O turismo e o imobiliário são a força motriz e o dilema que dividem Grândola. O concelho continua a receber milhões de euros gerados por estes setores locomotiva, mas os políticos locais enfrentam enormes dificuldades para transformar essa dinâmica em qualidade de vida sustentável.
O lado bom deste problema salta à vista: haverá mais emprego, haverá melhores salários e mais opções profissionais na região – e isso tem de ser valorizado. Trabalhar ao pé de casa, não ser obrigado a ir viver para outra parte do país ou até ter de emigrar, como tantas outras pessoas, são vantagens poderosas.
As desvantagens, no entanto, também têm peso: com o aumento previsto do número de turistas, o volume de investimento pode facilmente sobrepor-se à vida das pessoas da região. Esta lógica de crescimento acelerado confronta-nos com o risco clássico da maldição dos recursos: quando o valor económico aumenta mais do que a capacidade institucional de controlo, o território pode ser capturado pela especulação e pelo lucro fácil, descartando e comprometendo de vez o equilíbrio social e ambiental. A previsão de alcançar entre 25 e 30 mil camas turísticas – o dobro da população – desafia o limite definido pelo PROT-A e coloca Grândola perante a obrigação de proteger o território de excessos deste tipo que dificilmente são reversíveis.
Mas o caso é ainda mais bicudo. O concelho depende quase exclusivamente de água subterrânea, com uma bacia hidrográfica já em seca extrema. As projeções são claras: menos precipitação e aquíferos menos recarregados num contexto em que projetos agrícolas intensivos, empreendimentos turísticos e campos de golfe – e até uma mina – podem pôr em risco a sustentabilidade hídrica; os candidatos autárquicos, sem exceção, dizem que vão controlar os grandes empreendimentos, rever o PDM e criar habitação acessível.
Mas sabemos todos o que valem as promessas num contexto em que a capacidade técnica da autarquia é muito limitada. A desigualdade de meios entre promotores e autarquia não oferece, infelizmente, a necessária base de confiança para que o interesse público seja mesmo defendido. A Comporta exige, portanto, o acompanhamento do Estado central.