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Sete Magníficas: crescimento deve continuar nos próximos trimestres mas a um ritmo mais brando

Analistas consultados pelo Jornal Económico (JE) esperam um bom crescimento das sete magníficas no segundo trimestre embora fique abaixo dos resultados do primeiro trimestre. Projeções referem que os resultados deste grupo de empresas aumente 14%, no segundo trimestre, face aos 9,4% do índice de referência.
23 Junho 2025, 07h00

As sete magníficas (Alphabet, Meta, Amazon, Microsoft, Tesla, Nvidia, Apple) devem continuar a crescer nos próximos trimestres, dando seguimento aos fortes resultados apresentados no primeiro trimestre, embora o ritmo deva ser mais brando, como avançam os especialistas consultados pelo Jornal Económico (JE).

Recorde-se que este grupo de empresas reportou aumentos nas receitas, e também nos seus lucros líquidos e operacionais de 12,1%, 27,5%, e 17,2%, no primeiro trimestre do ano.

O head of trading do Banco Carregosa, João Queiroz, considera que existe uma “probabilidade significativa” de que o crescimento das receitas e dos resultados das sete magníficas desacelere no segundo trimestre.

“Este cenário é particularmente plausível considerando o aumento da competitividade da China, que está a desenvolver as suas próprias competências tecnológicas (um esforço intensificado pelo impacto do “chips act” que visa restringir o acesso da China a tecnologias de ponta de semicondutores), e a potencial resposta da União Europeia às tarifas alfandegárias que poderão ser impostas pelos Estados Unidos, o que poderia penalizar a balança de serviços da UE, tradicionalmente deficitária com os Estados Unidos”, defende João Queiroz.

O head of trading do Banco Carregosa salienta que este possível abrandamento das sete magníficas encaixa também nas revisões em baixa por parte de vários organismos no que diz respeito aos crescimento económico mundial para 2025, o que para João Queiroz “não configuram um cenário particularmente virtuoso e poderão dificultar a progressão que estas empresas evidenciaram” até ao momento.

“Neste contexto, empresas como a Apple e a Tesla poderão enfrentar impactos significativos decorrentes de potenciais tarifas sobre importações na China e na Índia”, afirma João Queiroz.

O head of trading do Banco Carregosa salienta que embora algumas das 7 Magníficas permaneçam “cruciais e centrais” para a economia global, independentemente de mudanças na administração dos Estados Unidos, as suas perspetivas alteraram-se devido a “desafios estruturais” como o “elevado endividamento global” e a “repressão financeira”.

“A repressão financeira, tal como definido, envolve medidas governamentais que canalizam recursos do setor privado para o setor público, com o objetivo de reduzir a dívida nacional, mantendo as taxas de juros artificialmente baixas, frequentemente abaixo da taxa de inflação. Este ambiente de baixas taxas de juros pode impactar a rentabilidade das empresas e a alocação de capital”, explica João Queiroz.

O head of trading do Banco Carregosa sublinha que no atual cenário a incerteza é “consideravelmente elevada e a imprevisibilidade dificulta” a tomada de decisões de investimento.

“Embora seja possível que as cotações das ações reajam com a renovação de máximos históricos, impulsionadas por fatores como a continuação de negociações comerciais (sem a eliminação completa de tarifas, segundo a Morgan Stanley Research), estes movimentos poderão corresponder a prémios elevados e avaliações de sustentabilidade discutível”, diz João Queiroz.

Para o head of trading do Banco Carregosa esta preocupação “agrava-se” com a tendência do orçamento dos Estados Unidos em aumentar o seu stock de dívida e a potencial penalização do consumo no curto prazo, fatores que para João Queiroz “poderão exercer pressão” sobre o crescimento económico e, consequentemente, sobre o desempenho das empresas.

Para o analista da XTB, Vítor Madeira, o mercado continua a manter “elevadas expectativas” quanto à continuidade nos próximos tempos do crescimento, que foi conseguido no primeiro trimestre, embora com uma trajetória “mais moderada”.

Vítor Madeira adianta que as projeções para o segundo trimestre apontam para um “aumento nos resultados de 14% para as sete magníficas, comparativamente aos 9,4% esperados para o restante conjunto” de empresas do índice.

“Entre estas, a Nvidia destacou-se como a principal impulsionadora dos resultados, fruto da sua liderança no setor de inteligência artificial e semicondutores. Em sentido inverso, a Tesla foi a empresa que mais contribuiu para o arrefecimento do grupo, refletindo os desafios na sua operação e concorrência crescente no setor automóvel elétrico”, diz Vítor Madeira.

O analista da XTB acrescenta que este desempenho notável das 7 Magníficas pode ser explicado pelo seu “forte investimento” em inovação tecnológica, pelo “desenvolvimento de novos produtos”, pela “consolidação de posições monopolistas e estratégias de marketing agressivas”, que Vítor Madeira diz serem fatores que “conferem vantagens competitivas estruturais”, a estas empresas, face ao resto do mercado.

“Dada a sua dimensão e impacto, estas empresas continuarão a desempenhar um papel central na evolução dos mercados acionistas norte-americanos até ao final de 2025, podendo inclusive determinar o sentimento geral do mercado e influenciar o comportamento dos investidores globais”, afirma Vítor Madeira.

Fonte: XTB, baseado no FactSet
Fonte: XTB, baseado no FactSet

Analista alerta para riscos de mercado que podem condicionar sete magníficas

“As incertezas e preocupações relativamente à conjuntura atual, designadamente conflitos comerciais relativos às alterações das tarifas alfandegárias, com impactos na taxa de inflação e no ciclo de redução das taxas de juro, evolução do Produto Interno Bruto (PIB), rating soberano, bem como a litigância tecnológica entre Estados Unidos e China, constituem os principais riscos de mercado, que condicionam as perspetivas deste grupo de empresas no mercado de capitais relativamente aos próximos trimestres”, salienta o presidente da Maxyield, Carlos Rodrigues.

Carlos Rodrigues salienta que também não se pode esquecer os riscos macroeconómicos  dos Estados Unidos, associados a “desequilíbrios crescentes” de natureza estrutural, onde se inclui: deficit orçamental (6,4% do PIB), dívida pública (127,7% do PIB) e deficit comercial (3,6% do PIB), “os quais são suscetíveis de alimentar dúvidas relativamente à desdolarização”.

Para o analista da Activtrades Europe, Henrique Valente, o grande risco para os próximos trimestres para as sete magníficas é que as expetativas “estejam demasiado à frente” dos resultados reais. “Mas, até agora, os dados continuam a suportar a narrativa dominante: a Inteligência Artificial (IA) não é apenas uma tendência, é o novo motor de crescimento das Big Tech“, salienta Henrique Valente.

O analista da Activtrades Europe diz que o preço das ações destas empresas já reflete grande parte das expectativas futuras associadas à IA, acrescentando que o crescimento precisa de se “manter forte e sustentado” para evitar correções, num contexto em que o ecossistema “está cada vez mais competitivo e fragmentado”, com empresas como a AMD, a Oracle e a Palantir a “tentar capturar” a sua parcela do mercado.

O presidente da Maxyield considera que é interessante observar a evolução do PER (relação entre a cotação e o lucro por ação).

“Verifica-se uma tendência generalizada de quebra do PER entre 30 de Junho/2024 e 31 de Março/2025. A média do PER do S&P 500 é de 27 anos cujo valor se encontra estabilizado entre 30 de Junho /2024 e 31 de Março/2025, sendo que apenas a Alphabet e a Meta se encontra abaixo deste patamar. A média do PER do Nasdaq Composite é de 34,3 anos, acima da qual é assinalável as posições da Nvidia com crescimento em 2025 e da Tesla com forte redução no ano em curso”, disse Carlos Rodrigues.

Fonte: Maxyield, baseado na Macrotrends
Fonte: Maxyield, baseado na Macrotrends

Esta evolução do PER, apesar do posicionamento elevado da Nvidia e Tesla, é suscetível de reduzir os receios de bolha tecnológica. A trajetória decrescente do PER fica a dever-se à baixa das cotações e ao aumento dos lucros, sendo anterior ao conflito comercial em torno das tarifas, mas foi acentuada por ele”, acrescentou o presidente da Maxyield.

Fonte: Maxyield, baseado na Macrotrends
Fonte: Maxyield, baseado na Macrotrends

 

Outro indicador destacado pelo presidente da Maxyield é o PBV (relação das cotações com o capital próprio por ação). Carlos Rodrigues salienta que as sete magníficas apresentam “uma tendência geral de quebra”.

Fonte: Maxyield, baseado na Macrotrends
Fonte: Maxyield, baseado na Macrotrends

Carlos Rodrigues acrescenta que o capital próprio por ação “é influenciado” pela distribuição de dividendos e operações de recompra de ações acrescentando que a tendência geral de quebra do PBV deve-se à diminuição das cotações e crescimento do book value (valor contabilístico, termo que que dá conta do valor dos ativos de uma empresa) e intensificou-se de forma distintiva” com o conflito comercial ao nível das tarifas aduaneiras.

“O comportamento nos próximos trimestres do PER e do PBV deste grupo de empresas, vai ser influenciado pelas condicionantes referidas anteriormente. É previsível que os lucros da Tesla venham a ser influenciados pela quebra de vendas, devido às tarifas aduaneiras que venham a ser estabelecidas nos processos de negociação, pelo que devemos continuar a assistir a uma baixa do seu PER e PBV”, afirma Carlos Rodrigues.

“A Nvidia será inevitavelmente prejudicada pela litigância tecnológica dos EUA com a China, pelo que deverá sofrer  igualmente uma redução do seu PER e PBV. Devido ao peso dos serviços na atividade da Meta, Alphabet, Microsoft e Apple é expectável que o PER e PVB sejam afetados pela evolução positiva dos lucros e aumento dos capitais próprios por ação. A atividade de marketplace da Amazon encontra-se muito exposta às tarifas aduaneiras, pelo que é admissível que esse efeito se transmita ao PER e PBV, mantendo a trajetória atual. Deste modo, os receios de bolha tecnológica ficam atenuados, devido ao intervalo de variação destes indicadores de mercado ficar potencialmente circunscrito a valores mais baixos”, considera o presidente da Maxyield.

Inteligência Artificial também explica resultados das 7 magníficas

O analista da Activtrades Europe, Henrique Valente, refere que o forte crescimento das Sete Magníficas no primeiro trimestre de 2025 deve-se, em grande parte, “à aceleração da adoção da Inteligência Artificial (IA), que está a transformar os modelos operacionais e de receita” destas empresas.

“A crescente procura por poder computacional para treinar e correr modelos de IA fez disparar as vendas de GPUs, beneficiando diretamente empresas como a Nvidia. No caso da Meta, por exemplo, a IA está a ser usada para melhorar os algoritmos de anúncios, o que permite à empresa cobrar mais pelos seus espaços publicitários. A narrativa de crescimento também já não se resume apenas à expansão de receitas, mas passa pela eficiência interna, pela contenção de custos e pela criação de novos fluxos de receita, como subscrições premium com IA integrada. A única exceção é a Tesla, onde o impacto financeiro da IA continua a ser marginal, apesar das promessas sobre o sistema de condução totalmente autónoma (Full Self-Driving)”, explica Henrique Valente.

Para o analista da XTB, Vítor Madeira, as Sete Magníficas continuam a se destacar por dois grandes motivos. Um deles pelo peso que possuem nos principais índices norte-americanos (Nasdaq-100 e S&P500) representando, em conjunto, cerca de 30% da capitalização total do S&P500.

“Em segundo lugar, pela sua superioridade em termos de crescimento face ao universo restante de empresas cotadas”, acrescenta o analista da XTB.

Vítor Madeira sublinha que no primeiro trimestre de 2025, os resultados das Sete Magníficas registaram um crescimento agregado de 27,7% [lucros líquidos] face ao período homólogo, o que ficou bem acima da subida de 9,4% das restantes 493 empresas do S&P 500.

Fonte: XTB, baseado na FactSet

Fonte: XTB, baseado na FactSet

“Esta discrepância evidencia um claro abrandamento no ritmo de crescimento da generalidade das empresas norte-americanas, enquanto as Sete Magníficas mantêm uma dinâmica de expansão significativamente acima da média”, acrescenta Vítor Madeira.

O presidente da Maxyield, Carlos Rodrigues salienta que a evolução global dos resultados das Sete Magníficas deveu-se a lucros trimestrais crescentes das sociedades com a “maior dimensão relativa”, envolvendo a Alphabet, a Meta, a Amazon e a Microsoft que vêm aumentando o lucro por ação no período de 12 meses terminado no final de cada trimestre (TTM, ou trailing twelve months).

Carlos Rodrigues lembra que as sete magníficas representam atualmente cerca de 30% da capitalização de mercado do índice de referência mundial S&P 500 e quase 40% do índice tecnológico NASDAQ Composite após o rebalanceamento no final de Março de 2025 (anteriormente era de 51%).

Contudo, sublinha Carlos Rodrigues, o crescimento trimestral dos lucros “não é homogéneo” em todo o universo das Sete Magníficas.

“O aumento dos lucros da Alphabet, Meta, Amazon e Microsoft é bastante robusto e a ritmo muito superior às receitas. A Nvidia e a Apple apresentam uma evolução positiva dos lucros, mas  a ritmo inferior ao crescimento das receitas no período referido, sendo a primeira afetada pela mitigância entre os Estados Unidos e China a nível tecnológico designadamente a inteligência artificial. A Tesla apresenta uma queda das receitas e intensa redução dos lucros, cujo processo não é alheio à exposição política de Elon Musk e posições públicas potencialmente prejudiciais para esta sociedade”, explica o presidente da Maxyield.

O head of trading do Banco Carregosa, João Queiroz, salienta que as Sete Magníficas, no primeiro trimestre, mantiveram o “forte desempenho” que vinha dos trimestres anteriores.

“Este ímpeto ocorreu num contexto económico-financeiro global que ainda não refletia totalmente as potenciais disrupções decorrentes de uma possível recalibração da ordem mundial, impulsionada pelas políticas da maior economia mundial, os Estados Unidos, e as respostas da China e da União Europeia”, acrescenta João Queiroz.

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