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Aurélia Sousa, Accenture Technology: “É esta era pós digital que pode permitir a diferenciação no mercado”

Aurélia Sousa, Managing Director da Accenture Technology, explica como o Poder Darq é uma das tendências tecnológicas que as organizações devem considerar para serem bem-sucedidas.
29 Abril 2019, 07h36

Tecnologia como Distributed ledgers, Inteligência Artificial, Realidade Aumentada e Computação Quântica (DARQ). Estes são catalisadores de mudança, oferecendo capacidades permitindo aos negócios reconfigurar por completo o seu setor de atividade. Quando foi solicitado aos executivos que participaram no estudo da Accenture Technology Vision 2019, que classificassem qual destas tecnologias terá um maior impacto na sua organização nos próximos três anos, 41% dos executivos colocou a IA em primeiro lugar – mais do dobro de qualquer outra tecnologia DARQ.

O que significa esta tendência tecnológica chamada Poder Darq?

Durante vários anos andámos a dizer que todo o negócio é um negócio digital. Hoje constatamos que efetivamente é muito difícil pensar um negócio sem que tenha uma parte de tecnologia e de digitalização. Os que não o têm ainda estão claramente a ficar para trás nas suas áreas. Então, o que é que precisamos de fazer para sermos diferenciadores numa era pós digital? É essa era pós digital, que se for bem pensada e utilizada, pode ainda permitir dar grandes saltos quantitativos de diferenciação no mercado. Aliar estas tecnologias mais disruptivas do Darq àquelas que já existiam poderá transformar toda a experiência das entidades que interagem nas organizações. Todo o ecossistema de interlocutores pode ser muito impactado pela implicação destas tecnologias.

Que setores poderão beneficiar desta nova realidade?

Se pensarmos na Realidade Aumentada, na capacidade do machine learning e na Inteligência Artificial podemos transformar a forma como compramos online. Ao nível da experiência, em loja em retalho, temos empresas que estão a fazer a interação do consumidor com roupa de­senvolvida à medida dos clientes. O utilizador escolhe a roupa e ela pode ser feita em dez dias sem ir ao alfaiate. A Gillette tem através da Realidade Aumentada a capacidade de permitir que a pessoa faça o tailoring da gillete, ao ter-se associado a uma startup de impressão 3D. O consumidor pode escolher as features da sua gillette e envia através da aplicação móvel. Essa startup imprime-a em 3D e envia para casa do consumidor.

E para o setor automóvel?

A Volkswagen está a usar a Inteligência Artificial para monitorizar os padrões de tráfego e aplicar às rotas que quer sugerir aos utilizadores dos seus veículos. Assim, pode mais facilmente reduzir os tempos de consumo. Ao nível do blockchain poderá ser controlada a segurança dos veículos que vão ser autónomos e controlados através de padrões de segurança do utilizador. Já o Quantum Computing requer trabalhar muita informação em simultâneo para obter informação em real time. Aqueles que forem early adopters destas novas tecnologias vão conseguir ter uma liderança no mercado. Devem começar rápido e falhar rápido. E depois conseguirem ter sucesso rápido. Nós conseguimos eliminar muito tempo e dinheiro numa organização se um determinado fluxo for controlado de uma forma segura que não precise de intermediários ou papelada.

Como fica o tecido empresarial português, constituído na sua grande maior por PME?

Algumas destas tecnologias, nomeadamente a menos madura, que é a Quantum Computing – claramente destas quatro a que ainda está numa fase muito experimental – apesar de já estar a evoluir de uma forma brutal. Em Portugal, para a maior parte deste tecido empresarial de PME é, efetivamente, menos aplicável de uma forma imediata a não ser que seja capitalizável por estarem a utilizar uma cloud pública que já consiga fazer reflexo disto através dos serviços que disponibilizam. As restantes tecnologias podem não significar um investimento assim tão grande porque nós estamos a falar, em muitos casos, em aliar tecnologias ou linguagens de programação para cada uma destas vertentes, que permitem capitalizar a utilização de startups que querem fazer algum investimento e diferenciar-se como organização.

As grandes empresas conseguem ter capacidade para adotar esta transformação mais rápida?

Não são as empresas gigantes que estão a ter capacidade de adotar mais rápido esta transformação, salvaguardando mais uma vez o investimento para o Quantum Computing. Mas pensando em peças de IA mais básicas, como IA por voz, elas podem ser incluídas se forem associadas a universidades e startups. As empresas podem posicionar-se para o mundo quando hoje estão a servir uma loja numa rua. Eu creio que o tecido empresarial português pode beneficiar bastante. Os custos de criação do produto ou do serviço continuam a ser competitivos para o resto do mundo. O meu conselho seria utilizar o nosso posicionamento em Portugal e investir claramente nestes laboratórios de inovação, associarem-se a providers de software que estão no mercado e que possam trazer diferenciação ao negócio. As startups vão trazer tangibilidade ao negócio.

O mundo físico vai desaparecer?

Quando preconizavam os centros comerciais às moscas, com teias de aranha e plantas a nascer no interior, eu dizia: ‘não pode ser’. Mas já estive mais longe de acreditar nessa virtualização quase total. No nosso dia-a-dia, entra a facilidade que temos em consumir online. A experiência pode ser compensadora. Por exemplo, mandar vir a roupa para casa e experimentá-la quando já íamos mudar de roupa. E depois outro fator. O mais vulgar é pensarmos na área de retalho, mas estamos a pensar em todo o tipo de produtos e serviços, como a banca e os seguros. Ainda gostarmos de ir a um bom restaurante, por mais que venha um drone trazer comida a casa. As novas gerações nem carro querem ter.

Como avalia a destruição de postos de trabalho com o avanço tecnológico?

Temos de ter a consciência que, ao desenvolver novas soluções de IA, elas podem realmente impactar o tecido de emprego e de funções que existem atualmente. É necessário assegurar que o fazemos de forma consciente e socialmente também. Vai haver transformação e as próprias empresas têm de pensar em como se vão transformar para fazer parte da solução. Não podem ser só as grandes organizações a darem este avanço e o resto do mercado ficar parado à espera do que vai acontecer.

A Cibersegurança continua no topo das preocupações das empresas?

É um investimento fundamental. A tecnologia com Blockchain vai também ajudar a incrementar essa segurança e isso é uma das vantagens. Não só porque agiliza e elimina custos, mas muito ao nível da garantia de segurança de informação.

Artigo publicado na edição nº 1984, de 12 de abril, do Jornal Económico

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