A Europa está numa encruzilhada, para onde se tem lentamente arrastado. Não é tão dinâmica como os Estados Unidos e a China, é incapaz de impor a sua vontade no palco geoestratégico e mostra-se perdida no caminho a seguir, enquanto todos os outros já correm. E não será de um pacto como o que a lenda atribui a Robert Johnson, ou que Goethe engendrou para o seu Fausto, que virá solução.
África é um exemplo da desatenção europeia, porque os principais blocos comerciais têm feito apostas e tomado posição e procurado fazer parte do processo de desenvolvimento do continente, enquanto a Europa retrocede. Veja-se o que acontece à França no Sahel.
Crescemos uma média de 1,5% na última década, quando o conjunto dos países africanos triplicou esse ritmo. Se queremos crescer, é para lá que temos de olhar.
Mesmo com a imigração, somos mais velhos e tendencialmente poucos. Mais de 20% da população europeia tem mais de 65 anos, 20 vezes mais do que na África Subsaariana, onde 40% têm menos de 15 anos, o triplo da proporção. Depois, o número de habitantes cresceu uns míseros 1,3% numa década, deste lado, enquanto em África o aumento foi de 26%. A expressão “Velho Continente” vai mudar e seremos um “Continente Velho”, mais vazio.
Temos conhecimento, capacidade técnica, disponibilidade para investimento, mas falta-nos uma visão estratégica que alcance além do horizonte dos ciclos políticos e, também, vontade de concretizar. Ainda estamos na narrativa assistencialista, quando os outros se focam numa história de investimento e desenvolvimento e já começaram a correr.
Estamos fechados no umbigo europeu quando a oportunidade está mesmo aqui ao lado, atravessando o Mediterrâneo. Não podemos deixar de a ver.