Trump avançou com a BBB, a (One) Big Beautiful Bill. Quem feio ama, bonito lhe parece. Esta lei basicamente torna permanentes os cortes fiscais do seu primeiro mandato, que agora expirariam, além de reforçar Defesa e controlo de fronteiras.
O seu custo orçamental é estimado pelo Congressional Budget Office em 3,8 milhões de milhões de dólares nos próximos dez anos, financiados por dívida pública, que já é mais de 36 milhões de milhões de dólares, acima de 120% do PIB de acordo com a FRED da FED de Saint Louis; em 2000 era seis milhões de milhões, 14 em 2010 e 27,7 em 2020 (4,5 devido ao Covid). Esta dinâmica fez a Moody’s tirar o rating da dívida americana, que não é sustentável, de AAA, depois da S&P em 2011 e a Fitch em 2023. O serviço da dívida já é o maior item do orçamento dos EUA, cujo défice triplicou para 1,8 milhões de milhões desde 2017.
É aqui que jogam as tarifas. As tarifas equilibrariam este aumento de despesas, direta (receita dos impostos alfandegários) e indiretamente (relocalizações nos EUA). A isto juntar-se-iam cortes de despesa, mas que o CBO estima no máximo em 1,5 milhões de milhões. Note-se que o Committee for a Responsible Federal Budget eleva o impacto líquido a 3,1 milhões de milhões, tal como seis prémios Nobel numa carta de dia 2.
Face à subida da taxa nas obrigações a 30 anos, que ultrapassou os 5% devido ao aumento do risco – surge contra a correlação positiva histórica entre crescimento económico e juros (até aqui os juros subiam quando a economia acelerava, não quando desacelera) – o Secretário do Tesouro disse domingo que os EUA nunca incumprirão o pagamento do serviço da dívida.
Mas as dúvidas sobre a BBB são muitas. Após dias de discussão passou na House por um voto, depois da pressão do Presidente e com dois republicanos a votarem contra. Resta ver o que vai acontecer no Senado (os republicanos só têm uma maioria de três), que pode fazer alterações importantes ao projeto de lei, coisa que Trump não quer.
Mas mesmo as tarifas têm-se revelado de difícil implementação, e as ameaças de Trump são a regra, a última à Apple: tarifa de 25% nos iPhone não produzidos nos EUA; os dotes diplomáticos de Tim Cook estão à prova.
Tudo isto quando ninguém sabe o que Trump dirá amanhã, nem o próprio, e a quem, depois de Harvard, fará guerra, o que instalou a confusão na política americana. Jeffrey Sachs disse que chumbaria Trump na sua cadeira na Universidade, pois “even Mickey Mouse would know better”. Quem queria ele insultar, Trump ou o rato?