O país vai a votos neste domingo e as eleições que, aparentemente, ninguém queria, vão decidir a 18 de maio as contas da governabilidade. Ou seja, menos quem fica em primeiro e mais quem garante essas condições. Marcelo já sinalizou que quer evitar uma situação em que é indigitado o primeiro-ministro do partido mais votado sem a certeza de que o respetivo programa será viabilizado no Parlamento, o que forçaria a um governo em gestão até março do ano seguinte, com o país a marcar passo à espera do próximo chefe de Estado.
O secretário-geral socialista garantiu já que Marcelo pode ficar descansado, porque um governo liderado pelo PS será de diálogo e de estabilidade, com Pedro Nuno Santos a querer dizer que está disposto a governar com um executivo minoritário e esperar que a AD lhe facilite as intenções, tal como ele fez com o governo de Montenegro.
Ao mesmo tempo, PNS recusa reeditar a “geringonça”, mesmo que seja apenas de incidência parlamentar. Resta saber se esta declaração de intenções não passa disso mesmo, com vista ao líder socialista reciclar apenas a sua imagem de homem de esquerda e reposicionar-se mais ao centro.
É, pois, fundamental saber se o vencedor do escrutínio vai conseguir governar sozinho, ou se precisa de outra força partidária para formar uma coligação.
Se o vencedor for a AD, o país aguarda “uma boa dupla” com o líder da IL, admitida por Montenegro há dias entre o final de um jogo de vólei de praia e de um mergulho em Espinho. O líder do PSD aponta Rui Rocha como parceiro mais aceitável para uma coligação de governo, mas sempre com o CDS. Veremos na noite de 18 de maio se os principais responsáveis destas duas forças políticas estarão dispostos a isso.
Nas contas finais, fica por saber até que ponto a votação no Livre poderá ajudar o PS a formar uma coligação maioritária, se o resultado do Livre confirmar as sondagens que indicam como sendo o mais votado dos pequenos partidos da esquerda, tendo o seu líder, Rui Tavares, definido como objetivo superar a Iniciativa Liberal. Assim, IL e Livre poderão fazer pender a balança para qualquer um dos lados.
É nesta equação, com lados opostos do espectro político, que entram os eleitores. As suas escolhas recairão sobre dois modelos: uma economia fortemente regulada do projeto do PS, que aposta no desagravamento do IRS para a classe média, enquanto à direita se defende uma economia mais livre, prometendo-se reduções de imposto transversais e retomando a bandeira eleitoral da redução do IRC, rejeitada à esquerda.
Com os dois últimos atos eleitorais a resultarem de crises de ética e seriedade por parte dos protagonistas políticos, minando a confiança dos eleitores e adiando as decisões estruturais, instalou-se a lógica da sobrevivência política com foco no curto prazo e custos económicos que deitam por terra os compromissos a médio e longo prazo.
A incerteza crónica é inimiga do investimento e do crescimento económico. Portugal não pode continuar paralisado pelo ruído. Precisa de um novo compromisso com o seu próprio futuro, que não se define por decreto. É hora de fazer reboot no pensar a governabilidade para sairmos deste beco.