A 5 de outubro de 2012, entrei na Aula Magna para assistir ao Congresso Democrático das Alternativas (CDA). Ainda não tinha consciência da importância desse evento e de como constituiu um ponto de viragem, ao procurar compromissos comuns de convergência para resgatar o país num momento de forte contestação social nas ruas contra a austeridade e a Troika.
Os participantes do CDA compreenderam a urgência do momento político e cerraram fileiras nesses anos de manifestações massivas e defesa do Estado Social. Mais tarde, foi possível abrir caminho à solução governativa da Geringonça.
Treze anos depois, estamos perante um novo teste político de uma gravidade ainda maior. Vale a pena refletir sobre as enormes perdas que a esquerda registou, em termos globais, nas últimas eleições. Se há algo que este ato eleitoral provou é que a maioria da esquerda não conseguiu afirmar-se como uma alternativa de governação – os eleitores não confiaram nas suas lideranças, prioridades ou linhas de ação.
Não basta denunciar a existência de um partido fascista, tal como não basta a mensagem de que a extrema-direita e a direita vão destruir o Estado Social, ao terem alcançado os dois terços necessários para uma revisão constitucional. E também não basta pregar aos convertidos. Se as pessoas sentem que as suas condições de vida já se degradaram substancialmente, e continuam sem ver melhorias significativas, não será o papão do fascismo a demovê-las de votarem numa mensagem que promete mudar tudo, para o bem ou para o mal.
Não basta culpar os média, há todo um trabalho que ainda precisa ser feito no terreno, fora das nossas bolhas e redes sociais. Chegou a altura de um novo Congresso Democrático das Alternativas, adaptado aos tempos atuais. A História mostrou que não é impossível e está ao nosso alcance um compromisso comum, mesmo sendo hoje mais difícil enfrentar a máquina oleada da internacional fascista que pretende derrubar os pilares da nossa democracia. E que seja possível através desse Congresso, e outros que virão, redesenhar novas linhas de ação, convergir em políticas públicas que verdadeiramente retirem as pessoas do modo de sobrevivência, mas sem nunca abdicar dos princípios e valores.
Repensemos a luta de classes, a luta identitária, as lutas que entenderem, pois agora uma luta se sobrepõe a todas as outras: fazer com que as pessoas deixem de viver mal para passarem a viver bem. Só então a esquerda será alternativa.