Após dois ‘Dias da Libertação’ e passados 129 dias de 1 de abril, as tarifas anunciadas por Trump passaram a vigorar. Tarifas mais dolorosas foram evitadas, mas mantêm-se os temores dos efeitos das novas taxas aduaneiras na economia global. A má notícia: a redução da procura ao redor do mundo se a maior economia do mundo começar a importar menos produtos.
O novo plano tarifário dos EUA arrisca pois a levar, segundo alguns especialistas, a uma inflação mais elevada nos EUA e a um período prolongado de enfraquecimento económico noutras regiões, incluindo a Europa. As indústrias vão sofrer prejuízos com a queda da exportação de seus produtos e, claro, terão lucros reduzidos, ameaçando empregos no bloco europeu. Já Trump argumenta: quer colher os frutos das novas receitas, revitalizar a indústria nacional e gerar centenas de biliões de dólares em investimentos e compras estrangeiras.
Incerteza e ameaças
Depois do primeiro ‘Dia da Libertação’, com o anúncio das tarifas recíprocas a 1 de abril, e do segundo ‘Dia da Libertação’, quando o prazo de 1 de agosto para chegar a acordo comercial com os EUA expirou e foi prolongado por uma semana, Trump teve agora o seu terceiro ato liberatório da economia norte-americana. Passavam dois minutos antes da meia-noite de 7 de agosto, quando Trump recorreu às redes sociais para afirmar que biliões de dólares começariam a fluir para os EUA à medida que as novas tarifas entrassem em vigor.
Horas antes tinha dito que ia impor uma tarifa de 100% sobre todos os chips e semicondutores importados, ignorando os alertas de economistas sobre os efeitos das tarifas no aumento de preços e desacelerar da economia americana que dá sinais mais evidentes de fragilidade. Basta ver o investimento privado que caiu 15,6%, refletindo a incerteza acrescida que as empresas enfrentam com a política comercial de Trump.
Na noite de 31 de julho, Trump, tinha já anunciado as tarifas que pretendia impor aos países com os quais não tinha chegado a um acordo comercial e houve uma região do mundo apanhada de surpresa: a Suíça. Com o anúncio de uma taxa de 39%, os EUA colocaram o país helvético com a tarifa mais elevada da Europa – e a quarta maior do mundo, atrás da Síria (41%). E nas vésperas da entrada em vigor das novas tarifas, as ameaças dos EUA continuaram ao acenar com 35% à UE caso não cumpra as suas promessas de investimento de 600 mil milhões de euros em território norte-americano.
A UE tem taxas de 15%, mas há exceções previstas no acordo firmado com os EUA, não estando abrangidos alguns produtos químicos e farmacêuticos e também peças de avião e componentes aeronáuticos, matérias-primas consideradas críticas. Já o aço e o alumínio estão sujeitos a taxas de 50%, setores estratégicos onde o impacto nas empresas europeias será particularmente severo.
O novo plano de tarifas inclui um mínimo global de 10% e impostos a partir de 15% para os países que apresentem um excedente comercial com os EUA. Esta é a taxa que deverá aplicar-se a cerca de 70% das exportações da UE para os Estados Unidos, tendo o compromisso com a Casa Branca evitado a ameaça de uma tarifa de 30%, inicialmente avançada.
O impacto em Portugal será nos setores clássicos, têxtil, calçado e metalomecânica, mas também no setor da saúde com as tarifas de 15% a ameaçarem 5,3 mil milhões de euros de exportações portuguesas. Efeitos para a economia portuguesa vão sentir-se sobretudo pela via indireta nos parceiros europeus. As exportações nacionais de bens registaram já uma queda de 1,3% no segundo trimestre de 2025, marcando o primeiro declínio desde o segundo trimestre do ano passado.
Alarmes soam nos gigantes automóveis
Além da concorrência chinesa, também o impacto das tarifas fez soar alarmes nos gigantes automóveis de Japão e Alemanha, que já sentem o impacto sobre as importações do setor, tendo as marcas do grupo Volkswagen, da BMW, Toyota e Nissan já antecipado e reportado perdas até junho.
A Volkswagen é a que mais sofre com as medidas tarifárias dos EUA, dado o seu elevado grau de exposição ao mercado norte-americano, apesar do acordo com a UE, que reduziu as tarifas a aplicar a partir desta quinta-feira dos iniciais 27,5% para 15%.
As tarifas vão previsivelmente deixar um buraco nas contas das maiores construtoras de automóveis: só nos grupos que detalharam esse impacto nos balaços do primeiro semestre do ano, são contabilizados 4.635 milhões de euros. O número subavalia o impacto, dado que o universo de construtores é maior.
Como fica o resto do mundo
A tarifa universal de 10% mantém-se, mas cerca de 40 países com os quais os EUA têm um défice comercial vão enfrentar uma taxa de 15%. Alguns serão atingidos por taxas ainda mais elevadas como é o caso do Brasil, que enfrenta agora uma tarifa total de 50% após a imposição de 40% adicionais na quarta-feira – apesar de os EUA terem registado um excedente comercial no ano passado, exportando mais para o Brasil do que importando. Na lista de países com taxas mais elevadas estão ainda Laos a Índia (25% mais 25%, Laos (40%), Myanmar (40%), Suíça (39%), Iraque (35%) e Sérvia (35%).
Também estão sujeitos a taxas superiores a 15% outros 21 países, vários que dependem dos EUA para uma série de bens, como o Vietname (20%), Taiwan (20%) e a Tailândia (19%). Os produtos provenientes da Índia serão sujeitos a uma tarifa adicional de 25%, devido a uma ordem executiva assinada por Trump a 6 de agosto que visa penalizar as importações indianas pelas suas compras de petróleo russo. Esta segunda tarifa deverá entrar em vigor a 27 de agosto. Já o Canadá está sujeito a uma tarifa de 35% desde o início de agosto. E os produtos do Japão são taxados em 15% e os do Reino Unido em 10%.
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