Estas não são as mais cativantes eleições legislativas de que nos podemos lembrar nos mais recentes tempos. Como reconhecem os principais candidatos a formar governo, os eleitores estão cansados e zangados. Seja por causa do debate fechado sobre a inenarrável Spinumviva, que por estes dias já seria a mais conhecida empresa portuguesa não tivesse este nome impronunciável, ou a ausência de medidas concretas para resolver problemas concretos, por exemplo na saúde ou na habitação. Uns criaram-nos ou deixaram que se instalassem, outros mostraram que, afinal, não se resolvem de uma penada.
Arrastamo-nos penosamente à espera de domingo e do regresso à vida do dia a dia e a uma qualquer normalidade que permita decidir e não esperar, quando de dentro da campanha para as legislativas salta a campanha para as presidenciais. Por alguma razão obscura, Henrique Gouveia e Melo considerou que o melhor tempo para confirmar o enterro do tabu da sua candidatura presidencial era este, cinco escassos dias antes das legislativas. Claro que foi alvo de críticas vindas de todos os quadrantes da sociedade, a começar pelos partidos em campanha, desestabilizada por uma corrida justificada pela estabilidade.
Se a ideia era mostrar a total e completa separação dos partidos e dos seus tempos, regista-se que Gouveia e Melo extravasa até os processos eleitorais, confundindo-os. Resta desejar que os eleitores cansados e zangados sejam menos independentes, não se distraiam com atropelos eleitorais e sejam mais apegados ao direito a escolher quem os governa do que ao chamamento de um continuado festejo de uma vitória no campeonato ou de um domingo de sol, que parece que vai fazer bom tempo.