Depois do dieselgate em 2015, teremos o electric-take em 2025. No início do ano, o Grupo Volkswagen anunciou um investimento de 44 mil milhões de euros no desenvolvimento de uma frota de carros elétricos. A ambição, além do capital canalizado, preside à estratégia de investimento da construtora de Wolfsburgo: vender 150 mil elétricos até 2023, número que quer multiplicar quase por dez até 2025 no mundo inteiro.
Apesar da ambição global da marca alemã, há quem prefira investir num outlier da indústria automóvel que, ao contrário da VW, não sofre dos problemas advindos de um legado pesado, mas que também não se aproxima dos números da produtora do Carocha ou da série Golf. Falamos da Tesla, de Elon Musk, que, segundo o portal de estatísticas, Statista, entregou cerca de 245 mil carros elétricos em 2018. Um número muito longe das mais de dez milhões de entregas do ‘carro do povo’ (em alemão, volks wagen).
“Ainda encaramos da Tesla como uma oportunidade de investimento”, disse Johannes Jacobi, especialista de produto do Fundo Global de Inteligência Artificial da Allianz (na sigla em inglês, AGAI), no hotel Ritz, em Lisboa, ao Jornal Económico.
Desde da entrada em bolsa da Tesla, no dia 29 de junho de 2010, que a equipa de Johannes Jacobi tem sido um “investidor âncora” da empresa liderada pelo “carismático” Elon Musk. Desde então, tem comprado e vendido ações da Tesla, mas assegurou que fez “muito dinheiro” com os títulos da empresa que homenageou o húngaro Nikola Tesla.
Mas nem tudo foi um mar de rosas para o AGAI. Os tweets de Elon Musk, que tomaram o Twitter de assalto e obrigaram regulador do mercado de capitais norte-americano a afastar o fundador do PayPal do cargo de chairman da Tesla, não ajudaram o desempenho em bolsa do ticker TSLA. “No ano passado, o telefone não parava de tocar”, revelou Johannes Jacobi. “Eu tinha medo que o AGAI perdesse credibilidade. Mas um dos meus colegas em São Francisco assegurou-me que as ações iam acabar por subir”.
Apesar do desempenho financeiro da Tesla, que só apresentou lucros em dois trimestres de atividade, e além do facto de Elon Musk “ser a razão pela qual a Tesla conseguiu tornar-se num construtor de relevo”, o AGAI decidiu investir na marca norte-americana por ser um “motor da inovação na indústria automóvel”, salientou o especialista de produto em inteligência artificial.
“E não se trata apenas dos processos atuais que a Tesla tem em prática, nem dos processos produtivos que têm na Gigafactory, que nós visitamos uma ou duas vezes por mês e que utilizam a inteligência artificial. Nós acreditamos que a empresa conseguirá dar um passo em frente com os novos modelos apresentados”, frisou Johannes Jacobi.
A verdade é que, embora tenha uma presença no mercado negligenciável quando comparada com as grandes construtoras, a Tesla registou uma valorização em bolsa de 927,92% desde que abriu o capital, bem acima da subida de 123,06% registada pela Volkswagen em igual período.
“O nosso fundo obteve um melhor desempenho que os grandes índices mundiais”, revelou Johannes Jacobi. “Desde o início do ano, os nossos retornos foram de 30%”. Acima dos 24% do tecnológico Nasdaq ou dos 17,50% do S&P 500.
Estratégia de investimento: inovação em inteligência artificial (e comprar barato)
O AGAI pode ser encarado como um early bird, isto é, pretende investir cedo em empresas cotadas a partir do momento em que demonstram potencial em inteligência artificial.
Segundo o Fundo de investimento, a inteligência artificial vai alterar o paradigma do mercado e do mundo que está pressionado “pelo envelhecimento populacional e pelo decréscimo dos níveis produtivos”. “Para nós, a inteligência artificia poderá ser uma resposta para estes problemas”, frisou Johannes Jacobi.
Tipicamente, a equipa do AGAI, composta por analistas que “sabem da importância da pesquisa de mercado”e que passaram pela experiência da bolha ‘dot.com’ na viragem para o novo milénio, começa com uma amostra de mil empresas que desenvolvem soluções em inteligência artificial, explicou Johannes Jacobi. Nesta fase, o AGAI faz uma análise qualitativa das empresas, abordando a estratégia das companhias, assim como os investimentos que pretendem fazer em determinado horizonte temporal. Depois, o AGAI faz uma análise aos fundamentos das empresas, isto é, uma análise financeira, conjugada com contactos com as respectivas equipas de gestão. “Isto reduz a nossa amostra de empresas para entre 40 a 100 ações”.
Foi assim que o AGAI encontrou a Deere & Co, uma empresa norte-americana que produz tratores e outros equipamentos. Esta empresa, em parceria com a Blue River, uma tecnológica especializada em soluções baseadas em inteligência artificial no setor agrícola, consegue saber quais as áreas de cultivo que necessitam de herbicidas e pesticidas. “Esta tecnologia reduz em 90% os custos de produção dos agricultores e, para o consumidor, conseguem encontrar produtos mais saudáveis”, assegurou Johannes Jacobi.
Atualmente, o AGAI gere um portfólio composto por 70 ações no valor de 1,5 mil milhões dólares (cerca de 1,34 mil milhões de euros ao câmbio atual). A maioria das empresas em que apostam encontram-se nos Estados Unidos, porque “é o mercado líder em venture capital e onde se encontra o melhor talento” em inteligência artificial, explicou o especialista. “Apostamos tendencialmente em mid-caps e pequenas empresas, porque acreditamos que é aí que reside o maior potencial em inovação”, disse. “Mas isso não quer dizer que fechamos os olhos às oportunidades das mega-caps“, como o Facebook.
Com o escândalo do Cambridge Analytica, o AGAI comprou ações da maior rede social do mundo, para depois as vender com mais-valias. “Fizemos muito dinheiro”, disse Johannes Jacobi. “E, depois, voltámos a comprar mais e ainda mantemos uma posição no Facebook”. “As aplicações do Facebook em inteligência artificial têm sido muitas, como o reconhecimento facial”, salientou.
Johannes Jacobi trabalha maioritariamente na Europa, onde se mostra “muito desapontado” com os avanços em inteligência artificial. “As nossas faculdades, seja em Portugal, seja em França [ou noutro país] formam bons alunos e doutorados que depois enviam os currículos para os Estados Unidos”, explicou.
O fosso que separa os avanços tecnológicos em inteligência artificial entre, por um lado, os Estados Unidos e a China e, por outro, a Europa, é grande. “Não vejo razões para a Europa ficar para trás”, assumiu o especialista. “Precisamos de mais investimento. A China, como país, percebeu da importância da inteligência artificial e decidiu investir para se tornar líder mundial até 2030. Os incentivos fiscais anunciados pelo presidente francês, Emmanuel Macron, por exemplo, são insuficientes”.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com