A história da Apple é feita de fracassos e sucessos. Do Pippin (consola), ao Newton (assistente digital) passando pelo iPhone, a empresa norte-americana nunca passou despercebida no mundo tecnológico. Aliás, a empresa da maçã, fundada em 1976 por Steve Jobs, Steve Wozniak e Ronald Wayne, foi a primeira empresa dos EUA a alcançar o marco histórico de valer um bilião de dólares (ou um trilião, segundo a notação não europeia). E, claro, está também na linha da frente pelas guerras com as empresas rivais. Uma das mais longas aconteceu com a Samsung. Só no ano passado, depois de uma batalha que durou sete anos, um juiz do Tribunal Federal Distrital de San Jose, no estado norte-americano da Califórnia, condenou a marca sul-coreana a pagar 539 milhões de dólares — o equivalente a 477 milhões de euros — à Apple por copiar patentes utilizadas nos telemóveis. Em declarações ao jornal “The New York Times”, fonte da companhia disse estar satisfeita por o juiz ter “concordado que a Samsung devia pagar por copiar” os seus produtos, até porque “o design é crucial para o sucesso” da Apple e “isto era sobre mais do que dinheiro”.
Iniciado há sete anos, o processo arrastou-se na Justiça e, quando tudo apontava para mais um conjunto de sessões em tribunal, a agência Reuters noticiou que as duas empresas acabaram por conseguir chegar a um acordo, o que levaria a que este processo terminasse imediatamente e sem qualquer processo adicional.
A Apple apresentou esta semana, em Cupertino, na Califórnia, novos serviços digitais baseados no projeto da empresa em integrar hardware, software e serviços. A principal novidade é a plataforma de streaming de vídeo, anunciada por Tim Cook no Steve Jobs Theater. Além do CEO, vários funcionários da Apple apresentaram diferentes produtos criados pela empresa.
Rivalidade com Netflix e Amazon
Por exemplo, com a Apple TV Plus a empresa passa a disputar o mercado com a Netflix, Amazon e outros serviços de televisão por assinatura. Segundo as contas da Associated Press (AP), o novo projeto da “maçã” vai custar 883 milhões de euros.
A ideia principal em que a empresa de Tim Cook se sustenta é que a Apple TV seja uma fonte de entretenimento, seja por subscrição de cabo, através do Hulu ou por outros serviços. No entanto, os produtos não irão só ficar na Apple TV, mas também no iPhone, iPad e Macbook. Ainda assim, a aplicação para Mac só deve chegar no outono, enquanto a Apple TV chega já em maio.
Quando o consumidor tem dúvidas sobre o que ver, a Siri ajuda e depois o serviço é personalizado consoante o que o utilizador gosta, de acordo com aquilo a que já assistiu. Como o serviço planeia unir séries, notícias, desporto e filmes nos dispositivos, também vai ser possível subscrever determinados canais, como o Showtime, onde depois o utilizador tem acesso a todas as séries transmitidas. O serviço da Apple TV foi redesenhado e a empresa anunciou que vai começar a produzir filmes e séries. O iTunes, a TV por satélite, HBO, Showtime, Starz, CBS, CNN e NBC estão na nova aplicação.
Serviços e dispositivos, plataforma de marketing, conquistar novas fronteiras, poder financeiro global e ser uma marca de moda – desde que chegou à liderança da Apple, Tim Cook transformou a empresa. Dos carros para os cuidados de saúde, a Apple está a fazer apostas em mercados lucrativos lotados, complexos e improváveis de serem dominados por uma única empresa. “A nossa estratégia é ajudá-lo em todas as partes da sua vida que possamos”, diz Cook.
O poder financeiro global é outro dos trunfos. Cook gastou aproximadamente 117 mil milhões de dólares em recompra de ações nos últimos dois anos. Como diz o gestor: “Quero que a Apple esteja aqui para sempre”. Além disso, a Apple é uma marca de moda. Os produtos da empresa têm sido exemplares em design industrial, mas Cook incorporou a ideia de estações e coleções para produtos como o Apple Watch. As lojas da marca também refletem essa influência: os acessórios são apresentados menos como tecnológicos e mais como produtos de moda.
Timothy D. Cook nasceu em 1960 no Alabama, é engenheiro industrial e foi o responsável de operações e vendas globais da empresa. Dirigiu a divisão da Macintosh e desempenhou um papel fundamental nas relações com os distribuidores que comercializavam os produtos da companhia no contexto de um mercado em crescimento. Filho de um operário da construção naval e de uma dona de casa, é um trabalhador incansável. Apesar da performance da marca a nível mundial nunca dá o seu posto como garantido. É dos primeiros a chegar ao trabalho e dos últimos a sair. Está sempre pronto para viagens ou teleconferências a qualquer hora do dia. Numa entrevista recente, o CEO confessou que aborda a questão da sua sucessão no final de cada reunião com a administração. Considera que a qualquer momento pode cometer um erro que lhe custe a sua posição e que a empresa tem de estar preparada para responder. Nos últimos dias foi a vez de responder ao Spotify, uma das principais plataformas de música usada pelos portugueses. Esta empresa apresentou uma queixa aos reguladores da concorrência da União Europeia, alegando que a fabricante do iPhone está a penalizar a livre escolha dos consumidores e a sufocar a inovação com as regras que impõe na App Store.
Numa publicação divulgada no site do Spotify, o líder da empresa afirma que “a Apple exige que o Spotify e outros serviços digitais paguem um imposto de 30% sobre as compras feitas através do sistema de pagamento da Apple, incluindo a atualização do nosso serviço gratuito para o premium. Se pagarmos esse imposto, isso obrigar-nos-ia a aumentar artificialmente o preço da nossa subscrição Premium bem acima do preço do Apple Music. E para manter o nosso preço competitivo para os nossos clientes, isso não é algo que possamos fazer”.
O chamado “imposto Apple” foi introduzido pela empresa pouco tempo depois do lançamento da App Store, em 2011. Apesar de já ter passado quase uma década desde o lançamento, esta é a primeira vez que é apresentada uma queixa junto da autoridade da concorrência da União Europeia.
As críticas do Facebook
Mark Zuckerberg fez uma publicação, esta quarta-feira, em que detalhava os objetivos do Facebook relativamente à privacidade e criptografia de dados ao mesmo tempo que fazia mira à Apple. Ao falar sobre a necessidade de armazenar dados de forma segura, o fundador do Facebook aproveitou para criticar a Apple dizendo que havia uma diferença entre fornecer um serviço num país e armazenar os dados lá. “Há uma diferença importante entre fornecer um serviço num país e armazenar os dados pessoais. À medida que construímos a nossa infraestrutura em todo o mundo, optámos por não construir centros de dados em países com um histórico de violações de direitos humanos como privacidade ou liberdade de expressão“, escreveu Zuckerberg.
Recorde-se que a Apple transferiu as suas operações do iCloud para uma empresa local no sul da China no ano passado. A empresa também começou a hospedar as suas chaves de criptografia do iCloud no Guizhou-Cloud Big Data na China no ano passado, face às leis implementadas naquele país.
O diferendo com a Qualcomm
O juiz de um tribunal em San Diego, na Califórnia, deu razão à Qualcomm numa queixa apresentada contra a Apple. A fabricante de processadores reclamou o uso indevido de três patentes suas pela empresa da maçã, que lhe terá agora de pagar 31 milhões de dólares de indemnização.
Desde 2011 que Qualcomm era a fornecedora exclusiva da Apple. Esta decisão chega numa altura sensível para ambas as empresas. No final do ano passado, a fabricante de chips anunciou que um tribunal chinês aceitou as suas reclamações contra a marca da “maçã” por alegada violação de patentes e que ordenou a empresa a não vender alguns modelos de iPhone naquele país. A Qualcomm disse ainda que as patentes em questão permitem ajustar e alterar o tamanho das fotografias, bem como manusear aplicações através do écran tátil.
A Apple anunciou que vai usar todas as suas “opções legais” nos tribunais, rotulando os “esforços da Qualcomm para proibir” os seus produtos como um “movimento desesperado de uma empresa cujas práticas ilegais estão sob investigação pelos órgãos reguladores em todo o mundo”.
Don Rosenberg, vice-presidente da Qualcomm, considera que o veredicto representa “a mais recente vitória num litígio que visa responsabilizar a Apple pela utilização das nossas valiosas tecnologias sem as pagar”. A batalha ainda está para durar. Em breve inicia-se um novo julgamento onde as duas empresas vão lutar sobre o pagamento de royalties. Em causa estão muitos milhões de dólares.
Os primeiros conflitos internos
O legado de Steve Jobs vai ficar para sempre na história da tecnologia mundial. Quando morreu, milhares de pessoas deixam tributos a Steve um pouco por todo o mundo. Em 1982, era capa da conceituada “Time”. Eis o que a revista norte-americana escrevia sobre ele: “Steve Jobs, 26 anos, co-fundador há cinco anos da Apple Computer, criou praticamente sozinho a indústria de computadores pessoais. Este universitário falhado vale agora 149 milhões de dólares”. Para a “Time”, era um ícone da nova geração de empreendedores que “não teme correr riscos”.
O grande salto veio com o lançamento do Macintosh, em 1984. A plataforma tornou a Apple extremamente conhecida, iniciando o processo de evangelização em torno dos produtos da empresa que permanece até hoje. Disputas com o CEO da Apple na época, John Sculley, fizeram com que Jobs fosse obrigado a abandonar em 1985 a companhia que ajudou a fundar. Para muitos, esse afastamento foi decisivo na formação do líder em que Jobs se tornaria aquando do seu regresso à empresa, anos mais tarde. De novo à frente da Apple, um Jobs mais experiente corrigiu algumas rotas sem que mudasse de direção. Primeiro, despediu uma administração, várias equipas, cortou custos e matou literalmente dúzias de produtos. Depois, refundou a “sua” Apple sobre as premissas da colaboração e da simplicidade.
Para Jobs, perfecionista por essência, só existia uma receita para ser o melhor: ter paixão pelo que se faz. Repetiu-o incessantemente. “É tão difícil fazer coisas que se não gostarmos desistimos. As pessoas que têm sucesso são as que têm paixão e por isso perseveraram”.
Artigo publicado na edição nº 1982 de 29 de março do Jornal Económico
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