O economista alemão Wolfgang Münchau considerou hoje que o Presidente dos EUA, Donald Trump, não está a acovardar-se nas negociações tarifárias, mas sim a ganhar, e que não deve ser subestimado.
“Parece que ele se está a acovardar. Mas ele está a vencer, a ganhar. E acho que os europeus são muitos estúpidos em subestimar isso. Subestimam-se os opositores, e acho que isso é particularmente estúpido, porque é uma ameaça séria”, disse Münchau na sua intervenção na abertura da conferência “O Futuro da Europa: Modelo económico europeu e o esgotamento do ‘milagre alemão’”, em Lisboa.
“Hoje as tarifas são de uma ordem de magnitude diferente. São reais e não importa o que acontecer nas negociações”, afirmou na conferência que marca os 50 anos da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP).
O economista assinalou que a Alemanha, no caso específico, tem ficado mais isolada de grandes parceiros económicos, depois de a Europa se ter fechado a alguns bens chineses, a Rússia – quinto maior parceiro – ter sido alvo de sanções pela guerra na Ucrânia, e os efeitos da saída do Reino Unido do bloco comunitário.
“Então, a questão é: quem mais no mundo é que vai comprar bens alemães? A resposta era, até ao último outono, os Estados Unidos da América. Era o principal importador dos bens alemães, e isso agora também está a mudar”, apontou.
Além das tarifas, soma-se o impacto da valorização do euro face ao dólar.
A moeda única europeia cresceu quase 14% face ao dólar desde o início do ano, uma valor que associado a uma tarifa de 10%, representa “um choque de quase 25% em três meses, e isto num cenário benigno”.
“As tarifas podem ser mais altas, pode haver acidentes nas negociações”, acrescentou, apontando que pode afetar indústrias automóveis e do aço, mas, no futuro, também outras coisas, como produtos farmacêuticos ou alumínio.
No cenário global, é a China quem agora está a tentar ocupar a posição da Alemanha: “a China está a jogar o jogo que a Alemanha costumava jogar. É quase uma Alemanha em esteroides”.
“Está a tentar exportar, exportar e exportar e ganhar dinheiro dessa forma, e a Alemanha não consegue competir com isso, está hoje com um défice na balança em relação à China.
Na sua intervenção, Münchau assinalou ainda que a digitalização na Alemanha demorou a chegar às empresas, que por não terem investido em tecnologias digitais, perderam quota de mercado.
Um dos exemplos dados pelo economista foi a utilização do fax no banco central alemão (Bundesbank) e forças de segurança ou forças armadas, ou quando a antiga Chanceler Angela Merkel considerou, em 2013, a internet como “algo novo”.
“É quase um indicador da tecnofobia que temos na Alemanha. E não é apenas a rede móvel que é não é muito boa ou a expansão da rede de fibra ótica ser um das mais lentas da Europa: é sobre as empresas na Alemanha não serem digitais.
Münchau comparou a evolução na indústria automóvel europeia – em particular a alemã.
“Quando olhamos para o carro, onde é que está o dinheiro no carro? Está no motor, está no carburador, nos sistemas de travagem, na alta qualidade da engenharia mecânica, e no carro elétrico o dinheiro está no ‘software’ e na sua bateria. Nenhuma das duas tecnologias são nossas”, referiu.
Face uma maior dominância da tecnologia chinesa nas baterias e da norte-americana no ‘software’, o economista alemão assinalou que o potencial de valor acrescentado da indústria europeia diminuiu.
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