Depois da comunicação da intenção de venda dos acionistas d’A Padaria Portuguesa há cinco meses, foi anunciado esta semana que o Grupo Rodilla de Madrid acabara de fechar a compra da empresa. Especialista no desenvolvimento de cadeias de restauração e franchising, o Grupo opera 300 estabelecimentos sob cinco marcas complementares e tem como acionista único o Grupo cervejeiro Damm, para quem o Grupo Rodilla é uma peça estratégica no seu modelo de desenvolvimento.
Quando olhamos de perto para esta operação saltam à vista quatro elementos passíveis de oferecer aos stakeholders da cadeia o conforto num futuro auspicioso.
- O ‘fit’ perfeito da Padaria Portuguesa no Grupo Rodilla
Esta é a primeira operação internacional de vulto do Grupo e não surge por acaso. Para além da identidade de cultura e valores entre as duas partes, e o ‘fit’ perfeito da cadeia nacional com os princípios e objetivos do Grupo Rodilla, pesa na operação o potencial de crescimento d’A Padaria Portuguesa nas mãos do Grupo Rodilla – pela alavancagem no know-how de franchising e pela convicção do Grupo de que a cadeia portuguesa é o ativo com maior potencial de internacionalização do seu portefólio.
- A inserção num grande grupo familiar com uma invulgar comunhão de cultura e valores
A CEO do Grupo Rodilla, María Carceller Arce, refere que “tanto A Padaria Portuguesa como o Grupo Rodilla partilham valores fundamentais, (…)e a mesma filosofia de produto e serviço, que permite fortalecer a missão comum de proporcionar experiências excecionais aos nossos clientes”. A CEO integra a família acionista mais poderosa do Grupo Damm, que é em tudo um grupo familiar – a maioria do capital está nas mãos da família Carceller (41,1 %) e do seu parceiro estratégico alemão Dr Oetker (25,0%), enquanto a presidência do Grupo cabe a Domenico Carceller Arce, pai de María.
- Facilidade de acesso a investimento para crescer melhor e mais depressa
Fundada em 1876, a cervejeira Damm ocupa a terceira posição no mercado. Com presença em mais de 130 países, a Damm atingiu em 2023 2,061 milhões de euros de faturação e 300 mil milhões de EBITDA – mais de quatro vezes o Super Bock Group – níveis que anteciparam em dois anos o previsto no seu Plano Estratégico. Com capitais totalmente privados, o Grupo tem toda a liberdade para oferecer amplos recursos para crescimento e internacionalização d’ A Padaria Portuguesa com retorno a médio ou mesmo longo prazo.
O que podem ter em comum dois ativos tão diferentes como joalheira Tiffany & Co de Nova Iorque e A Padaria Portuguesa ? Muito mais do que se pensa… e tudo duma raiz comum.
A LVMH é o maior grupo mundial do mercado de luxo. Com uma faturação superior a 330 mil milhões de euros em 2024, cresceu sempre por aquisição e integração de marcas com forte potencial de valorização. O Grupo mantém desde sempre o seu caráter familiar, controlado pela família do fundador Bernard Arnault, com 49% das ações e 64% dos direitos de voto.
Em janeiro de 2021, a LVMH adquiriu a famosa joalharia norte-americana Tiffany & Co por 15,8 mil milhões de dólares, marcando a entrada do Grupo no mercado de joias de topo e abrindo novas portas no mercado americano. O relançamento da marca mobilizou um forte investimento, mas recuperado em apenas dois anos graças ao aumento de vendas e de margem conseguido.
Mas o que tem a Tiffany & Co a ver com A Padaria Portuguesa? Não obstante as duas operações terem tipologias de negócio e escala financeira radicalmente distintas, emergem semelhanças espantosas resultantes dum modelo virtuoso típico de M&A em grandes grupos familiares. E que semelhanças são essas?
- Significativo potencial de valorização percebido pelo comprador, estimulando ofertas de compra atrativas.
- Potencial da aquisição para explorar uma nova área e acelerar a penetração em mercados externos ou o reforço de mercados estratégicos.
- Comunhão de potencial para fortalecer o ativo adquirido através da partilha com recursos do Grupo – know-how de franchising do Grupo Rodilla vs. deslocação da designer chefe de joias da Cartier para a mesma posição na Tiffany & Co.
- Alterações nas empresas adquiridas respeitam os seus valores tradicionais e procuram resgatar elementos do passado para fortalecer a identidade da marca.
- Os dois Grupos compradores, LVMH e Damm, são assumidamente familiares e dotados de uma liderança carismática, forte e ambiciosa.
- Apetência para o investimento numa ótica de médio a longo prazo.
- Rapidez na tomada de decisão – qualquer das operações foi feita em poucos meses.
Assim, apesar dos negócios serem tão distintos, do paralelismo entre as duas operações de aquisição emerge um padrão comum simplesmente porque são ambos grupos familiares virtuosos. Um padrão partilhado por centenas de grupos familiares focados em aquisições.
Quanto à Padaria Portuguesa, foi bafejada por um comprador quase perfeito. Para além da cultura e valores, do espírito de família alargada, da capacidade de investimento e da rapidez de decisão tão característicos dos grupos familiares, o Grupo Rodilla mostrou inteligência na perceção do potencial da cadeia, generosidade na oferta (fala-se num múltiplo de EBITDA entre 10 e 14), respeito pela visão estratégica dos dois fundadores e compromisso com as aspirações de crescimento internacional. Um excelente negócio para os fundadores d’A Padaria Portuguesa, que deixa o seu legado em muito boas mãos.