O que Donald Trump queria alcançar com a Cimeira da Nato? 5% do PIB de cada país gastos em defesa e já. O que é que Trump, à partida, vai levar do encontro: 3,5% agora e mais 1,5% em gastos colaterais para despender com a defesa até 2035. Até à hora de fecho desta crónica, eram estes os dados em cima da mesa. E isto não é uma vitória para os Estados Unidos.

Donald Trump tem dificuldade em convencer os aliados a gastar tamanha fatia, mas também tem dificuldade em pôr os aliados todos de acordo. As correntes divergentes são várias e de difícil (di)gestão, sobretudo porque o está a ser exigido por Mark Rutte, secretário-geral da NATO, às nações não foi sufragado. Ou seja, os governos eleitos em cada um dos países aliados não tinham estes gastos previstos nos seus programas de governo, nem nos Orçamentos do Estado, o que torna a validação junto do eleitorado bastante difícil.

A Direita populista vai exponenciar esta polémica e não facilitará a vida aos Executivos, e eles sabem disso. Podem, aliás, argumentar que estão a ser impostas agendas e exigências externas não sufragadas em eleições. Vai a opinião pública reagir bem? Vai a sociedade civil concordar com uma eventual redução de gastos em saúde, pensões sociais, educação ou outras áreas essenciais para aplicar mais verbas em defesa?

Em decisões de tamanha dimensão haverá, certamente, um custo político enorme, inclusive em Portugal. No caso nacional, vai o país apostar em mais navios e lanchas para assegurar a plataforma marítima e a Zona Económica Exclusiva que se estende até aos Açores? Nos próximos anos, se não demonstrarmos que somos capazes de defender o que é nosso, Trump ou Putin farão xeque-mate e haverá um novo mapa cor de rosa.

Os custos eleitorais começam já a ser medidos. Veja-se o caso de Espanha que já deu um ‘não’ redondo aos 5%, deixando Donald Trump menos bem-disposto face à posição do governo espanhol. Pedro Sánchez recusou o novo objetivo proposto pelo secretário-geral da NATO, de aumentar a despesa com defesa para 5% do PIB. O primeiro-ministro espanhol classificou o plano de “irracional e contraproducente”. No último domingo, Sánchez garantiu que o país afetará 2,1% do PIB às despesas com a defesa, “nem mais, nem menos”, o que lhe permitirá garantir todos os compromissos no âmbito da NATO.

O governante foi direto e franco na sua posição, antecipando a contestação interna que os 5% poderiam levantar num país tão dividido e frágil politicamente. Os espanhóis usaram as suas ‘ganas’ e disseram o que pensam. E os restantes vão ter ‘ganas’ de o fazer ou acatar? Vão alterar os Orçamentos do Estado ou endividar-se mais para cumprir com os 5%? Vão alinhar com Trump que, pelas evidências, está a contar com a Europa como o seu grande comprador de material bélico? Vão os aliados, em particular o velho continente, ser o grande contribuidor do plano Make America Great Again?