Segundo os dados divulgados esta semana pelo Eurostat, Portugal era, no final de 2018, um dos 14 Estados-membros da União Europeia (UE) com dívida superior a 60% do Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com o gabinete de estatísticas comunitário, temos a terceira maior dívida pública da UE: 121,5% do PIB, logo a seguir à Itália (132,2%) e à Grécia (181,1%). Estamos no pódio europeu dos países mais endividados
Uma triste realidade, sobretudo se pensarmos que, há 16 anos, para conseguir aderir ao euro, no âmbito dos famosos critérios de Maastricht, Portugal tinha de ter uma dívida inferior a 60% do PIB, e agora, decorrido este período, ela é mais do dobro, ascendendo aos 244.906 mil milhões de euros, o que representa em termos absolutos um valor (tristemente) recorde. E ainda mais dramático se torna quando olhamos para o desempenho global da Europa e concluímos que tanto a dívida pública como o défice baixaram face a 2017 na UE e na zona euro.
É a Europa a várias velocidades e é Portugal a afundar-se em termos de endividamento. Relativamente à UE, que registou no ano passado uma dívida pública de 80% do PIB (que em 2017 tinha sido de 81,7%), e no que toca à zona euro a dívida pública foi de 85,1% do PIB (no ano anterior tinha sido de 87,1%). E nós com a terceira maior dívida da UE e a maior de sempre em termos absolutos.
Também o Banco de Portugal divulgou esta semana, que o endividamento total da nossa economia já subiu quase seis mil milhões de euros desde o final do ano passado, e em apenas três meses de 2019. O endividamento da economia portuguesa aumentou dois mil milhões de euros só em fevereiro, atingindo os 723 mil milhões, devido ao agravamento do endividamento das administrações públicas, que se reflete logo nas PME.
A responsabilidade cabe a um Estado que se endivida por nós e que acumula défices crónicos nas administrações públicas – só em 2018, atingiu quase mil milhões de euros de buraco financeiro, arrastando a economia nacional e as PME.
Dizia o primeiro-ministro José Sócrates que “pagar a dívida é ideia de criança”, mas a verdade é que Portugal necessita mesmo de sair desta espiral de crescimento abrupto e nunca visto da dívida e de uma economia que aumenta o seu endividamento de forma cada vez mais consistente.
Nós já vivemos esta realidade e sabemos o que dela resulta. Gastámos como se o dinheiro surgisse de um saco sem fundo, o que nos levou a uma intervenção externa com consequências terríveis para todos nós. Dívida não é uma ideia de criança, o bom cumpridor não foge aos seus encargos e ninguém deve assumi-los em nome dos portugueses. Portugueses que também estão cada vez mais endividados, que contratam créditos ao consumo, para situações inesperadas ou simplesmente para sobreviver, e começam a ter cada vez mais dificuldades em cumprir com os serviços das dívidas assumidas.
Dívida para que te quero? Bem longe, de preferência, pois é (mesmo) insustentável.