Hoje, 3 de julho, celebramos o Dia Nacional do Arquiteto, uma data particularmente cara à Ordem dos Arquitectos, pois assinala duplamente a publicação do Estatuto da Ordem dos Arquitectos em 1998 e a revogação do diploma que permitia que outros técnicos realizassem projetos de arquitetura. É um dia de reflexão sobre o percurso da nossa profissão, de celebração do que de melhor fazemos, mas também de projeção para o futuro, reafirmando o papel fundamental da arquitetura na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

Este ano, temos a honra de homenagear um dos mais notáveis nomes da arquitetura contemporânea portuguesa: o Arquiteto João Luís Carrilho da Graça.

A sua obra é um marco essencial para compreender as duas últimas décadas do século XX e as duas primeiras do século XXI em Portugal. Carrilho da Graça, enquanto autor, professor e figura de cultura, tem influenciado gerações de arquitetos, distinguindo-se pela qualidade do desenho arquitetónico, pela compreensão do lugar, pela otimização dos programas propostos, e pela adequação da linguagem, seja em obras novas ou de reabilitação. O seu cuidado e critério no detalhe são partes intrínsecas de uma arquitetura de excelência.

João Luís Carrilho da Graça pertence a uma geração única. Uma geração que soube, com inteligência e generosidade, desenhar pontes entre escolas e modos de fazer arquitetura em Portugal, eliminando diferenças, mas antes tornando a arquitetura portuguesa mais identitária, disciplinar, ética e cultural. Com a sua forma de desenhar, de construir, de ensinar, de projetar, tornou possível essa transição, e, com muitos outros, ajudou a revelar um território comum, onde a arquitetura é partilhada, rigorosa, livre e profunda.

Acreditamos que, para o autor, o principal objetivo é identificar o essencial para um programa específico num determinado contexto – e pouco ou quase nada mais além disso. Essa premissa torna-se ainda mais visível na forma como concebe os edifícios públicos, pois estes dialogam intensamente com a cidade, funcionando como elementos dinâmicos e em constante transformação, onde a construção atua como um elemento distintivo, favorecendo a convivência social.

Arriscamos dizer que projetos como a Escola Superior de Comunicação Social, o Pavilhão do Conhecimento da Expo 98, a Igreja de Santo António em Portalegre, a divinal Ponte Pedonal sobre a Ribeira da Carpinteira na Covilhã, ou o Terminal de Cruzeiros de Lisboa, entre muitas outras realizações, são obras de arquitetura que estão timbradas na contemporaneidade da nossa disciplina. São exemplos da capacidade singular de criar espaços que enriquecem a nossa paisagem e a nossa cultura. Por esse motivo, ao assinalar a obra e o percurso de Carrilho da Graça, estamos a referenciar não só um dos nossos mais ilustres membros, como também uma obra muito especial, a de um autor que continua a brindar-nos com magníficas criações.

Celebrar Carrilho da Graça é, em simultâneo, uma homenagem individual merecida, mas também um privilégio para os arquitetos portugueses assinalarem, nas suas múltiplas dimensões, como a arquitetura pode ser a força motriz para o desenvolvimento de um país mais próspero, equilibrado e inclusivo.