Sempre que o País enfrenta uma adversidade atípica, o sector da distribuição dá mostras da sua indispensabilidade.

No dia 28 de abril, o país foi assolado por um inédito e inesperado “apagão”, que deixou a população sem energia durante largas horas. Uma vez mais, como na pandemia, o setor esteve à altura do desafio:  as empresas associadas da APED – Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição responderam às necessidades imediatas das famílias, assegurando-lhes os serviços e bens de primeira necessidade essenciais para fazer face à falta de energia.

Apesar das perturbações verificadas, com o regresso do fornecimento de energia, os retalhistas retomaram o funcionamento normal das suas lojas, assegurando a reposição de grande parte dos produtos e cumprindo todos os procedimentos relativos à segurança dos seus colaboradores e clientes, e bem como a segurança alimentar onde aplicável.

Esta circunstância acabou por contagiar o mote sob o qual gravitou a última edição do APED Retail Summit, na passada quarta-feira: ‘Liderar o Futuro’. Conhecido por antecipar transformações, observar cuidadosamente os comportamentos do consumidor, optimizar a eficiência e fomentar o conhecimento e a inovação, o sector da distribuição, seja alimentar ou especializada, é um dos motores da actividade económica em Portugal e na Europa, impulsionando mudanças e acelerando tendências.

Os números recentes conferem substrato a esta fórmula: num inovador estudo de impacto setorial, apresentado e divulgado pela APED, em parceira com a Nova SBE, resulta que por cada um milhão de euros de valor acrescentado bruto pelo setor do comércio a retalho, o impacto económico dos efeitos indiretos e induzidos é superior a três milhões de euros.

De forma direta, o volume de negócios das empresas associadas da APED, 32,4 milhões de euros, equivale a 12% do PIB, que se traduz no emprego de 149 mil colaboradores, e num parque de 4800 lojas espalhadas por todo o país.

São conhecidos os desafios da sustentabilidade, inteligência artificial, retenção de talento, os aumentos das matérias-primas, dos transportes, a necessidade de investimento constante e até as questões ligadas à segurança alimentar. Mas a estes mais específicos do nosso setor, somam-se hoje os conflitos militares e as tensões geopolíticas.

A edição do APED Retail Summit decorreu num tempo em que assistimos quase em direto à provável criação de uma nova ordem internacional. É um tempo único, obviamente com grande potencial de disrupção, mas também de novas oportunidades. É um tempo também para a Europa afirmar as suas mais valias e que exigirá novas competências e orientações. Há menos de um ano, ainda antes das eleições norte-americanas, foi conhecido o relatório de Mario Draghi sobre o futuro da competitividade europeia.  Este, juntamente com o relatório Letta sobre o mercado interno, são pilares que nos podem orientar nestes novos tempos.

Tanto mais quando é também de Bruxelas que nos chegou nos últimos anos um autêntico “tsunami regulatório”, com Diretivas e Regulamentos que, muitas vezes, não têm em conta a realidade de quem vive as operações diárias, e que nos pedem para executar num curto espaço de tempo.

A APED tem procurado uma descompressão nas obrigações de reporte não financeiro que ameaçam paralisar as empresas do retalho e de todas as atividades económicas. O recente pacote Omnibus é um bom sinal, mas não chega. Para além da redução do âmbito, excluindo as PMEs, e do adiamento de prazos, precisamos mesmo de uma revisão do sistema de reporte, para torná-lo mais eficiente, simples e sem redundâncias.

No centro de todos os nossos desafios estão sempre as nossas pessoas, um dos quatro eixos da visão estratégica apresentada por esta direção da APED. Numa actividade económica de trabalho intensivo, esta é e será sempre a principal prioridade do sector: trabalhar intensamente quer na promoção e desenvolvimento de novas competências dos nossos trabalhadores, quer na retenção de talento. Entre 2018 e 2023 as empresas associadas da APED criaram 20.000 postos de trabalho, e por cada trabalhador no setor do retalho, são impactados cerca de 3 trabalhadores na economia nacional.

A colaboração é um dos pilares da nossa forma de estar na sociedade. Essa colaboração materializa-se na forma como contribuímos para toda a cadeia de valor do sector, adotando boas práticas que promovem a eficiência, e na promoção da produção nacional. No actual contexto económico e social, a promoção da economia circular e do combate ao desperdício alimentar têm constituído duas das nossas bandeiras. Na economia circular assumimos um compromisso coletivo de descarbonização das atividades do sector até 2040 e no combate ao desperdício alimentar apresentámos propostas de alteração legislativa que podem contribuir ainda mais para reduzir a perda de alimentos.

Numa altura em que a incerteza se torna a única certeza e onde temas como a cibersegurança ou o envelhecimento da população surgem como riscos transversais à actividade das empresas, especialmente na União Europeia, precisamos de novas abordagens e de soluções que preparem quer as empresas, quer as pessoas, para lidar com esta nova realidade e atenuar os impactos económicos e sociais que possam vir a ocorrer.

O APED Retail Summit procurou corresponder aos novos tempos e lançar as sementes para o futuro. Neste fórum debatemos contributos, estimulámos a reflexão e apresentámos soluções para o retalho. O seu papel enquanto pilar da economia e da sociedade portuguesa e europeia justifica amplamente a sua realização. Acreditamos que o sucesso do evento estimula a continuidade do trabalho que queremos que envolva e mobilize cada vez mais os principais actores desta fileira.

A APED vive para os seus associados para a defesa do setor. Ontem como hoje, a unidade do sector é sintomática da sua capacidade e mobilização.