O grupo francês Klépierre detém e gere o maior portefólio de centros comerciais da Europa continental, combinando competências em gestão de ativos e desenvolvimento imobiliário. Os seus ativos estão localizados nas 40 maiores cidades da Europa, em centros populacionais com forte crescimento demográfico e económico. O portfólio total de ativos tem um valor de 20,2 mil milhões de euros. No primeiro semestre reportou que a receita líquida das rendas cresceu 5,3% em relação ao ano anterior.
Em Portugal detém o Parque Nascente (Porto), Espaço Guimarães e Aqua Portimão e é liderada, desde 2015, por Telmo Ferreira, o Head Country da Klépierre Portugal e que é também é membro da direção da Associação Portuguesa de Centros Comerciais.
Em entrevista ao Jornal Económico, para a rubrica semanal Decisor, Telmo Ferreira, diz que a Klépierre Iberia, em 2024, as vendas a retalho na Península Ibérica cresceram 3,4%.
Qual é o peso e relevância de Portugal para o grupo Klépierre?
Portugal é um mercado muito relevante para o Grupo Klépierre. Os três centros comerciais que gerimos no país — Parque Nascente, Espaço Guimarães e Aqua Portimão — são ativos estratégicos, localizados em zonas dinâmicas e com forte atratividade para as comunidades locais. Estes centros estão entre os polos comerciais mais importantes das respetivas regiões, não só em termos de oferta de retalho, mas também como espaços de convivência e serviços. Além disso, Portugal tem vindo a afirmar-se como um mercado sólido, com uma procura estável e um perfil de consumo alinhado com a nossa estratégia de oferecer experiências completas e diferenciadoras aos visitantes.
As receitas das rendas da Klépierre em Portugal também cresceram face ao ano anterior como no Grupo?
À semelhança do que aconteceu a nível de Grupo, em Portugal também registámos um crescimento nas receitas provenientes das rendas. Este resultado traduz a forte atratividade dos nossos centros comerciais e o trabalho contínuo que fazemos para garantir uma oferta diversificada, capaz de responder às necessidades dos consumidores.
Paralelamente, temos assistido a um aumento no número de visitantes, o que demonstra que os centros comerciais são cada vez mais valorizados, não apenas como espaços de consumo, mas também como destinos de lazer e convívio.
Estes indicadores confirmam que os nossos centros se mantêm como parceiros de referência para as marcas e como escolhas relevantes para os clientes.
Em Portugal a Klépierre detém o Parque Nascente (Porto), Espaço Guimarães e Aqua Portimão. Há planos para crescer o portfólio?
A Klépierre é uma empresa especializada na gestão de grandes centros comerciais e está presente em Portugal há cerca de 20 anos. A nossa perspetiva não é ter o maior número de centros, mas sim garantir que cada ativo seja líder na sua área de influência e ofereça uma experiência diferenciadora à comunidade.
Neste momento, a prioridade em Portugal é consolidar e reforçar a qualidade dos centros existentes modernizando os espaços e integrando novas experiências que reforcem a ligação às comunidades locais, cada uma com características próprias.
Embora o Grupo esteja atento a oportunidades estratégicas, a nossa aposta imediata passa por maximizar o potencial destes três centros.
Tem dados económicos recentes dos vossos centros comerciais?
Em número de visitantes anuais e evolução, posso dizer que os nossos centros comerciais recebem, em média, cerca de 1,1 mil milhões de visitas por ano. Temos 333 retalhistas. Em vendas/faturação em 2024, e a evolução face ao ano anterior, a Klépierre Iberia registou um aumento de 10,8% na receita líquida de rendas em 2023, atingindo 130 milhões de euros. Em 2024, as vendas a retalho na Península Ibérica cresceram 3,4%.
Em termos de áreas, o Parque Nascente (Porto) tem 66.370 m2 e 120 retalhistas; o Espaço Guimarães (Guimarães) tem 50.877 m2 e 104 retalhistas; e o Aqua Portimão (Portimão) tem 36.066 m2 e 109 retalhistas.
Tem sido noticiado que a Klépierre Portugal está a transformar os centros comerciais em espaços de bem-estar, inclusão e sustentabilidade. Quer explicar o que estão a fazer concretamente?
Esse é um eixo central da nossa estratégia. A Klépierre assume a sustentabilidade e o impacto social como pilares fundamentais do seu modelo de gestão, e tentamos traduzi-lo em várias iniciativas em Portugal.
No eixo da sustentabilidade ambiental, temos vindo a implementar medidas de eficiência energética e gestão responsável dos recursos. Na vertente social, desenvolvemos projetos que promovem a inclusão, como é o caso da Klépierre Academy, lançada recentemente em Portugal, com um piloto no Parque Nascente, para apoiar a empregabilidade de pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento. Além disso, apostamos em iniciativas culturais e de bem-estar, como o Bailarico no Parque (no Parque Nascente) ou os Aqua Fashion Days, um evento de moda no Aqua Portimão, que reforçam o papel dos centros como espaços de vida, mais do que apenas locais de compras. O nosso objetivo é que cada centro seja um motor de desenvolvimento local, onde comércio, comunidade e sustentabilidade caminham lado a lado.
Os centros comerciais deixaram de ser meros pontos de compras? Em que centros comerciais geridos pela Klépierre se está a operar essa mudança de conceito?
Sem dúvida. Os centros comerciais deixaram de ser apenas espaços transacionais para se assumirem como lugares de experiência, convívio e serviços. Em Portugal, essa transformação está em curso nos três centros da Klépierre, cada um com uma gestão adaptada às características da sua comunidade.
No Aqua Portimão, renovámos por completo o FoodHall, acrescentando mais diversidade de oferta, palco para concertos e atuações, área infantil e novos serviços.
No Parque Nascente, tornámo-nos pet friendly, criando uma galeria de arte em parceria com o CROAG para promover a adoção responsável de animais, iniciativa que já resultou em várias adoções. Já no Espaço Guimarães, realizámos o Guimarães Fashion Market, evento dedicado à moda e lifestyle, com forte foco na sustentabilidade e inclusão, que incluiu talks, workshops, upcycling e até pilates com cães.
Também desenvolvemos iniciativas a nível de Grupo que reforçam a nossa ambição de inclusão e bem-estar. Já referi a Klépierre Academy, focada na formação e integração de pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento, mas tivemos também a iniciativa da “Hora Serena”, implementada em todos os centros, que oferece diariamente um ambiente mais acessível e confortável a pessoas com Perturbações do Espetro do Autismo.
O nosso objetivo é que cada visita tenha valor. Acreditamos que esta abordagem aumenta a atratividade dos centros comerciais e consolida a sua relevância como destinos preferenciais para consumidores, marcas e investidores.
Os portugueses estão a aproximar-se mais dos centros comerciais ou pelo contrário a optar mais pelo comércio de rua? O consumo em centros comerciais está a aumentar ou a diminuir? Tem números atualizados do setor?
A tendência recente mostra um reforço da relevância dos centros comerciais, tanto em vendas como em tráfego, enquanto o comércio de rua apresenta sinais de recuperação nas grandes áreas metropolitanas (Lisboa, Porto). Em Portugal as vendas no retalho e a procura por espaços organizados mantêm-se resilientes: os índices de vendas no retalho têm apresentado crescimento (por exemplo, variações positivas em 2025 segundo dados oficiais). Em 2024 os centros comerciais portugueses bateram recordes de vendas, com um crescimento anual relevante em comparação com 2023. Dados de relatórios de mercado também mostram crescimento de vendas e tráfego em centros comerciais na Península Ibérica no período recente.
Resumindo, ambos os formatos coexistem e podem crescer em conjunto. Os centros comerciais reforçam a sua proposta experiencial e continuam a captar uma fatia significativa do consumo, enquanto o comércio de rua beneficia de dinamismo local nas grandes cidades. Mas é muito importante que as pessoas tenham esta opção de escolha, para também não terem uma sensação de que estão sempre nos mesmos locais, ou que não estão a ter novas experiências.
A gestão de centros comerciais é rentável?
Sim, a gestão de centros comerciais é uma atividade com elevado potencial de rentabilidade sustentável, mas também um grande desafio, dado o número de fatores que influenciam diretamente o desempenho. É essencial garantir uma experiência que combine um mix de lojas, uma gestão operacional ativa, eficiência energética e iniciativas que promovam maior tráfego e tempo de permanência dos visitantes.
A valorização do setor e o crescimento das receitas locativas têm sido visíveis a nível europeu e também no portefólio de grupos especializados. No caso da Klépierre, o relatório anual mais recente registou crescimento operacional e de receitas de rendas, confirmando um contexto favorável para operadores bem posicionados.
Ainda assim, a rentabilidade só é alcançada com gestão ativa, que vai desde renovações e rotatividade controlada até ao reforço da experiência do cliente, e com investimento contínuo em modernização, elementos que são determinantes para a valorização dos ativos no médio e longo prazo.
O boom das vendas online afetaram as receitas da gestão dos centros comerciais?
Houve, historicamente, um impacto inicial do crescimento do e-commerce nas dinâmicas de retalho, mas o panorama atual é de convergência e recuperação, com especial destaque para o período de pandemia, onde nos vimos impossibilitados de fazer compras em espaços físicos. No entanto, centros comerciais e retalhistas têm investido cada vez mais em omnicanalidade (click & collect, experiências em loja, eventos, serviços) e em gestão eficiente do mix comercial, o que tem permitido recuperar tráfego e vendas. Os relatórios de 2024/2025 mostram crescimento de vendas e de tráfego em centros comerciais na Península Ibérica e na Europa, refletindo uma correlação positiva entre transformação (phygital) e desempenho comercial.
É, por isso, fundamental sublinhar que o digital não veio substituir a experiência de compra física. Os consumidores continuam a valorizar a ida às lojas, o contacto direto com os produtos e a possibilidade de experimentar. O verdadeiro desafio está em integrar de forma complementar os dois formatos.
A Klépierre em Portugal tem um projeto que se chama Act4Good, onde trabalham as áreas da sustentabilidade e integração comunitária. Quer desenvolver mais sobre este projeto? Quais as metas?
O Act4Good é a estratégia de responsabilidade social corporativa da Klépierre, que orienta a forma como gerimos e desenvolvemos os nossos centros comerciais.
Baseia-se em quatro pilares fundamentais: alcançar a neutralidade carbónica, através da eficiência energética, da produção de energia renovável e da promoção da economia circular; servir as comunidades, transformando os centros em verdadeiros polos locais, com soluções relevantes e inclusivas; promover o crescimento das pessoas, não só dos nossos colaboradores, mas também das comunidades e parceiros com quem trabalhamos; e incentivar estilos de vida mais sustentáveis, estimulando escolhas de consumo responsáveis.
Em Portugal, para alcançar estes compromissos, temos vindo a desenvolver vários projetos alinhados com os quatro pilares do Act4Good. Entre eles reforço a Klépierre Academy e a Hora Serena, mas também iniciativas específicas de cada centro. No Espaço Guimarães, por exemplo, lançámos o projeto Respira Arte, que juntou arte e sustentabilidade ao desafiar artistas de todo o país a criarem obras originais com mensagens de compromisso ambiental. O trabalho vencedor foi exposto durante 12 meses numa tela de 85 metros quadrados na Avenida Conde Margaride, uma das zonas mais movimentadas da cidade.
Apostamos assim numa diversidade de iniciativas, desde projetos transversais do Grupo a programas locais, com o objetivo de reforçar continuamente o nosso compromisso com o desenvolvimento das regiões onde operamos.
Este mês lançaram a Klépierre Academy. Em que consiste exatamente e quais os objetivos?
A Klépierre Academy é um programa pioneiro em Portugal que pretende reforçar a empregabilidade e a integração no mercado de trabalho de pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento. Em parceria com a VilacomVida, criámos uma formação adaptada que combina competências pessoais e sociais com literacia digital, cidadania e preparação profissional. O programa culmina com uma feira de emprego, onde os participantes têm contacto direto com os retalhistas dos nossos centros. O objetivo é simples, mas transformador: dar oportunidades reais de formação e inserção laboral a quem enfrenta mais barreiras, ao mesmo tempo que aproximamos os nossos centros da comunidade e dos seus desafios sociais.
Os consumidores estão a mudar, com maiores preocupações com a saúde e bem-estar. É isso que justifica que haja uma oferta dos centros comerciais vai além do retalho? Vai ser cada vez mais comum termos clínicas de saúde, espaços culturais, iniciativas ambientais?
Sem dúvida. Nos nossos centros comerciais temos integrado clínicas médicas, ginásios, espaços culturais e programas de sensibilização ambiental, respondendo às expectativas crescentes dos consumidores.
Procuramos proporcionar uma experiência que vá além da compra, permitindo que a visita ao centro se alinhe com o dia a dia das famílias, combinando conveniência e qualidade de vida. Acreditamos que esta tendência irá reforçar-se, e que o futuro do retalho passa por criar uma oferta híbrida e integrada, que responda às necessidades reais das comunidades.
Qual a vantagem de estar inserido num grupo global como o Klépierre?
A principal vantagem é a escala e a partilha de conhecimento. Estar inseridos num grupo líder europeu permite-nos aceder a melhores práticas internacionais, implementar soluções inovadoras com rapidez e atrair operadores globais. Ao mesmo tempo, conseguimos adaptar essas soluções ao contexto local, garantindo que cada centro comercial responde às necessidades da sua comunidade.
Além disso, a solidez financeira e estratégica do grupo Klépierre dá-nos capacidade para investir em modernização, sustentabilidade e inovação, assegurando que os nossos ativos em Portugal permanecem competitivos e relevantes a longo prazo.
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