Há um sinal alarmante que nos chega da China. Não é só o som das linhas de montagem a trabalhar 24 horas por dia, nem o zumbido dos motores elétricos a sair das fábricas. É o som de uma bolha quase a rebentar. O país que se tornou a oficina do mundo transformou-se no laboratório global de carros elétricos, mas a experiência está a entrar numa fase crítica. A China produz carros elétricos como quem faz pastéis de nata: em quantidade, variedade e velocidade. Só em 2024, mais de 200 marcas disputaram o mercado interno e externo, numa espécie de corrida ao ouro elétrico.
O resultado? Uma guerra de preços sem quartel, com descontos sucessivos, margens a encolher e uma sensação de déjà vu para quem conhece a história industrial chinesa. Já aconteceu com as bicicletas, os painéis solares e os eletrodomésticos. O Estado incentiva, as empresas multiplicam-se, a concorrência torna-se insustentável, a qualidade degrada-se e, no fim, só os mais fortes sobrevivem, embora sobrecarregados de dívida. O preço médio de um carro elétrico chinês caiu mais de 30% em apenas dois anos. A BYD, a Xiaomi (que faz telemóveis…) e dezenas de marcas desconhecidas lutam por cada cliente e cada cêntimo de margem.
O consumidor agradece – carros mais baratos e muito acessíveis –, mas o reverso da medalha é sombrio: a pressão para cortar custos pode resultar em baterias menos seguras, software apressado e plásticos de má qualidade. A matemática é cruel: demasiadas marcas, vendas insuficientes, lucros que se evaporam. Estima-se que metade das marcas desaparecerá nos próximos 12 meses e a seleção natural já começou: fábricas a fechar, startups a falir, investidores em fuga. O Estado, que antes incentivava, agora pede racionalização e consolidação.
O êxito global dos elétricos chineses é uma evidência e merece o justo reconhecimento, mas os riscos para a economia estão a acelerar bem à nossa frente. Mais um risco para a atormentada agenda global.