O arrefecimento da economia mundial é um teste à sustentabilidade quer da consolidação orçamental, quer da recuperação económica do país. No que respeita às contas públicas não se anteveem derrapagens no défice ou na dívida, dado que as taxas de juro na zona euro se deverão manter baixas. Mas no que toca ao desempenho da economia portuguesa as dúvidas adensam-se, com previsões de crescimento muito modestas para os próximos anos. O contexto económico e geopolítico está a condicionar a evolução da procura externa, da qual depende em grande medida o regresso, em 2021, a taxas de crescimento acima dos 2%.

Apesar da conjuntura internacional desfavorável, Portugal deve manter-se focado no objetivo de aumentar para 50% o peso das exportações no PIB, durante a primeira metade da próxima década. Atualmente, as vendas ao exterior representam 43,6% do produto, mas só pouco mais de 6% das nossas empresas integra o setor exportador. Há então que alargar a base exportadora da economia portuguesa e, ao mesmo tempo, diversificar os mercados de destino e aumentar a incorporação nacional, o perfil tecnológico e o valor acrescentado dos nossos produtos.

O país deve privilegiar as exportações ao invés de políticas que estimulem descoordenadamente o consumo interno, podendo as vendas ao exterior ser dinamizadas com a transformação digital das PME – um processo que já está em curso mas que importa acelerar e consolidar.

As tecnologias digitais são uma ferramenta essencial para tornar as nossas empresas globais, pois reduzem os custos das trocas comerciais, facilitam o acesso a importadores e parceiros, proporcionam uma relação mais próxima com os clientes e permitem adotar modelos de negócio mais inovadores. Mas a transformação digital exige capacidade tecnológica e know-how especializado, sendo por isso necessário criar o contexto nacional adequado para que mais empresas digitalizem os seus processos.

Estabelecer parcerias com startups tecnológicas pode ser uma forma das PME ultrapassarem as dificuldades de transformação digital, ao mesmo tempo que se estimula o crescimento de empresas early stage. Parece-me, aliás, fundamental que o nosso ecossistema empreendedor continue a crescer e a aumentar a sua intensidade tecnológica. Ora, isto passa muito pela capacidade da Academia para produzir conhecimento com valor económico e para transferi-lo para o tecido empresarial sob a forma de novos negócios. Depois, há também que dar escala às startups de elevado potencial de crescimento. Importa que estas empresas desenvolvam os seus processos de scaleup, de modo a criarem mais valor para si e para o país.

Tudo isto não se afigura fácil, mas o tecido empresarial português já deu provas inequívocas de resiliência e competitividade. Falta, porém, um ambiente de negócios mais favorável (sobretudo a nível fiscal), políticas orçamentais que incentivem o investimento (privado e público) e mais eficácia na aplicação dos fundos comunitários para que Portugal cresça sustentadamente em contraciclo.

 

P.S.: Coube-me a honra de assumir a Presidência da ANJE, depois de Adelino Costa Matos ter renunciado ao cargo por motivos profissionais. Passo assim a assegurar os artigos deste espaço de opinião, esperando corresponder às expectativas dos leitores do JE.