O PRR prometia modernizar Portugal, mas arrisca-se a ficar apenas na retórica e no papel.
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) prometia ser a grande oportunidade para modernizar a economia portuguesa, uma injeção de capital e visão estratégica capaz de transformar o país e colocá-lo na linha da frente da inovação europeia. Mas, na prática, o que se observa é um desfasamento gritante entre as ambições inscritas nos documentos oficiais e a realidade concreta das empresas que deveriam dar corpo a esse futuro.
O obstáculo não é falta de fundos, mas a incapacidade de gerar resultados com o investimento. A realidade das empresas portuguesas continua marcada por estruturas frágeis, processos ultrapassados e lideranças despreparadas. A economia vive há décadas de improviso, soluções de curto prazo e gestão
focada na sobrevivência, e o PRR apenas expõe essa fragilidade.
Departamentos de inovação, quando existem, são acessórios sem ligação à estratégia. Falta integração, continuidade e visão. É inovação de vitrine — bonita nos relatórios, irrelevante na prática.
O resultado é previsível: projetos que arrancam com entusiasmo naufragam em burocracia, relatórios intermináveis e ausência de articulação com os objetivos estratégicos. A maior dificuldade não está na execução técnica, mas na preparação das empresas para absorver investimento e gerir transformação.
Uma organização sem estratégia definida, sem objetivos mensuráveis e sem acompanhamento contínuo não pode esperar milagres de fundos europeus.
Mais grave ainda: ao canalizar recursos para empresas sem condições mínimas de sustentabilidade, o país perpetua um ciclo conhecido. Investe-se, mas não se transforma. Gasta-se, mas não se cresce. O PRR corre o risco de ser só mais uma oportunidade perdida, que alimenta relatórios mas não muda
a realidade.
E é aqui que se coloca a pergunta incómoda: queremos realmente modernizar a economia ou apenas gastar dinheiro europeu? Se a resposta fosse a primeira, falaríamos menos de alocação de verbas e mais de reformas estruturais: substituir lideranças acomodadas, exigir resultados e premiar quem
transforma, não quem sabe preencher formulários.
A modernização não se decreta, constrói-se. O dinheiro do PRR pode ser um catalisador, mas não substitui aquilo que falta de forma crónica em Portugal: cultura de planeamento, visão estratégica e capacidade de execução. E é precisamente aqui que se torna evidente a necessidade de estruturas de
gestão robustas, capazes de ligar a visão à prática, de acompanhar projetos de forma contínua e de transformar intenções em resultados. Hoje, já existem serviços especializados que oferecem essa competência de forma externa e flexível, ajudando as empresas a criar processos sólidos sem depender apenas de recursos internos que muitas vezes não possuem. Ignorar essa possibilidade é condenar-se a repetir os mesmos erros de sempre.
O PRR deveria ser encarado como a oportunidade de romper com esse padrão, mas arrisca-se a ser apenas mais um capítulo daquilo a que já podemos chamar a “modernização à portuguesa”: muita retórica, pouca transformação. O país não pode continuar a fingir que progride enquanto mantém alicerces frágeis. A verdadeira pergunta é: teremos coragem para encarar a fragilidade estrutural do nosso tecido empresarial ou vamos contentar-nos, mais uma vez, com a ilusão de modernização só no papel?