A Espanha tornou-se pela primeira vez o maior destino de asilo da Europa – ultrapassando assim a Alemanha, até agora o destino mais procurado pelos que queriam passar a residir no espaço europeu. A mudança ocorre devido a vários fatores que convergiram num mesmo tempo.
A Alemanha tem sido há anos o destino mais importante para os requerentes de asilo na Europa, especialmente por causa da chegada de cidadãos da Síria e de outros países asiáticos – que tinham como finalidade empregarem-se no país mais industrializado do continente. No entanto, os últimos dados publicados revelam que a Espanha se tornou o país mais importante nesse particular – em grande parte por causa da quantidade de pedidos de cidadãos da Venezuela.
O país latino-americano está imerso há anos numa grave crise económica e política que gerou uma inflação galopante e o empobrecimento real da população – a que se acrescenta a perseguição política e a clara falta de liberdade. Com a oposição a sentir grandes dificuldades de união e a democracia a ser torpedeada sempre que há eleições, os venezuelanos tratam de deixar o país aos milhares. Os mais pobres passam as fronteiras terrestres – o que em diversas alturas motivou o fecho de fronteiras (por exemplo com o Brasil) – e os menos pobres tentam chegar a Espanha, país que por razões históricas (e linguísticas) é por definição a ‘zona de conforto’ dos venezuelanos.
Mas vale a pena referir que a Alemanha deixou de ser o destino número um para requerentes de asilo na União Europeia, o que de algum modo indica que aquilo que durante décadas chamou imigrantes para o país parece ter deixado de existir: a facilidade de encontrar emprego e uma sociedade que acomodava com facilidade quem vinha de fora – a absorção sem dificuldades da numerosa comunidade turca é um ‘case study’ tão significativo como foi o bom relacionamento do contingente de portugueses que na segunda metade do século passado rumaram a França.
O sistema de asilo da União Europeia está a passar por uma “mudança significativa” após a queda do ex-presidente sírio Bashar al-Assad em dezembro, de acordo com um relatório da Agência da União Europeia para o Asilo (EUAA) a que o jornal ‘Financial Times’ teve acesso. Não é que uma coisa tenha a ver com a outra – até porque a mudança de regime na Síria não foi acompanhada pela formação de qualquer coluna significativa de refugiados.
De qualquer modo, as alterações ocorrem num momento turbulento para os fluxos migratórios globais. Mudanças importantes estão a ser observadas em padrões que predominam há anos e esta parece ser apenas mais uma. Um bom exemplo é o dos polacos, que deixaram de tentar fixar-se na Alemanha para iniciar o caminho oposto (voltar para casa diante do forte crescimento do país). Algo semelhante está a acontecer na Espanha com os chineses, refere o jornal ‘El Economista’, que começaram a deixar a Espanha ao cabo de décadas.
A este movimento não será com certeza estranho o facto de a extrema-direita europeia ter conseguido impor a perceção de que há uma relação intrínseca entre imigração e falta de segurança. Ou seja – e principalmente depois de a direita moderada ter acomodado nas suas práticas esta estranha teoria radical – a Europa passou a ser um lugar bem menos seguro para os que vêm de fora. Mas, como diz o jornal espanhol, e apesar do Vox e do Partido Popular, Espanha posicionou-se como um país ‘amigável’ com aqueles que chegam do exterior.
Embora Espanha se tenha tornado o primeiro destino na Europa para os requerentes de asilo, é de referir que a Grécia e Chipre continuam a ser os principais destinos em termos relativos, ou seja, se forem analisados os pedidos por 100 mil habitantes, segundo dados do Eurostat. A Grécia recebeu 40 pedidos por 100 mil habitantes em março, por exemplo, em comparação com 27,4 na Espanha. Malta registou 64 mil pedidos de asilo na UE em maio (o último mês para o qual há dados disponíveis), uma queda de quase um quarto em comparação com o mesmo mês de 2024. Essa queda é liderada por uma paragem “extremamente acentuada” nos pedidos sírios, que passaram de cerca de 16.000 em outubro do ano passado para apenas 3.100 em maio, de acordo com a EUAA. O que indica que os sírios estão a tentar manter-se em casa, agora que o regime de décadas da família al-Assad passou à história.
Na Alemanha, um destino regular para muitos requerentes sírios, o número total de pedidos de asilo em maio caiu cerca de metade, para 9.900, ante 18.700 no mesmo mês do ano passado.
De acordo com o relatório, a Espanha é agora o país com o maior número de pedidos de asilo, com quase 12.800 registados em maio, em comparação com 16.300 no ano passado. Embora o número total tenha diminuído, houve um aumento nos pedidos na Espanha de pessoas que fogem da Venezuela. A tendência também pode estar relacionada ao endurecimento da política de imigração nos Estados Unidos, que inclui deportações de venezuelanos, acrescenta o relatório.
“Desde fevereiro, a Alemanha não é mais o principal destino da UE; Espanha, Itália e França receberam mais inscrições em maio de 2025”, escreve a agência. A Itália é agora o segundo país com mais pedidos, com 12.300 em maio, em comparação com 15.500 no ano anterior, um terço deles enviados por cidadãos de Bangladesh e Peru. A França está em terceiro lugar, com 11.900 pedidos, ligeiramente abaixo dos 12.500 do ano passado, impulsionada por pedidos de congoleses que fogem do conflito em seu país, bem como afegãos e haitianos.
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