Portugal está viciado no gás natural para produzir eletricidade desde o apagão ibérico de 28 de abril. Os dados de maio e de junho demonstram disparos na produção de eletricidade a partir de gás natural.
A situação deve mudar a partir desta sexta-feira com o fim das restrições totais às importações com Espanha, por parte da REN – Redes Energéticas Nacionais. A muito barata energia solar produzida do lado de lá da raia vai voltar em pleno à rede portuguesa.
A partir de hoje, “serão levantadas as restrições anteriormente aplicadas à capacidade de interligação, deixando de existir quaisquer limitações, tanto no sentido importador como no exportador”, decisão tomada na sequência do blackout de 28 de abril, anunciou a REN.
Em maio, a produção de eletricidade a partir das centrais de ciclo combinado a gás dispararam mais de 5.000% para 574 GWh. Em junho (até dia 18), a produção de eletricidade a partir de gás natural disparou mais de 300%, segundo a REN.
Ao mesmo tempo, os preços do gás natural estão a disparar nos mercados internacionais com a guerra entre o Irão e Israel, e a possibilidade de fecho do estreito de Ormuz. O gás estava a subir mais de 5% na quinta-feira no índice de referência para a Europa, o TTF, para mais de 40,6 euros/MWh, nos contratos para entrega em julho.
Os preços no mercado grossista ibérico dispararam mais de 100% esta semana dos 56 euros/MWh na segunda-feira para os 113 euros/MWh negociados para esta sexta-feira, à boleia do aumento da tensão entre Telavive e Teerão e o possível encerramento do estratégico Estreito de Ormuz por onde passa diariamente 20% do petróleo consumido em todo o mundo. Oimpacto nos preços do petróleo afetam os preços do gás, que afetam os preços da eletricidade.
Estas restrições foram uma “intromissão no mercado”, disse ao JE Nuno Ribeiro da Silva “Percebo que tenha havido esta prudência… se acontecesse alguma coisa era um ‘aqui de El-Rei’. Como dizemos no Técnico [IST], houve a componente do coeficiente cagaço” na decisão de restringir as importações, comenta o especialista em energia.
“Com certeza que a REN terá tido garantias do lado de Espanha de que há mais centrais no mix que dão mais resiliência ao sistema. Sentiu-se mais confiante relativamente ao airbag do sistema quando há problemas de tensão”, acrescentou.
Ogestor prevê que haja um impacto baixista nos preços com esta decisão. “As renováveis são mais baratas. Depois, o sistema ibérico em conjunto proporciona sempre preços médios mais baixos do que dois sistemas a funcionar em separado”.
Para a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), o fim das restrições é uma “boa notícia”, prevendo um “impacto positivo nos preços”, mas com Espanha ainda a ter uma palavra a dizer. “Se Espanha também reduzir a incorporação de gás na rede, e regressarem as renováveis”, o impacto baixista é esperado. “Se o mercado estiver a fechar as horas do dia só com renováveis, os preços serão mais vantajosos. Se estiverem a fechar com gás natural, preços mais elevados”, explica o líder da APREN Pedro Amaral Jorge.
“Houve um erro de operação de rede, não há nenhum motivo que impeça a incorporação de renováveis”, acrescentou.
Apesar das razões de segurança invocadas, o fecho total da fronteira energética teve custos para os consumidores portugueses, com a fatura a atingir 15 milhões de euros nas duas semanas após o apagão, devido aos preços mais elevados praticados em Portugal face a Espanha, por o país não poder desfrutar dos mais de 22 gigawatts de energia solar espanhola (Portugal conta com 3,6 gigas) que afundam os preços ibéricos nas horas em que o sol espanhol mais brilha, apesar do menor consumo nessas alturas. A partir de 7 de maio, foram impostas restrições parciais nas interligações, mitigando o sobrecusto.
“Não podemos ter sol na eira e chuva no nabal, como alguns pensam. Temos preços baratos se estivermos ligados aos espanhóis; se formos mais independentes, os preços são mais caros. E os consumidores querem preços baratos”, resumiu o especialista em energia António Sá da Costa.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com