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EUA: atrasos e aumento de custos do novo caça da Lockheed Martin preocupam o Pentágono

É um dos maiores fornecedores do setor da defesa, mas a sua prestação está a lançar dúvidas na administração federal norte-americana. Apesar de tudo, o dinheiro da administração não é elástico e h´´a outros fornecedores, como a Boeing, que também precisam do ‘carinho’ federal.
16 Setembro 2025, 12h18

Novos atrasos e mais derrapagens nos custos: o novo avião de guerra da Lockheed Martin – uma das empresas de topo do sector norte-americano da defesa – está a passar por grandes dificuldades em apresentar o seu esperado novo produto. A pressão sobre a empresa continua a aumentar, pois as promessas de uma nova versão que o CEO garantiu que será um ‘Ferrari’ não se concretizam. Uma análise assinada por Julio De Manuel Écija no jornal espanhol ‘El Economista’ refere que a indústria militar norte-americana foi sempre cercada de sigilo e interesses cruzados que vão além da própria guerra. Mas a grave crise que atravessa a Lockheed Martin, acusada de ser ineficiente e de gerar derrapagens de custos e atrasos, está a marcar o Pentágono e a colocar em dúvida o comandante-em-chefe: o que Donald Trump vai fazer com a maior empresa militar do mundo? Tem duas opções: ou recompensa os custos excessivos ou coloca-la-á nos trilhos correndo o risco de perder empregos em estados de maioria republicana.

No mês passado, refere o analista, a Espanha arquivou a compra de jatos F-35 Lightning II dos EUA, os caças-bombardeiros fabricados pela Lockheed Martin, no mais recente exemplo da rejeição ao armamento dos EUA. Muitas capitais europeias rejeitaram ou limitaram a aquisição dessas aeronaves diante da desconfiança política da Casa Branca e da ameaça à soberania nacional se quisessem realizar operações contra Washington. Mas há duas outras razões técnicas que podem cercar esses cancelamentos. A sobreposição com os programas aéreos europeus, planeados para a próxima década, e a desconfiança no fornecimento de materiais.

A Lockheed Martin é atualmente a maior empresa militar dos Estados Unidos e, por extensão, do mundo. O F-35 é o seu principal programa e acredita-se que cerca de um terço da sua receita venha apenas da aeronave, de acordo com a Reuters. No entanto, o caça de quinta geração está a sofrer atrasos significativos na entrega. Para Donald Trump, esses atrasos constantes não parecem afetar o seu desejo de continuar com o empreiteiro militar favorito do Pentágono.

De acordo com a comunicação social norte-americana, o presidente chegou a reunir com o CEO da empresa, Jim Taiclet, para debater os atrasos. Mas não expressou qualquer censura pública, nem propôs mudanças. Taiclet tem sido um defensor público dos ideais de Trump e da administração republicana. Na verdade, a empresa continua a receber bónus por entregar no prazo. O único problema é que a Lockheed Martin falha constantemente as solicitações.

Um relatório da administração federal citado pela Bloomberg refere os custos excessivos do sistema TR3, um software fundamental na nova atualização da aeronave chamada Block 4, que foi orçamentado em 2018 em 700 milhões de dólares. O Pentágono desembolsou quase dois mil milhões de dólares devido aos atrasos e a Lockheed Martin anunciou que a integração da aeronave com o sistema Block 4 foi adiada pelo menos até 2031.

Os Estados Unidos são conhecidos pelo facto de programas militares mais ou menos impossíveis desperdiçarem milhões de dólares. Do programa Star Wars, muito acarinhado pelo ex-presidente Ronald Reagan, impulsionado por uma remilitarização irreal da Guerra Fria, ao novo plano de Trump para uma Cúpula Dourada, que tecnicamente parece inviável mas que já gastou 25 mil milhões de dólares.

No campo da aviação militar os caças mais recentes são o F-22 Raptor de quarta geração e o F-35 Lightning II, polivalente e com capacidade furtiva de quinta geração. Ambos foram desenvolvidos pela Lockheed Martin e, embora o Raptor tenha tido um desempenho questionável, o Lightning tem sido um sucesso não apenas nas Forças Armadas dos EUA, mas também entre outros países do Ocidente. O desenvolvimento do novo caça de sexta geração, o F-47, foi vencido pela Boeing. Várias interpretações foram tiradas desta decisão: por um lado, apoiar a empresa de Arlington, maltratada devido à grave crise que está a viver; por outro lado, separar os projetos entre os diferentes fornecedores favoritos do Pentágono numa espécie de irrigação para todos e, finalmente, um alerta para a Lockheed Martin. Para todos os efeitos – e sabendo-se de antemão que o sector é de uma grande opacidade, o que os vários indicadores dão a entender é que nem tudo parece estar a correr pelo melhor numa das mais sucedidas indústrias dos Estados Unidos.

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