O Governo de Donald Trump anunciou o fim das restrições aos chips de inteligência artificial (IA). A medida ainda não tinha entrado em vigor, mas iria limitar o acesso de Portugal a chips que são essenciais para alimentar os centros de dados de IA.
A proposta foi desenhada por Joe Biden no final do seu mandato, criando três listas: uma de países com acesso total aos chips; outra de países sujeitos a restrições, nos quais se incluía Portugal; e uma terceira com países impedidos de ter acesso a estes chips.
O Departamento de Comércio anunciou na terça-feira que vai deixar cair os planos desenhados inicialmente por Joe Biden.
São boas notícias para Portugal e para vários países europeus que também tinham sido incluídos na lista.
“A administração Trump vai seguir uma estratégia ousada para que a tecnologia americana de IA seja usada em países estrangeiros de confiança em todo o mundo, mantendo a tecnologia longe dos nossos adversários”, disse o Departamento de Comércio.
Desta forma, o ministro do Comércio norte-americano, Jeffery Kessler, anunciou que serão emitidas ordens a dar conta de que o “uso de chips Ascend da Huawei em qualquer lugar do mundo viola” as diretivas norte-americanas.
Uma das consequências das restrições foi a Merlin Properties ter reduzido um investimento previsto para Portugal, mudando a potência para Madrid, precisamente devido à restrição de chips.
Já Bruxelas congratulou-se com a decisão de Washington, considerando que a legislação anterior “iria minar as relações diplomáticas dos EUA com dezenas de países”, disse Thomas Regnier, porta-voz da Comissão Europeia, ao “Politico”.
Em janeiro, a Comissão Europeia reagiu à imposição de limites e disse que era “do interesse económico e securitário dos EUA que a UE compre chips avançados de IA dos EUA sem limitações”.
Os investidores chegaram a mostrar a sua preocupação com a inclusão de Portugal numa lista de restrições dos EUA à venda de chips da Nvidia, que são cruciais para alimentar os centros de dados dedicados à Inteligência Artificial (IA), conforme revelou o Jornal Económico a 28 de março.
“Há aqui uma grande expectativa. Alguma ansiedade relativamente ao tema” de que os chips não cheguem “para o número de investidores que tenha interesse no nosso país”, revelou ao JE o presidente da Associação Portuguesa de Centro de Dados – Portugal DC, Luís Pedro Duarte. “Para um investidor, é uma barreira”, destaca, apontando que o problema é maior para os projetos hyperscalers, que são os centros de dados vocacionados para a Inteligência Artificial (IA), como o centro de dados de Sines. Nestes projetos, “há uma dependência bastante elevada dos chips da Nvidia”.
“Não percebemos porque é que Portugal ficou assim classificado. É bastante limitativo. Acaba por ser uma limitação”, segundo o gestor. Espanha, aqui ao lado, fica na lista sem restrições e ambos os países estão a concorrer para atrair investimento neste setor.
A decisão foi inicialmente tomada pelo Governo de Joe Biden em janeiro, com as restrições a afetarem 120 países, incluindo aliados dos EUA como a Polónia, Israel, México ou a Suíça. O objetivo era impedir que a China tenha acesso a estes chips, mas a decisão está a ter efeitos colaterais, pois limita as ambições dos países no campo da IA.
Portugal encontrava-se no nível 2 da lista; só os países com nível 1 têm acesso facilitado a estes chips. Por outro lado, há países que ficariam totalmente impedidos de receberem os processadores.
O mais importante investimento em centros de dados em Portugal, a Start Campus em Sines, afastou impacto nesta fase com a limitação à venda de chips da Nvidia pelos EUA. Já nas próximas fases do projeto, a Start Campus admite impacto em alguns clientes.
“Não é um problema neste momento. Os limites não impactam o que estamos a fazer no primeiro edifício”, começou por dizer Robert Dunn, CEO da empresa dona do Sines Data Center Campus. “Pode vir a ter um impacto nos edifícios maiores, mas depende do tipo de cliente. Nos grandes clientes, não deverá ter impacto”, acrescentou o gestor na sexta-feira durante a inauguração da primeira fase do projeto no início de abril.
São mais de 12 mil milhões de euros a ser investidos em Portugal nos próximos cinco anos em centros de dados. A maior fatia (8,5 mil milhões) destina-se ao centro de dados de Sines, com quase quatro mil milhões distribuídos por outros projetos.
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