De Espanha, nem bons ventos, nem boa energia, pelo menos foi assim no dia 28 de abril de 2025. O relatório hoje divulgado em Bruxelas prova que a origem do apagão foi em Espanha.
Foi o pior apagão europeu em 20 anos e destruiu os planos de defesa da rede elétrica em Espanha e Portugal. Foi causado por tensão elevada, sendo o primeiro apagão deste tipo, pois são normalmente causados por tensão baixa.
O Governo português reagiu hoje ao relatório. “O apuramento dos factos deixou claro que o apagão aconteceu em Espanha afetando Portugal”, afirmou Maria da Graça Carvalho. “Não houve nenhum desligamento de centros eletrotprodutores portugueses até que o sistema colapsou”.
“O controlo de tensão português correu bem e o comportamento registado face ao que é expectável para a resiliência do sistema elétrico, esteve sempre bem”, acrescentou.
“As debilidades sinalizadas no relatório, não se aplica ao nosso país”, sublinhou.
Sobre o controlo da tensão, explicou que já é feito em Portugal nas centrais e térmicas e solares, a partir de 2018.
Resumindo, “há sempre lições a tirar”, segundo a ministra que apontou para os anúncios já feitos, como o país passar de 2 para 4 centrais com arranque autónomo a partir de 1 de janeiro de 2026.
E também as 30 medidas no valor de 300/400 milhões de euros já anunciadas com o objetivo de “aumentar a resiliência do sistema elétrico”.
No final de setembro, sinalizou, também foi aprovado um despacho para alocar 25 milhões de euros para reforçar a resiliência de infraestruturas críticas no setor da saúde. E também o lançamento de um concurso de instalação de painéis solares e baterias, também para dar mais resiliência elétrica na área da saúde. Mais 137 milhões de euros anunciados para reforçar a rede.
A ministra também adiantou que o novo plano de desenvolvimento da rede de distribuição de eletricidade 2026-2030 (que prevê investimentos de 1,6 mil milhões de euros) já seguiu para o Parlamento, que terá de dar um parecer não-vinculativo ao documento, que já foi avaliado positivamente pela DGEG e pela ERSE.
Pior apagão europeu em 20 anos destruiu plano de defesa de Portugal
“Uma cascata de voltagem elevada”, foi assim que o evento foi qualificado por um dos peritos europeus.
Klaus Kaschnitz destacou que foi o “blackout mais severo na Europa nos últimos 20 anos e o primeiro deste tipo. Nunca aconteceu na Europa, não encontramos nenhuma menção deste tipo”, provocado por alta voltagem. “Este é um novo território, precisamos de tempo”.
Em menos de 2 minutos, o apagão espalhou-se a toda a Espanha e depois a Portugal. “Os planos de defesa foram incapazes de o travar devido à cascata de alta voltagem. Só foi possível parar na fronteira com França e impedir de se espalhar ao resto da Europa”, explicou Damian Cortinas, presidente do conselho dos operadores de sistema de transporte (ENTSO-E).
Quais os próximos passos a dar? Os peritos vão proceder à análise da “performance do plano de defesa e possíveis melhorias”.
Mais. Avaliar os instrumentos de gestão de voltagem disponíveis; analisar os vários passos da fase de restauração; avaliação do comportamento dos utilizadores da rede no controlo de voltagem.
A recuperação foi feita com a ajuda de França e de Marrocos que começaram a injetar eletricidade na rede espanhola, com Portugal a ter de arrancar sozinho inicialmente com duas centrais com mecanismo de black-start e depois com a ajuda de Espanha.
As energias renováveis tiveram impacto? Não, segundo o relatório preliminar da ENTSO-E (o final será apresentado no primeiro trimestre do próximo ano).
“A questão não é serem renováveis. Precisamos de ter controlo de voltagem na produção, tanto nas renováveis como na produção clássica. Não é uma tecnologia complicada. Vamos exigir mudanças na regulação. A produção não tem requerimentos para controlo de voltagem, quer seja renovável ou não. É mais uma questão de tamanho da produção”, segundo Damian Cortinas que explicou que a voltagem tem uma “magnitude local, não viaja”.
Por isso, a ENTSO-E vai “exigir mudanças na regulação” para instalar controlos de voltagem no sistema.
Sobre quem tem a culpa, o responsável considera que o “importante é impedir acontecimentos destes no futuro, não é quem tem a culpa”.
Já Klaus Schnitz destacou que os “apagões acontecem normalmente com voltagem baixa, com voltagem alta é algo novo que nunca aconteceu. Isto precisa de ser resolvido localmente, perto do local onde acontece.
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