Durante a recente crise política, em que António Costa ameaçou demitir-se, quem perdeu foram os professores. Na contabilidade do jogo Costa ganhou na 1ª parte, enquanto o 2º tempo ainda decorre e os partidos do “centrão” se encontram empatados. “Em política o que parece é”, lá dizia o velho ditador.

E venceu (nas palavras de Fernando Pessoa) a melhor operação de marketing e essa foi a daqueles que pensaram na ameaça de demissão. Tudo isso ficou bem visível pela ronda feita junto dos opinion makers. Cerca de 80% foram favoráveis a Costa/Centeno, aliás os mesmos que uns anos antes também tinham sido favoráveis a Passos/Gaspar. Claramente, o Governo recebeu o input de comentadores de todas as televisões e de boa parte dos jornais, e o país ficou com a fotografia de quem apoia quem.

Entretanto surgiu um outro opositor, a UTAO – Unidade Técnica de Apoio Orçamental, e de imediato foi apelidada de mentirosa porque só o statu quo sabe fazer contas. Por seu lado, o PSD não tem comunicadores e mesmo o opinon maker que tradicionalmente defende as posições de Rui Rio perdeu a credibilidade.

E no rescaldo da luta dos professores, que se transformou numa luta tribal entre políticos e que acabou por ser a melhor forma de virar o eleitorado contra uma classe profissional, ficam quase todos na mesma, geringonça, PSD e CDS, PCP e Bloco. O único que saiu reforçado foi Mário Nogueira – como líder dos professores. Há pois uma clara ansiedade para ver até que ponto a crise dos professores retirou ou acrescentou votos.

Para os professores foi a assunção de que terão menos rendimento e poderão ter perdido na reputação. Basta lembrarmo-nos do ranking das profissões onde, tradicionalmente, os polícias e professores surgem na linha da frente em termos de credibilidade, e bem no fundo aparecem políticos e juízes. Ora, este ranking pode ter ficado irremediavelmente comprometido com a classe média a virar-se contra os professores privilegiados. A técnica de Costa já tinha sido usada por Passos.

Os professores sentem-se injustiçados. Os mais antigos e qualificados foram ultrapassados por profissionais com apenas meia dúzia de anos de serviço, mas com a portaria dos mestrados a fazê-los subir pontos no escalão. Claro que haverá greves de zelo, contudo as injustiças sentidas são grandes quando as contas dos professores publicadas em blogues dão conta de um custo líquido anual de 300 milhões de euros na contagem integral do tempo de serviço e que compara ao custo de incumprimentos como os do comendador Berardo, para não falar noutros.

Os professores querem um novo estatuto de carreira docente: pode não se incluir o mérito mas apenas a contagem automática, tipo carneirada. No caso dos professores universitários o estatuto está congelado há dois anos, depois da promessa do ministro da tutela de ter tudo pronto até final de 2018. Ora, mesmo que algo fosse aprovado viriam as cativações pelo ministro mais aplaudido da Europa.

As mais recentes sondagens dão um resultado simples. Quem vota nos partidos do “centrão” são os fiéis, porque quem não é fiel fica em casa.