um plano de carreira sólido para os profissionais que estão a entrar no mercado de trabalho. Algo que se verifica, também, para os trabalhadores já estabelecidos.
A verdade é que a geração Z no mercado de trabalho não procura apenas um emprego — procura um propósito. Funções desprovidas de significado, ou excessivamente mediadas por tecnologia, correm assim o risco de alienar mais esta geração.
Neste contexto, o papel da liderança é ainda mais crítico para evitar a rotatividade nas empresas e promover a retenção de jovens talentos.
Liderança com visão: o que é preciso mudar já
Se a geração Z no mercado de trabalho está a desafiar o status quo, cabe às organizações oferecer uma resposta estratégica e humana. O futuro não se prepara com discursos sobre inovação, mas com práticas concretas que criem ambientes de trabalho positivos, em que os jovens se revejam.
A prioridade deve, por isso, passar pelo investimento em formação e requalificação. Na era da tecnologia, os profissionais precisam de desenvolver competências que a genAI não pode substituir. Em segundo lugar, é essencial ligar o trabalho ao propósito. Se a geração Z procura significado, cabe aos gestores traduzirem os objetivos operacionais em impacto real.
Por fim, será preciso rever a forma como se lidera. Esta geração valoriza a autonomia, mas não dispensa o acompanhamento próximo e o fornecimento de feedback honesto. Ambientes colaborativos, flexíveis e inclusivos, com espaço para aprender e crescer, são hoje uma condição de sobrevivência para as empresas.
A adaptação à geração Z não é uma cedência. Trata-se, sim, de uma estratégia de preparação do futuro. Um futuro que exigirá lideranças capazes de escutar, evoluir e construir com — e para — as pessoas.
Este artigo é da autoria da Gi Group Holding.
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