O Governo francês já está debaixo de fogo depois de ter apresentado um plano de austeridade para o próximo ano.
A oposição francesa já está a afiar as garras e ameaça derrubar o Governo de François Bayrou por causa do seu plano de austeridade para 2026 que visa a redução do défice orçamental, numa altura em que a dívida já pesa sobre 113% do PIB.
O Governo de Michel Barnier caiu em dezembro, com o recorde de ter sido o executivo gaulês mais curto desde 1958, num voto de censura que juntou partidos de esquerda e a extrema-direita.
Menos de um ano depois, França ameaça tornar-se ingovernável, a apenas dois anos de novas eleições presidenciais. Ainda no início de julho, François Bayrou sobreviveu a mais um voto de censura, o seu oitavo em apenas seis meses no cargo.
François Bayrou, considerado um falcão da dívida, luta pela sua sobrevivência política, mas mais votos de censura seguem-se após a pausa legislativa de verão.
“Toda a nação deve trabalhar mais: para produzir, aumentar a atividade nacional durante o ano e melhorar a situação de França. É por isso que proponho a remoção de dois feriados nacionais”, disse François Bayrou na terça-feira em Paris.
Uma sondagem realizada após o anúncio do pacote de austeridade revelou que a maioria dos inquiridos apoia os esforços para reduzir o défice. Mas 70% dos inquiridos rejeitam o fim de dois feriados, com 60% a rejeitarem também o congelamento de gastos sociais, segundo a sondagem da Harris Interactive citada pela “Reuters”.
A Reunião Nacional já pediu a cabeça de François Bayrou. Este é atualmente o partido político mais popular do país e tem os olhos nas eleições para a presidência da República francesa em 2027.
“Este Governo prefere atacar o povo francês, trabalhadores e pensionistas, em vez de caçar o desperdício”, disse Marine Le Pen, líder da Reunião Nacional de extrema-direita, na quarta-feira. “Se François Bayrou não rever a sua abordagem, vamos censurá-lo”.
Marine Le Pen criticou os sete anos de “gestão catastrófica” de Emmanuel Macron que foi “incapaz de fazer poupanças reais”: quase “20 mil milhões de euros em impostos e cortes. Sem poupanças nos custos da imigração, subsídios para as energias intermitentes incontroláveis, sete mil milhões em mais contribuições para a União Europeia, nada em burocracia em hospitais ou educação”.
“François Bayrou quer impor um ano em branco, uma purga fiscal e social, que custa sete mil milhões de euros, exatamente o custo do aumento das contribuições de França para a União Europeia”, acrescentou na sua reação nas redes sociais.
Outras vozes do partido deixaram críticas duras ao plano: “um ataque direto” à história de França, segundo o seu presidente Jordan Bardella que expressou a possibilidade de se unir a partidos de esquerda para derrubar o primeiro-ministro após o verão, semelhante ao que ocorreu com o anterior primeiro-ministro, Michel Barnier.
“Estão a mostrar-nos o dedo do meio”, disse, por sua vez, o deputado do partido Jean-Philippe Tanguy.
O presidente Emmanuel Macron corre agora o risco de perder novamente um primeiro-ministro, depois de Bayrou ter apresentado um plano que corta 44 mil milhões de euros ao orçamento de 2026 com o objetivo de reduzir o défice público de 3,3 biliões do país.
Uma das maiores reformas recentes em França foi o aumento da idade da reforma em 2023 que gerou muitos protestos e continua a ser bastante impopular.
Para ser aprovado, o Orçamento precisa do apoio de um dos maiores patidos da oposição, mas os Verdes, os Socialista e a França Insurrecta já criticaram a proposta de Bayrou.
Esta proposta poderá ser crucial para a sobrevivência do governo minoritário de Bayrou que já reconheceu estar à “mercê da oposição” e admitiu que poderá não sobreviver politicamente para implementar seu plano.
‘L’austérité’ está prestes a chegar a França. O primeiro-ministro gaulês apresentou na terça-feira um pacote de medidas que visam reduzir o défice público de 3,3 biliões de euros.
O objetivo é cortar a despesa em 43,8 mil milhões de euros até 2026, reduzindo assim o défice para 4,6% do PIB. As medidas propostas serão debatidas no Parlamento francês após o verão.
“Temos de trabalhar mais como nação”, afirmou Bayrou em conferência de imprensa na terça-feira, citado pelo “Politico”, recordando casos recentes da Grécia e da Espanha durante a crise das dívidas soberanas, que agiram “rapidamente e decisivamente, mas com justiça e justeza”.
As medidas para atingir essa meta incluem a redução do número de funcionários públicos em 3 mil pessoas, o corte de entre 1.000 e 1.500 empregos em agências ou instituições públicas, uma diminuição de 5 mil milhões de euros nos gastos com a saúde, e o congelamento de salários na Função Pública, assim como nas pensões e subsídios, que são atualizados anualmente com base na inflação.
Além disso, o pacote prevê o fim de dois feriados: a segunda-feira de Páscoa e o Dia da Libertação da Europa, celebrado a 8 de maio, que marca a rendição da Alemanha nazi em 1945.
A líder do sindicato CGT criticou o fim do feriado de 8 de maio que celebra a “vitória contra o nazismo, numa altura em que a extrema-direita está às portas do poder”.
Já o economista Charles Wyplosz aplaudiu a proposta de orçamento que considerou “corajosa”.
Outro anúncio importante foi a criação de uma “contribuição de solidariedade” que será cobrada dos contribuintes com maiores rendimentos.
Em contraste, as Forças Armadas da França serão poupadas de cortes, uma vez que o presidente Emmanuel Macron anunciou recentemente um aumento da despesa militar para 64 mil milhões de euros até 2027.
Em 2003, outro primeiro-ministro francês quis eliminar dois feriados. Jean-Pierre Raffarin também quis eliminar a segunda-feira de Pentecostes. A medida avançou em 2005, com metade do país fechado e o outro aberto. Raffarn acabou por sair do Governo e o feriado regressou.
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