António Henriques é o CEO do Bison Bank (ex-Banif Banco de Investimento) que está em vias de se tornar no primeiro criptobanco em Portugal. A instituição financeira aguarda a transposição para a ordem jurídica interna para integrar a oferta direta de criptoativos.
O Regulamento MiCA [Regulamentação dos Mercados de Criptoativos da União Europeia], cuja lei de execução para a ordem jurídica interna aguarda aprovação pela Assembleia da República, prevê a possibilidade de os bancos exercerem diretamente a atividade com criptoativos e por isso o banco quer incorporar a atual atividade da sua subsidiária Bison Digital Assets e funcionar em pleno como o primeiro criptobanco em Portugal.
Em entrevista ao Jornal Económico, a propósito da rubrica “O Decisor da Semana”, o CEO diz que está otimista relativamente às perspetivas de desenvolvimento do Bison Bank, com a inclusão da atividade de criptoativos.
Defende que “à medida que a indústria de criptoativos amadurece, a sua correlação com os mercados financeiros tradicionais, incluindo ações, tem aumentado” e diz que “esta correlação é especialmente notória durante períodos de stress de mercado, incerteza geopolítica ou alterações na política económica que envolvam taxas de juro e inflação”. Mas está otimista dizendo que “o sentimento geral do mercado para 2025 é muito positivo”.
O Bison Bank quer incorporar atividade de criptoativos da sua subsidiária Bison Digital Assets e funcionar em pleno como o primeiro criptobanco em Portugal. Para isso vai pedir ao Banco de Portugal autorização para incorporar a atividade de criptoativos da sua subsidiária Bison Digital Assets e tornar-se no primeiro criptobanco a operar no mercado nacional. Quando é que esperam enviar o pedido ao Banco de Portugal?
O Regulamento MiCA, cuja lei de execução para a ordem jurídica interna aguarda aprovação pela Assembleia da República, prevê a possibilidade de os bancos exercerem diretamente a atividade com criptoativos. Neste contexto, o pedido de autorização para registo do Bison Bank como prestador de serviços de criptoativos será enviado ao Banco de Portugal na lógica de incorporação da Bison Digital Assets, com a entrada em vigor da lei de execução.
A decisão do Banco de Portugal será dupla — sobre a fusão e o novo registo de prestador de serviços de criptoativos — e, se aprovada, permitirá ao Bison oferecer serviços integrados e afirmar-se como pioneiro no setor financeiro e digital em Portugal. Está optimista? Em que é que essa integração muda a atividade do Bison Bank?
Sim, estamos muito otimistas relativamente às perspetivas de desenvolvimento do Bison Bank, com a inclusão da atividade com criptoativos. A integração da Bison Digital Assets no Bison Bank é um passo natural e estratégico, que nos permitirá obter sinergias e ganhos de eficiência importantes. Este movimento vai reforçar o nosso posicionamento como um banco pioneiro e na vanguarda da inovação e tecnologia em Portugal, em plena conformidade com o novo enquadramento regulatório europeu.
“Muito brevemente estaremos a apresentar os resultados de 2025, que certamente reforçarão a tendência de evolução positiva que temos vindo a demonstrar”
Quais são os últimos resultados do Bison Bank? E da BisonDigital Assets?
Em 2024, o Bison Bank manteve a tendência de evolução positiva do seu desempenho financeiro, fruto da consolidação do seu modelo de negócio. O lucro líquido ascendeu a 2,5 milhões de euros, face aos 0,6 milhões de 2023, e o produto bancário cresceu 42% para 12,1 milhões de euros. Superámos os 4.300 clientes, que atualmente já são cerca de 7.000, e atingimos 3,3 mil milhões de euros em ativos sob gestão, mantendo um rácio de solvabilidade Tier 1 de 37,4%, um dos mais elevados do setor. Adicionalmente, a nossa subsidiária Bison Digital Assets também alcançou marcos importantes: resultados positivos com apenas 2 anos de atividade, um volume transacionado de 130 milhões de euros e triplicação da sua base de clientes para mais de 150. Muito brevemente estaremos a apresentar os resultados de 2025, que certamente reforçarão a tendência de evolução positiva que temos vindo a demonstrar.
A entrada em vigor do regulamento europeu MiCA, permite às instituições financeiras prestar serviços de criptoativos. Portugal está atrasado? O que falhou? Em que é que isso afecta a competitividade da atividade dos operadores de criptoativos?
A Europa assumiu uma posição pioneira na regulação dos criptoativos com o MiCA. No entanto, o processo de normalização e implementação nos vários países-membros tem ocorrido a ritmos diferentes. Esta situação leva naturalmente a uma perda de vantagem competitiva para os países mais atrasados, incluindo Portugal, bem como para outros países fora da Europa, como os Estados Unidos, que estão a avançar rapidamente com a adoção das suas próprias estratégias regulatórias. Assim, é crucial que a implementação em Portugal da legislação decorrente do MiCA ocorra agora de forma célere, para que o país não fique ainda mais para trás na corrida neste mercado inovador.
Quando o Bison Bank se tornar num criptobanco que produtos que irá comercializar? São os mesmos que a Bison Digital Assets disponibiliza?
A estratégia inicial passa por disponibilizar na oferta direta do Bison Bank os serviços atualmente prestados pela Bison Digital Assets de depósito, transferência e troca de criptoativos, complementados pela inclusão dos criptoativos no universo de instrumentos disponibilizado aos nossos clientes no âmbito da atividade de consultoria para investimento.
Independentemente desta operação, continuaremos a explorar e desenvolver novas soluções inovadoras na área de ativos digitais e tecnologia blockchain, reforçando o nosso compromisso com a evolução do setor.
Em termos de volume de negócios qual é a principal atividade do Bison Bank e quanto é que esperam que os criptoativos venham a representar na atividade do banco?
As principais áreas de negócio do Bison Bank são o WealthManagement, Depositary & Custody e Investment Banking. A aposta nos criptoativos é um pilar estratégico fundamental para o futuro e para a diferenciação do banco. Embora a indústria de criptoativos represente ainda uma percentagem minoritária do PIB global (estimada entre 1% e 3%), é uma área com um enorme potencial de crescimento na qual o Bison Bank está posicionado de forma pioneira. A nossa expectativa é que o peso da atividade com criptoativos no Bison Bank vá crescendo e ganhado maior relevância com o tempo, à medida que a adoção mais generalizada destes ativos pelas sociedades e economias vá aumentando.
“A indústria de criptoativos representa ainda uma percentagem minoritária do PIB global (estimada entre 1% e 3%), mas é uma área com um enorme potencial de crescimento”
Portugal tem algumas resistências às criptomoedas? Os bancos portugueses estão a evitar estes ativos?
Sim, existe a perceção de que a maioria dos bancos em Portugal, e mesmo a nível internacional, ainda adota uma postura de grande prudência ou mesmo de resistência em relação aos criptoativos. Existem poucos bancos que aceitam e oferecem gestão de criptoativos, o que cria dificuldades de acesso a serviços bancários para clientes que já operam neste ecossistema. Não obstante, acreditamos que a maioria dos Bancos estão a trabalhar este ativo e esta tecnologia na retaguarda, e que tal deverá acelerar com a aprovação da lei de execução do MiCA. O Bison Bank já deu esse passo e posiciona-se, precisamente, como uma alternativa e uma ponte para os clientes.
A CEO do Bankinter, recentemente, fez uma separação entre as stablecoins e outras criptomoedas, salientando que as stablecoins estão respaldadas por ativos reais, pelo que o banco está a analisar, mas disse que não vai emitir nenhuma stablecoin. Sobre as restantes criptomoedas, não respaldadas por ativos reais, reconheceu que há um aumento da procura, mas ainda o banco não tem nada previsto nesta área. Há uma resistência também em Espanha? O Bison Bank vai satisfazer essa procura por criptomoedas não garantidas por ativos? E vai emitir stablecoins?
A posição do Bison Bank é clara: oferecemos uma gama de serviços que inclui tanto criptomoedas não colateralizadas, como Bitcoin e Ethereum, para satisfazer a procura do mercado, como também o acesso a stablecoins reguladas como USDC e EURC. Mas concordamos que, conceptualmente, são ativos diferentes que pretendem atingir objetivos e resolver problemas diferentes.
Estamos em análise contínua do mercado, avaliando diferentes oportunidades de oferta e potenciais parcerias, incluindo iniciativas na área da tokenização. O nosso objetivo é garantir que qualquer evolução seja feita com rigor, inovação e em conformidade com a regulação aplicável.
O ano começou com o pé direito para os cripotoativos. A eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA prometia caminho livre para estes ativos digitais continuarem a crescer e, durante grande parte do ano, foi mesmo isso que aconteceu. A aprovação de legislação favorável a uma maior institucionalização do setor levou a capitalização de mercado de todas as moedas virtuais a aproximar-se dos 4,4 biliões de dólares, O pico foi atingido a 6 de outubro, mas, desde aí, o valor de todas as criptomoedas caiu, depois de um crash ligado às tensões entre a China e os EUA. Desde então, operadores têm evitado o mercado? Está optimista em relação às criptomoedas?
O sentimento geral do mercado para 2025 é muito positivo. O ano de 2024 foi um dos mais positivos na história das criptomoedas, em termos de evolução de mercado, marcado, entre outros, pelo lançamento de ETFs de Bitcoin nos EUA por assets managers de grande dimensão e pela aprovação do MiCA na Europa. As perspetivas apontam para uma contínua expansão de produtos de investimento regulados, um aumento significativo da adoção institucional e desenvolvimentos importantes no setor de Finanças Descentralizadas (DeFi). Apesar da volatilidade inerente a este mercado, o Bison Bank está otimista e acredita que a educação e a agilidade, num contexto regulado, são fundamentais para navegar neste setor.
Qual a relação entre o valor de mercado das criptomoedas e as ações de tecnologia de alto desempenho, como Palantir e Nvidia?
Sim, existe uma correlação cada vez mais pronunciada. À medida que a indústria de criptoativos amadurece, a sua correlação com os mercados financeiros tradicionais, incluindo ações, tem aumentado. A Bitcoin, em particular, tem demonstrado uma tendência para se mover em conjunto com os índices de alta tecnologia, como o Nasdaq. Esta correlação é especialmente notória durante períodos de stress de mercado, incerteza geopolítica ou alterações na política económica que envolvam taxas de juro e inflação.
Está otimista em relação ao Euro Digital?
O projeto do Euro Digital enfrenta desafios significativos. Para que tenha sucesso, é fundamental que apresente uma proposta de valor clara para os cidadãos e que seja acompanhado de uma comunicação eficaz. Atualmente, um modelo híbrido, que integre as vantagens das stablecoins privadas reguladas no sistema financeiro tradicional, parece ser uma abordagem mais ágil e com maior potencial para preencher as lacunas que as Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDC), como o Euro Digital, ainda não conseguem resolver.
“O projeto do Euro Digital enfrenta desafios significativos. Para que tenha sucesso, é fundamental que apresente uma proposta de valor clara para os cidadãos”
Qual a diferença entre o Euro Digital e uma Bitcoin por exemplo?
A principal diferença reside na sua natureza. O Euro Digital seria uma Moeda Digital de Banco Central (CBDC), ou seja, seria emitido e garantido diretamente pelo Banco Central Europeu. Funcionaria dentro do sistema financeiro tradicional, com um risco de crédito alinhado com o da Zona Euro. O Bitcoin, por outro lado, é uma criptomoeda descentralizada, o que significa que não é emitida nem controlada por nenhuma autoridade central. Opera na sua própria rede blockchain, com um valor determinado exclusivamente pela oferta e procura no mercado.
O Bison investe em literacia financeira para os portugueses não terem medo dos criptoativos?
Sim, estamos fortemente empenhados na promoção da literacia financeira. Acreditamos que a educação é fundamental para que os investidores possam tomar decisões informadas e conscientes. Um exemplo claro deste compromisso é a nossa parceria com o Doutor Finanças, através da iniciativa “Banco de Horas”, com a qual já formámos mais de 2.000 jovens em Portugal. Em 2025, esta parceria foi alargada para incluir cursos certificados e um módulo específico dedicado a investimentos e ativos digitais.
O Bison Bank, nasceu em 2018 após a aquisição do Banif – Banco de Investimento, pelo chinês Bison sediado em Hong Kong. Os acionistas estão contentes com a atividade do Bison em Portugal?
A estabilização do modelo de negócio, materializada na evolução positiva da atividade do Bison Bank, com um lucro em 2024 que quase quadruplicou e um crescimento robusto em todas as métricas — clientes, ativos sob gestão e produto bancário —, bem como o facto de a subsidiária Bison Digital Assets ter atingido o break-even em apenas dois anos, são um claro indicador do sucesso da estratégia e da operação em Portugal. Estes resultados demonstram a concretização da visão estratégica e, naturalmente, são motivo de grande satisfação para os acionistas.
O que considera que é a vantagem competitiva do Bison Bank em Portugal?
A nossa vantagem competitiva assenta numa combinação única de fatores que nos distingue no mercado. Destacamo-nos, desde logo, pelo nosso posicionamento internacional único, com um foco quase exclusivo em clientes internacionais de elevado rendimento médio, e por atuarmos como uma ponte estratégica com Portugal. A isto soma-se a nossa aposta pioneira na inovação tecnológica, sendo o único banco em Portugal e um dos poucos da Europa com uma subsidiária licenciada para operar com criptoativos. A nossa atuação em nichos de mercado permite-nosoferecer um serviço altamente diferenciado, sempre centrado no cliente.
Qual a característica que considera essencial para ser um bom gestor? Em que citação se revê?
Referi recentemente na conferência anual do Bison Bank em Portugal que “quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável”. Acredito muito que essa seja a característica essencial para um bom gestor, adicionada de uma outra ainda mais conhecida, que é trabalhar muito.
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