Na mais recente conferência anual da CMVM, a Comissária Europeia Maria Luís Albuquerque traçou um desígnio para a União Europeia – desbloquear o dinheiro parado nos depósitos à ordem e a prazo, que pouco rendem, e redirecioná-lo para o investimento. Esta é uma estratégia ambiciosa e, ao mesmo tempo, perigosa, uma vez que essa liquidez pode voar para os mercados americanos.
A Comissão Europeia tem de perguntar quais as razões que levam os europeus a não investirem, e quando o fazem porque é que, na maioria dos casos, escolhem o mercado norte-americano. A resposta não é difícil. Um cidadão europeu que queira investir tem inúmeros obstáculos pela frente.
Primeiro, tem de vencer o obstáculo psicológico de entrar no mercado financeiro, depois a burocracia e os inúmeros documentos de “proteção ao investidor”, que apenas servem para dar cobertura às instituições financeira em caso de perda, e, por último, enfrentar o pesadelo da autoridade tributária.
Sabia que é mais fácil ter acesso a uma menor tributação investindo nos EUA do que na Europa? Em caso de dividendos ou de cupons de títulos de dívida, o investidor europeu que invista nos EUA será apenas tributado a 15%, enquanto na Europa a tributação pode ser até 50%. O investimento em literacia financeira é, pois, crucial.
Porquê? Para explicar, por exemplo, o que é o efeito tempo e capitalização. Os nossos cérebros estão pensados para a soma (raciocínio linear) e não multiplicação (raciocínio exponencial), pelo que não adianta dizer às pessoas para investirem sem perceberem o porquê e para quê. E não são necessários mais estímulos fiscais ou produtos como o Plano de Poupança Europeu. Mais uma vez, incorre-se no risco de criar produtos sem estudar a causa do problema. Os europeu não investem, mas não é por falta de produto!
Cabe aos Estados fazerem mais e, aqui, Portugal tem a oportunidade única de dinamizar o seu mercado de capitais. Um exemplo. O projeto Parque Cidades do Tejo, que envolve o investimento de mais de 25 mil milhões de euros, considerando o novo aeroporto, pode ser o pilar para a refundação do mercado de capitais português. São terrenos, concessões, investimentos em infraestruturas, passíveis de cotação no mercado de capitais, o que iria desenvolver o mercado de ações e de dívida.
A participação dos privados nestes moldes obriga a uma transparência ímpar e ao escrutínio que todos queremos num projeto desta natureza. E que deverá competir com as cidades emergentes no Médio Oriente, que demoram 5/10 anos a estarem construídas e não 50 anos.
A Europa tem de mostrar que está também ela a competir pelo talento, pelos jovens e pela sustentabilidade da nossa sociedade. Reduzamos a dependência dos bancos e tenhamos a ambição de criar a Nova Iorque europeia. Eu invisto!