A imprensa é cada vez menos um espaço seguro.
Primeiro: está sob pressão no que toca à falta de financiamento e condições dignas de trabalho e remuneração, lesando muitos jornalistas e diminuindo ou destruindo múltiplas redações pelo país fora. Segundo: o alinhamento ideológico de grande parte da imprensa reflete quem detém o capital.
A única solução que parecem ter descoberto para tornar a comunicação social um negócio sustentável é a busca constante pelo populismo, mas é nas televisões que observamos melhor esse fenómeno. Ou seja, o sensacionalismo sem filtro, expresso por muitos comentadores que têm carta branca para analisar sem rigor ou isenção, e com agenda própria.
Num contexto em que surgem notícias de mudança da direção de informação na RTP, os canais noticiosos privados rendem-se à polarização e servem de megafone a figuras que influenciam negativamente quem as ouve em casa e está dependente, diariamente, da companhia da televisão.
A transmissão dos factos será sempre condicionada pela presença de comentadores em estúdio, preparados para transmitir diferentes versões de um mesmo facto, construindo narrativas que vão deturpar por completo a realidade.
Por exemplo, a cada menção ao 25 de Abril, contrapõem uma menção ao 25 de novembro. A cada menção aos migrantes ou populações vulneráveis, contrapõem André Ventura a falar em estúdio de como irá alterar a Constituição para favorecer pessoas de bem e afastar os “radicais” do comunismo/socialismo/marxismo.
A extrema-direita não fala por todos os portugueses, mas ninguém diria, a julgar pelas televisões, onde a sua propaganda tem sido a mais eficaz. Não é invulgar descobrirmos que pessoas que denunciam as desigualdades na TV são, muitas vezes, atacadas em matilha por perfis anónimos nas redes sociais, num constante ambiente de intimidação.
Face a isto, pergunto como poderemos criar novos espaços de resistência, dando lugar a coletivos nacionais e transnacionais, ou organizar formas de financiamento coletivas que dispensem o grande capital, ou ajudar a repensar a forma como transmitimos a informação, sem limitá-la a bolhas.
Portugal não é o primeiro país a ser fustigado por direitas moderadas e radicais que convergem com a agenda da extrema-direita. E agora que esse alinhamento se torna claro, é fundamental uma diferente organização de todos os elementos das classes profissionais e da sociedade civil para criar novos espaços seguros. Não podemos permitir que a informação continue a definhar perante os nossos olhos.