De todas as eleições, as europeias são de longe as menos participadas em qualquer um dos Estados-membros e Portugal não é excepção.
A Europa é ainda algo que fica “lá fora”. Não nos sentimos realmente europeus a não ser quando viajamos apenas com o nosso Cartão de Cidadão e podemos usar a mesma moeda. Nunca discutimos verdadeiramente o papel da União nas nossas vidas e olhamos com um certo distanciamento quer o Brexit, quer outros fenómenos colectivos europeus. A própria política económica europeia, que tanto influencia a nossa política interna, passa-nos ao lado.
Erro profundo. Cada vez se torna mais urgente a participação nas decisões europeias, sob pena desta UE se transformar na antítese do seu projecto inicial.
Hoje em dia, a radicalização – que já não tem um único rosto ou uma só direcção – tornou os discursos de ódio mais fáceis e eficazes. O aumento de políticas anti-imigração, xenófobas em toda a acepção da palavra, retrógradas, é assustador!
Mas o perigo maior reside no facto deste tipo de discurso fazer eco junto dos cidadãos menos informados. A razão para tal está no facto de ser usado um argumentário demagógico, sem real consistência e altamente tendencioso. É utilizado o medo do desconhecido, do diferente, como pressão.
Não tenhamos qualquer tipo de ilusão: Portugal não está imune a esta vaga de partidos de extrema-direita que pretendem fazer da Europa uma fortaleza, contrariando os princípios de igualdade, solidariedade e cooperação, que estiveram na origem do projeto europeu. Partidos como o CHEGA, que são olhados de forma displicente e até com alguma ironia, tendem a ganhar força na apatia dos cidadãos. Pior do que estes só os outros, aqueles que minimizam e tentam branquear as ideias que não ousam apoiar (ainda!) por receio.
Veja-se o que aconteceu em Espanha, onde o VOX, por quem ninguém dava nada, acaba de conseguir entre 20 a 25 lugares no parlamento! Até há bem pouco tempo era impensável que um partido que faz a apologia das ideias de Franco, que mergulhou Espanha na mais fratricida das guerras do século XX, pudesse chegar a ter voz no órgão legislativo daquele país. Mas chegou e temo que não se fique por aqui!
O desconhecimento das novas gerações sobre o 25 de Abril e seu significado é terreno fértil para teorias de “um novo Salazar é que era preciso” e daí à radicalização vai menos de um passo.
Na Europa cada vez são mais as vozes que alinham com as políticas isolacionistas de Viktor Orbán, que consideram a hipótese de construção de fronteiras muradas ao longo de toda a UE. No entanto, sabemos bem que precisamos de imigração para a subsistência dos nossos sistemas de segurança social, para invertermos a curva demográfica, para crescermos enquanto região estratégica e económica. Uma imigração integrada, sem falsos paternalismos e sem a alienação dos nossos valores.
Sabemos bem que grande parte dos movimentos migratórios são resultado da falta de cooperação Norte/Sul, da exploração do continente africano, da fomentação de conflitos no Médio Oriente.
Sabemos também que não há muros que consigam conter o desespero de quem já tudo perdeu.
É pois importante votar, e votar bem, nas próximas eleições europeias. Saber realmente o que cada candidato se propõe fazer, como se propõe posicionar, de que forma pretende fazer ouvir a sua – nossa! – voz. Analisar o trabalho desenvolvido na Europa por aqueles que mais uma vez se candidatam e premiá-los ou puni-los de acordo com o que fizeram ou deixaram de fazer.
Não é verdade que todos os políticos são iguais. Mas é verdade que a abstenção premeia sempre os incapazes, os medíocres, os demagogos. É com estes que queremos construir uma nova União Europeia?
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.