O Orçamento do Estado para 2026 foi apresentado ontem e as eleições autárquicas são depois de amanhã, mas o facto mais importante do ano, com fortíssima influência na política e na economia surge de outro lado muito menos transparente e com poder desmesurado: vem do Ministério Público. A decisão de investigar durante três anos o juiz Ivo Rosa, a ovelha negra dos magistrados – segundo parte do MP… – é assustadora e sinistra. A denúncia anónima foi outra vez a desculpa esfarrapada que justificou o vasculhar da vida deste homem, depois deste filme já ter acontecido a vários políticos e não só.

A investigação persecutória a Ivo Rosa só pode estar relacionada com a forma como lidou com a instrução do processo a José Sócrates. Apesar de o Tribunal da Relação ter esmagado a tese – talvez criativa – do juiz, fica a mensagem para todos os outros que se opuserem ao pelotão de fuzilamento judicial (a acusação) de alguns procuradores: viremos atrás de vocês, tenham muito cuidado com o que decidem ou dizem. Pensem lá: que vida resiste a três anos de espionagem ininterrupta?

Já sabíamos que em Portugal se prendia para investigar, mas isto agora atinge até juízes com a desculpa esfarrapada de que ninguém está acima da lei, o bordão favorito dos populistas. O argumento de que é muito difícil investigar os poderosos é exato e também inquietante, exige meios e liderança, mas o que está a acontecer e que esta semana atirou a matar a Luís Montenegro revela um país refém dos objetivos sinistros de alguns procuradores – objetivos sem controlo hierárquico ou fiscalização.

Não responsabilizo o atual PGR pelo ocaso, ele chegou há pouco tempo e apanhou pela frente uma casa desgovernada. A criminalidade existe e tem de ser combatida, mas que haja controlo e limites transparentes. Já caiu um primeiro-ministro, já se enxovalharam outros políticos e a espiral de horrores continua. Não subscrevo o Manifesto dos 50 (pela Justiça), onde encontro figuras suspeitas, mas receio que a via rápida para levar o Chega ao poder nos torne um país de gente apavorada e ainda mais subserviente. Um país de denúncias, espiões, violação de direitos fundamentais e falsidades grotescas. Nenhuma economia sobrevive a este clima de terror.