Todas a religiões têm os seus rituais. O mesmo acontece com a religião climática que obriga os Estados-membros a mandarem para Bruxelas os seus PNEC – Planos Nacionais de Energia-Clima, aos quais eu chamo INEC-Intenções Nacionais de Energia e Clima, tal o irrealismo dos mesmos!

Eu e o Prof. Clemente Pedro Nunes, elaborámos pela SEDES um parecer sobre o PNEC feito pelo actual governo em que dizíamos designadamente:

– Não se tratar dum Plano Energético, mas apenas dum exercício obsessivo de redução do CO2 num pais que emite apenas 0,11 % do CO2 mundial e integrado na UE, que emite apenas 7% do CO2 mundial;

– Aposta excessiva nas renováveis intermitentes em que mais renováveis, produzindo apenas cerca de duas mil horas por ano, vão produzir uma energia de que não precisamos, afundando ainda mais os preços no mercado grossista;

– Uma completa loucura querer investir em eólicas offshore, caríssimas e com uma tecnologia imatura, estando todos os países a protelarem tais projetos: no solar devia-se ir para projetos desconcentrados junto dos consumidores, em vez dos megaprojetos, que são um atentado ao ordenamento do território;

– Ausência de preocupações com a segurança de abastecimento e com as questões de estabilidade na rede no contexto da grande componente de renováveis;

– Chamada de atenção que a substituição de geração clássica rotativa por renováveis torna o sistema mais vulnerável e com menos inércia mecânica;

– Ausência de preocupações quanto ao equilíbrio instantâneo potência-consumo que tem sempre de se verificar numa rede elétrica;

– Conceito de potência firme ignorado, esquecendo as fontes que garantem a energia em momentos críticos.

Esse parecer tinha preocupações premonitórias sobre o que aconteceu no apagão. Neste, percebeu-se que as comunicações e os transportes não tinham Planos de Continuidade para operarem sem a energia da rede e o disaster recovery da rede elétrica portuguesa demorou demasiado tempo, pois os grupos preparados para arrancarem sem a energia da rede falharam várias vezes o arranque.

Já imaginaram a loucura do Tudo Elétrico com uma sociedade e uma economia completamente dependentes do sistema elétrico? Já imaginaram um apagão em que as forças de segurança e a proteção civil apenas têm veículos elétricos…?

O encosto fácil à rede espanhola e sucessivos governos que só pensavam no CO2 e nas renováveis intermitentes deixaram o país totalmente impreparado!