O afastamento de Pedro Reis do novo Governo foi uma negra surpresa que nos atingiu como uma toalha molhada na cara. Inegavelmente uma das estrelas dos catorze meses do Governo anterior, juntamente com Miguel Pinto Luz ou Fernando Alexandre, Pedro Reis foi uma lufada de ar fresco e de esperança para toda a esfera da economia nacional privada – empresários, associações ou investidores.

E não admira. Num Governo em que praticamente todos os membros vêm do meio académico, têm licenciaturas humanistas e/ou são políticos de carreira, o perfil de Pedro Reis destacava-se. Licenciado em Gestão, com pós graduações nas mais reputadas universidades europeias e americanas, desenvolve uma longa carreira na atividade privada (serviços e indústria) antes de aceitar a presidência do CA da AICEP, que exerce de 2011 a 2014. Seguem-se mais de sete anos em cargos de topo no Millennium BCP ao mesmo tempo que ocupa várias posições não executivas em prestigiadas organizações públicas e privadas. Depois de ter um papel chave na campanha da AD, aceita em abril de 2024 o convite para ministro da Economia. Uma escolha aplaudida em todos os meios empresariais e nos setores mais dinâmicos da administração pública, muitos sob a sua tutela.

Acrescem dois outros fatores que tornam a decisão do primeiro-ministro incompreensível. Primeiro, se o Governo como clama está apostado na Reforma do Estado e até cria um Ministério exclusivamente dedicado ao tema, descartar uma das poucas pessoas do executivo com provas dadas nesta área é difícil de entender. Tem este novo ministro a capacidade de acabar com o contrassenso da Parpública por exemplo? E segundo, concentrar a Economia na Coesão Territorial é menorizar ainda mais o motor do desenvolvimento do País e exprime o resultado da visão académica predominante no executivo – os fundos são seguramente muito importantes mas são um instrumento operacional, a gestão da Economia é muito mais do que isso: é estratégica, é abrangente e determina a aplicação dos fundos. Como dizia e bem Pedro Reis em tantos e tão certeiros discursos a que assistimos.

As pessoas próximas nunca pouparam elogios a Pedro Reis: Competente, conhecedor das empresas, credível, promotor do setor privado e do investimento, com visão internacional, agregador, empenhado, sério “, “Um homem de visão e de ação, carismático, afável e próximo das pessoas “ ou “um lutador empenhado com uma notável capacidade de mobilização das pessoas para executar fosse o que fosse”. E o que fez em 14 meses fala por si. Numa publicação no Linkedin, elenca as oito conquistas do seu legado deixando-nos a sonhar com o que poderia ter conseguido nestes próximos quatro anos.

A questão que hoje todos os que o admiram colocam é: porque saiu afinal? O Jornal Económico adiantava “Pedro Reis queria mais força mas Montenegro tirou-lhe o tapete”, numa alusão ao desejo de Pedro Reis ver o poder do seu Ministério reforçado mas que o primeiro-ministro evita, alarmado por um relatório que expõe o atraso nos fundos PRR e por um comunicado infeliz onde o BPF de Pedro Reis é dissimuladamente exposto. Uma publicação no Linkedin de Fátima Alves, jornalista da RTP, vai mais longe advogando que Pedro Reis “foi honesto mas assinou a sua sentença de morte”  quando disse publicamente que “poderia haver no futuro um défice orçamental”, quando o primeiro-ministro e o ministro das Finanças diziam enfaticamente o contrário, rematando a jornalista “os mais sérios são sempre os mais sacrificados”.

Seja qual for a razão, a conclusão que tiramos da saída do ministro Pedro Reis é triste. Primeiro, a visão e a capacidade de liderança do primeiro-ministro são colocadas em causa. Segundo, neste Governo não parece que a competência e a seriedade imperem, mas antes o alinhamento com a voz do primeiro-ministro e o jogo de cintura que permite parecer que se faz muito sem fazer nada. Isto não é nada de novo, mas é preocupante para tantos que esperam que a AD cumpra a promessa de reformar o Estado, revitalizar a Economia e melhorar a vida dos portugueses. Se falhar, as consequências serão desastrosas – perdemos mais quatro anos e, pior do que isso, vamos cair na boca do lobo.