O encerramento total ou parcial das Urgências de muitos hospitais, que tem vindo a ocorrer, vai continuar e agravar-se no verão, com a falta de médicos a notar-se ainda mais, arriscando o fecho de serviços, não só de obstetrícia e pediatria, por todo o país. Os administradores hospitalares apelam ao Governo para agir já. Os hospitais articulam-se para evitar colapso e travar o fecho de urgências, com a Federação Nacional dos Médicos a antecipar um verão pior que o do ano passado, uma “tragédia anunciada” na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Estes alertas surgem após, nas últimas semanas, ter estado sob os holofotes mediáticos a morte de três bebés, cujas mães grávidas apresentaram complicações e acabaram por ser vítimas do caos instalado no SNS. Um “espetáculo degradante” nas palavras do secretário-geral do PS, que criticou as várias estruturas do Estado, empurrando responsabilidades na área da saúde e prometendo apresentar uma resposta para a coordenação da emergência hospitalar.

José Luís Carneiro parece esquecer, contudo, que os vários governos, desde há 10 ou 15 anos, não têm dado uma resposta adequada às necessidades do SNS, que está falido. Basta olhar para os 3,7 milhões de portugueses que já possuem um seguro de saúde, com crescente procura, impulsionada pela necessidade de garantir um acesso mais rápido e eficiente a cuidados médicos.

O cenário atual do SNS, e a incapacidade de resposta, não é animador, apesar de nos últimos anos o orçamento da saúde ter duplicado e estar perto dos 17 mil milhões de euros. Atirar dinheiro para cima dos problemas não os resolve.

O mais recente remédio para as debilidades do SNS dá pelo nome de Plano de Emergência e Transformação na Saúde, persistindo dúvidas e insuficiências. E a grande decisão política visível para resolver os problemas passou por multiplicar as linhas telefónicas do SNS 24. Revelam-se desadequadas, como é o caso da triagem de grávidas através do SNS Grávida, que mais não visam do que ocultar as consequências de anos de desinvestimento no SNS. Pior. Negam um atendimento atempado antes de se tornarem um perigo de vida para as grávidas, que em qualquer altura da gestação podem enfrentar uma gravidez de alto risco.

A revolução tem de começar pelas bases: os cuidados de saúde primários. É preciso apostar na prevenção.

As urgências são atualmente o cancro dos hospitais. E as medidas não se revelam adequadas. Antes pelo contrário. Assiste-se à multiplicação e alargamento dos serviços ditos de urgência, mais profissionais e mais exaustão dos mesmos, mais custos com milhões em horas extraordinárias e em pagamentos a tarefeiros.

O diagnóstico há muito que está feito: a falta de médicos, a falta de atratividade do SNS para captar e contratar mais médicos.

A teoria é sabida. Mas, a cada eleição, renovam-se promessas e as melhoras teimam em não a aparecer. A cada governo, nova rota, sem se ficar a saber se o SNS chegaria a bom porto. É preciso um pacto de regime que garanta continuidade e estabilidade no futuro, que devolva a confiança e coloque o utente em primeiro lugar. Pela saúde e pelo futuro do País.

Os utentes do SNS precisam de respostas concretas. Pensos rápidos não servem para tratar fraturas expostas, só escondem feridas num SNS que se pretende robusto e garanta cuidados para todos.