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Agência Espacial: Portugal pretende multiplicar negócios por dez até 2030

Acabada de criar, a Agência Espacial Portuguesa é vista pelo ministro da Ciência, Manuel Heitor, como a força capaz de criar mil empregos e gerar uma faturação de 400 milhões de euros até ao fim da próxima década.
21 Abril 2019, 15h00

E praticamente impossível prever o que vai acontecer nos negócios do Espaço nos próximos anos. Prevê-se a colocação de satélites mais pequenos em órbitas próximas da Terra (entre 400 e 800 quilómetros) para melhor observar o planeta, com aplicações em setores vitais como a agricultura, pescas, segurança, defesa ou telecomunicações. E Portugal não quer ficar fora desta corrida: o objetivo é conseguir aumentar a faturação das empresas nacionais que exploram o setor do Espaço e criar mais postos de trabalho. Sem competir com as grandes potências, Portugal acaba de dar um passo gigante. “A Agência Espacial Portuguesa será um promotor de novos negócios para que o Espaço seja uma forma de criar mais emprego e valor económico, baseado nas novas tendências das tecnologias espaciais”, afirmou ao Jornal Económico o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor.

O governante referiu que este é um “projeto sólido para projetar Portugal no futuro” e destacou o objetivo de “multiplicar por dez na próxima década os 40 milhões de euros anuais que o setor do Espaço representa atualmente”.

A criação da “Portugal Space” foi aprovada no Conselho de Ministros de 7 de março, resultando da parceria entre o Governo de Portugal e o Governo Regional dos Açores, com a colaboração da Agência Espacial Europeia (ESA). Além de desenvolver o “Azores International Satellite Launch Programme”, em parceria com a ESA, a “Portugal Space” ficará responsável pela Estratégia Portugal Espaço 2030 e pela gestão dos vários programas nacionais ligados ao Espaço.

Com sede na ilha açoriana de Santa Maria, terá instalações em Lisboa, procurando desenvolver o setor espacial em todo o país. Esta meta será perseguida através da criação de condições ao desenvolvimento da capacidade e competências no domínio da indústria espacial, nomeadamente das novas indústrias do Espaço, bem como na investigação científica, inovação, educação e cultura científica neste setor de ponta.

A Agência Espacial Portuguesa agrupa as várias instituições que têm promovido as tecnologias e as ciências do Espaço em Portugal e diferencia-se pelo desenvolvimento de aplicações de observação da Terra. Estas tecnologias espaciais serão aplicadas em setores não espaciais, como a agricultura de precisão, pescas, segurança (quer marítima quer de território), biodiversidade do território e desenvolvimento.

“A Agência terá sobretudo um papel de dinamizar novos mercados para o Espaço, de acordo com a estratégia de 2030, definida sobretudo por tecnologias de observação da Terra”, sublinhou o ministro ao Jornal Económico. O objetivo para a década passa pela exploração de um setor que está a crescer muito com o empreendedorismo e onde Portugal poderá desempenhar um papel importante no contexto europeu, que passa pela criação de mil postos de trabalho qualificados.

Primeira presidente da Portugal Space

Chiara Manfletti foi nomeada presidente da Agência Espacial Portuguesa, a ‘Portugal Space’, enquanto o coordenador da Estrutura de Missão dos Açores para o Espaço (EMA-Espaço), Luís Santos, será o vice-presidente da recém-criada agência.

Manfletti tem dupla nacionalidade, italiana e alemã, é graduada em Engenharia Aeronáutica pelo Imperial College de Londres (2001), tem o mestrado em Estudos Espaciais pela International Space University (ISU) de Estrasburgo (2002), e é doutorada pela Universidade alemã de Aachen (2009). Tem ainda uma licenciatura em História pela Open University do Reino Unido (2003). Trabalhou na empresa francesa SNECMA e na Agência Espacial Alemã (DLR), tendo posteriormente ingressado na ESA em 2016, onde tem sido nos últimos anos assessora do diretor-geral.

De acordo com o Ministério da Ciência e o Governo_Regional dos_Açores, “é a terceira mulher a presidir a uma agência espacial a nível mundial, depois de Pascale Ehrenfreund, que foi presidente da Agência Espacial Alemã entre 2015 e 2017, e de Megan Clark, que foi nomeada, em 2018, presidente da Agência Espacial Australiana, aquando da sua criação”.

“O Espaço é uma parte fundamental da nossa vida diária e pode contribuir ainda mais para o bem-estar da sociedade e o crescimento económico”, afirmou Chiara Manfletti à Lusa, sublinhando o seu papel em “desafios globais” como as alterações climáticas, as migrações ou a pobreza.

Os acordos feitos com a Agência Espacial Europeia vão no sentido de que a Portugal Space venha a desempenhar funções de “ESA Hub”, com uma “dupla tutela” entre Portugal e a ESA. A 17 de março foi realizada a escritura de constituição da Agência Espacial Portuguesa, em Ponta Delgada, nos Açores. Segundo Manuel Heitor, Portugal não pretende competir com as grandes potências mundiais da exploração do Espaço. A Agência Espacial Portuguesa terá o objetivo de coordenar, em articulação com o Governo Regional dos Açores, o programa de lançamento de pequenos satélites, pilar da estratégia nacional “Portugal Espaço 2030”.

No maior telescópio do mundo

Manuel Heitor assinou no mês passado, em Roma, a convenção que cria o observatório astronómico “Square Kilometre Array” (SKA), um projeto com participação portuguesa para construir e operar o maior telescópio do mundo. “Trata-se de uma iniciativa intragovernamental cujo objetivo é construir e operar o SKA, aquele que será o maior radiotelescópio do mundo, envolvendo mil investigadores e engenheiros, 270 empresas e centros de investigação e 20 países, e com o qual se desenvolverá o estudo das ondas gravitacionais, num teste às teorias de Einstein, a compreensão da evolução do Universo, o mapeamento de centenas de milhões de galáxias e a procura de sinais de vida no Universo”, divulgou o Ministério.

Portugal torna-se membro fundador do novo observatório astronómico, juntamente com a África do Sul, Austrália, China, Itália, Holanda, Nova Zelândia, Reino Unido e Suécia. O SKA será composto por 2.500 antenas e terá capacidade para rastrear mil milhões de galáxias. Até agora, Portugal tem participado no projeto como observador e através da colaboração de instituições académicas e científicas, investigadores e empresas dos setores das Tecnologias da Informação e Comunicação, Energia e Espaço.

De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a convenção “ganha especial relevância” para Portugal após a aprovação em Conselho de Ministros da criação da Agência Espacial Portuguesa. Um dos objetivos será “impulsionar o panorama espacial europeu e internacional através de uma cooperação internacional, com várias agências e organizações espaciais”.

Em 2016, ficou estabelecida a contribuição de cientistas de sete instituições portuguesas para a construção do telescópio. O coordenador nacional do ‘Engage SKA’ (roteiro nacional de infraestruturas de relevância estratégica), Domingos Barbosa, disse na altura à Lusa que Fernando Camilo seria o líder científico do projeto SKA, na África do Sul, e os restantes portugueses participariam nos consórcios de trabalho da iniciativa internacional que “tem de ter a capacidade de observar, pelo menos, 40% do céu todas as noites”.

Parceria com a China

Já a criação do StarLab, laboratório luso-chinês de investigação e tecnologia para o Espaço e os Oceanos, foi materializada no final do ano passado com a assinatura de um acordo, estando previsto um investimento de 50 milhões de euros nos próximos anos. A entidade será financiada em partes iguais pelos dois países, na sequência da assinatura do memorando de entendimento pelo primeiro-ministro, António Costa, e pelo presidente chinês, Xi Jinping, em que estiveram presentes Ricardo Mendes, do grupo Tekever, e Jiancun Gong, diretor do Instituto de Microssatélites da Academia de Ciências Chinesa.

O StarLab vai desenvolver tecnologias e sistemas de engenharia para melhorar o conhecimento, a gestão e a exploração sustentável dos oceanos e do Espaço. No total, está previsto um investimento que ronda os 50 milhões de euros nos próximos anos e a abertura de centros de investigação e desenvolvimento em Portugal e na China.

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