(In memoriam de Francisco Pereira de Moura)

Na passada terça-feira, dia 3 de junho, a Ordem dos Economistas realizou a Conferência sobre o tema “Portugal e o futuro: que reindustrialização? “In Memoriam de Francisco Pereira de Moura.

A Conferência, teve lugar no ISEG – a Escola onde o Prof. Moura se formou como Economista e se tornou referência maior. O evento compôs-se de três momentos distintos, mas todos convergindo para a reflexão em torno dos significados de reindustrialização e de nova política industrial. Termos, hoje utilizados para enquadrar conceptualmente as respostas que estão a ser dadas pelos diferentes países, com relevo para a Europa, aos desafios colocados pelas transformações estruturais em curso na economia global, resultantes da emergência de novas potências, como a China, mas também a Índia e outras economias asiáticas. Transformações que têm vindo a pôr em causa as hegemonias económicas tradicionais, particularmente na sua expressão maior – os Estados Unidos.

Num primeiro momento, homenageou-se a figura académica, profissional e cívica do Prof. Moura, por ocasião da passagem do centenário do seu nascimento, em 17 de abril passado. O Elogio esteve a cargo do Prof. Américo Ramos dos Santos, discípulo que se transformaria em colega, que salientou, entre outros aspetos, os contributos essenciais dados pelo homenageado para as ideias desenvolvimentistas que se afirmaram em Portugal no final dos anos 50 e que se traduziram em políticas de desenvolvimento industrial e de abertura da economia, enquadradas numa perspetiva estratégica que se materializou nos chamados Planos de Fomento, que se estenderam de 1953 até ao 25 de abril e que se iniciou com a infraestruturação elétrica do País, impulsionada pelo ministro da Economia, José Ferreira Dias, Engenheiro Mecânico de formação e Bastonário da Ordem dos Engenheiros, entre 1945 e 1947.

Num segundo momento, discutiu-se a industrialização e  a reindustrialização em Portugal, focada nas experiências em curso, nas questões do financiamento e nas políticas de incentivos, sem esquecer a questão central do sistema fiscal e da necessidade de uma reforma profunda e coerente. A perspetiva histórica, de mais longo prazo, foi igualmente introduzida, salientando-se, em diferentes épocas, os desafios que se colocavam ao desenvolvimento do País e os constrangimentos que impediam, as respostas mais prementes. Uma perspetiva que deve constituir referência para a análise e intervenção no momento presente.

Por fim, num terceiro momento, procedeu-se à entrega de diplomas e cédulas profissionais, aos novos membros Seniores e Conselheiros, pretendendo-se com esta cerimónia afirmar simbolicamente o papel dos Economistas – de que o Prof. Moura é referência paradigmática – na modernização estrutural da economia portuguesa, nos planos macro e micro, e o papel da Ordem na regulação do exercício da profissão, na certificação e garantia de competência técnica e responsabilidade ética, dando razão de ser ao seu papel, enquanto instituição, de defesa do interesse público.

Permito-me, a finalizar, salientar a convergência verificada em torno da necessidade de repensar estrategicamente a economia portuguesa, de introduzir o planeamento estratégico, no quadro de uma parceria entre o Estado e o sector empresarial e da recuperação de instituições capacitadas para executar, fora dos ciclos políticos curtos, as orientações estratégicas definidas. Tudo isto, sem esquecer que Portugal está integrado na União Europeia e na zona euro e que, tendo presentes os seus objetivos específicos e o seu próprio papel na definição dos objetivos e identidade desta comunidade económica e política, será neste quadro que as respostas aos desafios da economia global terão de ser encontradas.