A verdade é que, neste quadro, as empresas enfrentam um desafio premente: precisam de contratar para funções que, em muitos casos, ainda não têm uma definição clara. De facto, é difícil encontrar talento para algo que não tem histórico de recrutamento. Enquanto isso, os modelos tradicionais de contratação demonstram-se cada vez mais desajustados em relação ao ritmo de inovação.
Com efeito, torna-se essencial analisar as razões pelas quais as profissões do futuro deixaram de se enquadrar nas estruturas tradicionais. E os responsáveis pelo recrutamento devem estar preparados para acompanhar esta transição.
Recrutar para o desconhecido: o futuro centrado nas competências
As funções emergentes em áreas como a sustentabilidade, a ética da IA ou a análise avançada de dados estão a pôr à prova o mercado de trabalho e os processos de mediação de talento. Cargos com designações como climate officer, data translator ou AI ethicist continuam a ser pouco compreendidos. Tanto pelos candidatos como pelos empregadores.
Aliás, estas profissões do futuro não se enquadram em carreiras tradicionais, nem seguem trajetórias lineares. Por isso, representam perfis particularmente difíceis de recrutar, sobretudo por incidirem em domínios profissionais em consolidação.
Por conseguinte, este desfasamento entre a nomenclatura das funções e as reais necessidades das empresas compromete a atração de talento qualificado. Quando o título de um cargo não comunica de forma clara o seu propósito, dificilmente atrai os candidatos adequados. Ademais, muitas empresas não sabem exatamente o que procurar.
Não se trata, porém, apenas de uma questão de semântica. De acordo com a Deloitte e o Fórum Económico Mundial, o modelo de trabalho centrado em cargos revela-se inadequado perante a velocidade e a complexidade do mercado atual.
Segundo a Deloitte, apenas 24% dos trabalhadores desempenham as mesmas funções que os colegas com igual título e nível. Além disso, cerca de 71% afirmam realizar tarefas que extravasam a sua descrição formal de funções.
Neste contexto, a necessidade de uma abordagem mais flexível, centrada em competências efetivas e não em cargos rígidos, revela-se evidente. Isto é, importa apostar numa contratação orientada para a inovação.
Competências como nova linguagem do talento
O modelo skills-first propõe, portanto, uma mudança estrutural: valorizar aquilo que as pessoas sabem fazer, em detrimento dos seus títulos ou cargos anteriores. De acordo com o Fórum Económico Mundial, esta abordagem torna as equipas mais ágeis e preparadas para o futuro.
Nas profissões emergentes, em que os percursos ainda não estão definidos, recrutar com base no potencial torna-se essencial. Soft skills como pensamento crítico, criatividade e adaptabilidade constituem a base de qualquer função em transformação.
A aprendizagem contínua, por sua vez, deixa de ser um complemento e passa a ser reconhecida como uma competência-chave. Afinal, quando os cargos evoluem mais depressa do que os currículos, são estas skills transversais que aproximam as empresas do talento emergente. Acima de tudo, abrem caminho às profissões do futuro.
Como podem as empresas de recrutamento fazer a ponte com as profissões do futuro?
Num quadro pautado por uma transformação acelerada, as empresas de recrutamento desempenham, decerto, um papel estratégico. No fundo, ajudam a traduzir necessidades emergentes em perfis operacionais, mesmo quando estes ainda não têm nome.
Ao atuar como mediadoras entre inovação e talento, empresas como a Gi Group apoiam os empregadores na reformulação de descrições de função, assim como no job crafting e no job naming. O objetivo passa, então, por identificar um perfil adaptável, e não apenas contratável.
Para os candidatos, este trabalho revela-se igualmente essencial. Ajudar os profissionais a reconhecer o valor do seu percurso é o primeiro passo para uma carreira nas profissões do futuro.
Em última análise, contratar para o que ainda não existe exige uma nova forma de encarar o talento. E quem souber atuar neste contexto incerto conquistará uma vantagem competitiva no mercado de trabalho do futuro.
Este artigo é da autoria da Gi Group Holding.
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