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Europa contra China na batalha automóvel de Munique

Os construtores chineses de carros elétricos estão a invadir o mercado, mas agora com maior concorrência europeia, no mercado que todos querem conquistar.
14 Setembro 2025, 11h00

É uma guerra declarada aquela que opõe construtores automóveis europeus e chineses pelo negócio dos carros elétricos, e a última batalha travou-se esta semana em terreno europeu, o grande mercado que está em disputa.

Em Munique, na Alemanha, no Salão Internacional da Mobilidade (IAA, na sigla germânica), o maior certame bianual do Velho Continente, das 748 empresas registadas pela organização 116 são chinesas, entre construtores e fornecedores de componentes, mais 40% do que na anterior edição, em 2023. Provavelmente serão ainda mais, porque algumas das empresas se registam através das filiais europeias. Uma invasão, que é uma demonstração de força. A gigante dos veículos elétricos BYD, as recém-chegadas GAC e Changan ou a luxuosa Hongqi estão entre elas.

Os construtores automóveis fogem do mercado chinês, o maior do mundo nos automóveis elétricos, mas que está a sufocar por uma guerra de preços sem quartel.

Procuram melhores margens na Europa, onde têm conquistado quota de mercado, que quase duplicaram no primeiro semestre deste ano, de 2,7% para 4,8%, de acordo com os dados da empresa de research JATO Dynamics. A consultora McKinsey estima que podem estar a caminho de igualar a quota de 9% atualmente detida pelos fabricantes automóveis coreanos e chegar à fatia de 14% do mercado das marcas japonesas.

Além disso, com o mercado norte-americano limitado pelo atrito provocado pela guerra comercial da administração de Donald Trump, a China encara o mercado europeu como o terreno a conquistar, mesmo com as tarifas impostas pela Comissão Europeia. “As tarifas não vão travar os chineses”, diz Xing Zhou, partner da consultora AlixPartners, citado pela agência Reuters.

Otimismo europeu
Só que, a força chinesa já não encontra um mercado apático e impreparado para a contenda. Os construtores automóveis europeus estão a reagir. “Estamos a passar à ofensiva”, garantiu Oliver Blume, presidente-executivo da Volkswagen, aos jornalistas, no início da IAA.

As armas para a ofensiva são as mesmas que usam os adversários chineses: novos modelos com tempos de carregamento competitivos, com maior autonomia e sistemas de entretenimento orientados para o cliente. E preços mais baixos. É assim que surgem os modelos apresentados por Volkswagen, Audi, Stellantis, Renault.

O salão deixou de ser o anúncio do futuro longínquo, mas sim o caso prático presente.

O Plano de Ação Industrial da União Europeia, que inclui 2,8 mil milhões de euros para os fabricantes de baterias, investirem em investigação e desenvolvimento.

A indústria automóvel alemã “está a investir como nunca, com os olhos postos no futuro”, afirma Ola Källenius, presidente-executivo da Mercedes.
Para os construtores automóveis europeus e para toda a rede de fabricantes de componentes com que trabalham, esta é uma guerra existencial. Esmagados pelo confronto de preços baixos no mercado chinês, que os faz perder dinheiro, e penalizados pelas tarifas de 27,5% impostas por Trump, que baixarão para 15%, mas que continuarão a afazer mossa, o mercado europeu torna-se determinante, ainda que lutem pela revisão de objetivos ambientais e pelo foco exclusivo na solução elétrica.

A indústria automóvel europeia enfrenta um “em perigo mortal”, afirmou Stéphane Séjourné, vice-presidente executivo para Prosperidade e Estratégia Industrial da Comissão Europeia, há cinco meses. Os construtores automóveis concordam e têm dito isso mesmo nas reuniões de crise com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O terceiro “Diálogo Estratégico sobre o Futuro da Indústria Automóvel” deste ano realiza-se esta sexta-feira, em Bruxelas, na ressaca do IAA.

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