O ar é o elemento mais vital à nossa sobrevivência. Conseguimos sobreviver algumas semanas sem comer, alguns dias sem beber, mas apenas alguns minutos sem respirar. Um adulto respira em média 25 mil vezes e os seus pulmões inalam cerca de 11 mil litros de ar por dia, aproximadamente 7 a 8 litros por minuto. Se olharmos para uma vida inteira, falamos de mais de 300 milhões de litros de ar.
O ar que respiramos tem um impacto direto na nossa saúde e no ambiente. A poluição atmosférica é um dos maiores desafios da atualidade, pelo impacte que apresenta no surgimento e agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares e para as alterações climáticas. A Organização Mundial da Saúde estima que sete milhões de mortes anuais sejam atribuídas à poluição do ar, tornando essencial a adoção de medidas eficazes para reduzir as emissões de poluentes. Poluentes como partículas finas, dióxido de azoto e ozono troposférico afetam a saúde humana.
Além disso, a poluição do ar tem impactos significativos nos ecossistemas, contribuindo para a acidificação do solo e a degradação da biodiversidade. Os níveis de poluição do ar são influenciados por fatores naturais, como poeiras provenientes do Saara, mas as atividades humanas, como o tráfego rodoviário e a queima de combustíveis fósseis em geral, são os principais responsáveis pelo agravamento do problema.
Melhor qualidade do ar em Portugal, mas aquém do necessário
A qualidade do ar tem vindo a melhorar progressivamente em Portugal. Porém, os níveis estabelecidos pela legislação europeia, ao longo dos anos, têm procurado aproximar os níveis de poluição dos valores recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de modo a reduzirmos o risco para a saúde. Temos no nosso país ainda um longo caminho a percorrer, principalmente nos centros urbanos das grandes cidades onde, nalguns locais como na Avenida da Liberdade em Lisboa, ainda ultrapassamos valores-limite atualmente em vigor.
Este desafio obriga a mudanças estruturais em diversos setores como os transportes, a gestão de resíduos, a agricultura, e ainda em alguma indústria. Ao mesmo tempo, é crucial reduzir as emissões de gases com efeito de estufa responsáveis por um aumento de temperatura, cuja tendência está acima do desejável limite de aumento de 1,5 graus Celsius, em relação à era pré-industrial.
Um dos primeiros passos é informarmo-nos sobre a qualidade do ar com que convivemos no nosso dia-a-dia e estarmos particularmente atentos a situações de maior risco, habitualmente alertadas pela comunicação social, como sejam picos de concentrações de partículas de eventos, que acontece com o transporte desde o Norte de África ou decorrentes de incêndios. Também associadas a incêndios, ou apenas em dias quentes, poderemos ter valores muito elevados de ozono de superfície ou troposférico que poderão levar a cuidados das populações mais sensíveis, se for comunicada a ultrapassagem do limiar de informação, ou de toda a população se se tratar do limiar de alerta, devendo-se procurar permanecer na habitação e acima de tudo não efetuar exercício ou esforços físicos fora de casa.
Os dados de monitorização da qualidade do ar permitem-nos acompanhar em permanência a qualidade do ar que sabemos ser muito condicionada pelas condições meteorológicas que se estiverem a verificar. A qualquer hora, através de uma aplicação específica para telemóvel (QualAr) ou através de um sítio dedicado com a mesma informação na internet (qualar.apambiente.pt), ficamos a conhecer qual o índice de qualidade do ar que se verifica ou que está previsto para o dia seguinte nas capitais de distrito.
Estando conscientes da importância de uma excelente qualidade do ar, é fundamental marcar as prioridades para ajudarmos na redução das emissões dos poluentes atmosféricos, incluindo as emissões dos gases com efeito de estufa. Antes de irmos diretos às medidas direcionadas mais exclusivamente à poluição do ar, é bom termos consciência que os problemas de ambiente resultam na maior parte do excesso de consumo de bens e do desperdício associados.
Recorrermos a uma mudança de paradigma do nosso comportamento no que respeita à sustentabilidade com objetivo de vivermos apenas com o suficiente, assegurando uma boa qualidade de vida e bem-estar, é um contributo enorme de cada cidadão individualmente. Dar prioridade ao usar e não ao ter. Percebermos que cada bem que adquirimos tem uma pegada material e energética que poderia ser em muito diminuída. Privilegiar a hierarquia da redução, reutilização e reciclagem. Lembrarmo-nos que reduzir o uso de combustíveis fósseis no automóvel ou substituindo equipamentos a gás por alternativas mais limpas e eficientes a eletricidade, é um duplo contributo para a melhoria da qualidade do ar e para o clima.
Prioridade à redução das emissões atmosféricas rodoviárias
Se os níveis mais elevados de poluição verificados em Portugal estão nos locais de tráfego rodoviário, é nesse setor que temos de fazer a diferença. A nossa prioridade deve assim ser abandonar o uso do automóvel tanto quanto possível, recorrendo em parte, ou na totalidade dos trajetos, ao uso dos transportes públicos. Deixar os filhos na escola recorrendo ao automóvel por não ter qualquer alternativa, não deve levar ao uso do automóvel durante todo o resto do dia, se tiver outros meios disponíveis nos restantes percursos.
É certo que em muitas zonas do país, usar o transporte público não é fácil por não estar disponível para responder às necessidades de parte da população. Porém, em muitos casos, há já uma oferta vasta de alternativas de mobilidade mais sustentável, com custos mais reduzidos e com vantagens que passam também pela melhoria da saúde. Podemos recorrer à chamada mobilidade ativa e suave, fazendo percursos a pé ou de bicicleta, recorrendo a sistemas partilhados de trotinetes ou bicicletas, inclusive elétricas.
Optar por um veículo elétrico reduz muito a poluição do ar, mas não a sua totalidade. O desgaste dos pneus, as partículas que se levantam aquando da sua passagem ou emitidas pelos travões não deixam de ser um contributo para a poluição do ar. Mais ainda, devemos ter consciência que a construção do veículo tem um peso significativo em termos materiais e de energia, sendo que a pegada de um veículo elétrico até é maior na construção que a de um veículo a combustão, nomeadamente por causa da bateria.
É certo que depois em termos de operação, principalmente se a eletricidade utilizada for predominantemente de fontes renováveis como é o caso em Portugal, o ganho é enorme em comparação com um automóvel com motor de combustão. Escolher um veículo mais pequeno é também um contributo muito importante. Os veículos elétricos são uma grande ajuda, mas não deixam de ocupar muito espaço numa cidade, sendo causadores na mesma de congestionamento.
Evitar a poluição do ar é tomarmos decisões tão a montante quanto possível e avaliarmos os enormes benefícios que podem existir no médio e longo prazo em termos de custos e de outras vantagens.